“O Papa salvou Lula da desesperança”: Janja chora ao lembrar cartas trocadas na prisão e revela impacto da morte de Francisco

Na Folha de São Paulo

Primeira-dama conta que presidente escreveu ao pontífice após morte do neto e diz ter fechado rede social após ataques ao líder da Igreja

Por volta das 8h da manhã da segunda-feira (21), a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, acordou com o celular cheio de mensagens. Uma delas, da esposa do embaixador brasileiro em Roma, confirmava o que ela já temia: o papa Francisco havia morrido.

Em entrevista exclusiva à coluna, Janja não conteve as lágrimas ao relembrar momentos vividos ao lado do pontífice — encontros pessoais, cartas trocadas enquanto Lula estava preso e até a última imagem do papa na sacada da Basílica de São Pedro, no domingo de Páscoa.

“Foi o papa quem ajudou o Lula a não perder a fé na prisão, quando o neto dele morreu”, disse, referindo-se a Arthur, de apenas 7 anos. “Ele escreveu uma carta, e a resposta veio logo. Aquela mensagem espiritual foi um sustento para ele num momento de total desesperança.”

“Francisco segurou minha mão e disse: só se olha alguém de cima quando é para ajudar a levantar”

Janja lembrou de uma das falas mais marcantes que ouviu do papa em um encontro reservado, em fevereiro: “Ele segurou minha mão e disse que só se pode olhar alguém de cima para baixo quando é para ajudá-lo a se levantar”. A frase, afirma, “vai ficar para sempre” em sua memória.

A ligação espiritual e política entre o casal presidencial e o papa se intensificou após a prisão de Lula, em 2018. Segundo Janja, Francisco tratava a detenção como “prisão política” — tanto que a primeira viagem internacional do petista após ser solto foi para encontrá-lo no Vaticano.

Ataques ao papa e fechamento do Instagram

A primeira-dama também revelou ter fechado seu perfil no Instagram após ler comentários desejando a morte de Francisco. “Li coisas absurdas, que me abalaram emocionalmente. Fechei para proteger minha saúde mental e respeitar quem me acompanha”, justificou.

“Enquanto me xingam, tudo bem. Mas desejar a morte do papa? Foi demais. É o tipo de ódio que não podemos normalizar.”

Dor da pandemia e o simbolismo da Praça São Pedro

Janja fez ainda um paralelo entre o papa e a dor pessoal da perda da mãe, vítima da Covid. Disse que a imagem de Francisco caminhando sozinho na Praça São Pedro, durante a pandemia, é a que mais a emociona. “Minha mãe morreu sozinha, e aquela imagem representa todas as perdas que não puderam ser despedidas.”

Legado e sucessão

Sobre o futuro da Igreja, Janja diz esperar um sucessor que mantenha o legado de Francisco: “um papa voltado aos pobres, às mulheres, à paz”. E reafirma a importância de sua voz feminina na luta contra a fome e pelas causas sociais: “Ele me disse que precisamos das mulheres nos lugares de decisão”.

Ela e Lula devem embarcar para Roma na quinta-feira (24), para o funeral do pontífice, marcado para sábado. “Vamos levar o carinho dos brasileiros, inclusive os que não são católicos, mas respeitam o homem que ele foi. Francisco deixa um vazio — mas também um caminho a ser seguido.”

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