Crise de abusos explode no conclave: Igreja admite vergonha histórica e teme novo fracasso

Após décadas de omissão e encobrimento, os cardeais que escolhem o sucessor de Francisco são obrigados a enfrentar a maior ferida da Igreja: a epidemia de abusos sexuais.

O conclave que começará em 7 de maio, na Capela Sistina, carrega o peso de uma instituição que durante décadas silenciou e protegeu estupradores de crianças. Agora, os próprios cardeais reconhecem: acabar com a cultura de abuso e impunidade será tarefa inescapável para o próximo papa.

Em comunicado, o Vaticano admitiu que a evangelização, a relação com outras religiões e, principalmente, o combate aos abusos dominam a agenda de urgências.

“Proteger as crianças deveria ser a obrigação mais sagrada do novo papa. A segurança delas — e a autoridade moral da Igreja — estão em jogo”, alertou Anne Barrett Doyle, da ONG Bishop Accountability, que rastreia casos de violência clerical.

Um histórico de horror

Francisco, morto na semana passada, avançou mais que seus antecessores, mas carregou também seus próprios erros.

Logo no início de seu papado, em 2018, ele provocou revolta ao defender um bispo chileno acusado de acobertar abusos. Pressionado, admitiu “graves equívocos” e exigiu a renúncia de todo o episcopado chileno — um gesto histórico, mas que expôs a profundidade do problema.

O papa também puniu o cardeal americano Theodore McCarrick, um predador sexual histórico, expulso após condenação no tribunal do Vaticano. McCarrick morreu no começo deste mês, sem cumprir pena civil, aos 94 anos.

Em 2019, Francisco decretou o fim do sigilo pontifício para casos de abuso e obrigou que suspeitas fossem reportadas dentro da própria Igreja. Mas as vítimas denunciaram a falta de transparência: o Vaticano continua sem obrigar que crimes sejam denunciados à Justiça civil, protegendo clérigos em países onde a lei é mais branda.

O sigilo da confissão, usado há décadas para blindar criminosos, também permanece intocável.

Sem espaço para mais escândalos

Vítimas e organizações internacionais agora exigem mudanças reais, não discursos.

“Queremos nomes, documentos, expulsões definitivas. Não há mais espaço para retórica vazia”, criticou Doyle.

A organização Snap, que reúne sobreviventes de abuso clerical, classificou o último pacote de reformas do Vaticano como “uma meia medida vergonhosa” e denunciou que a Cúria ainda oculta provas e protege culpados.

Para aumentar a pressão, foi lançado o site ConclaveWatch.org, que monitora o passado dos cardeais em relação a casos de abuso e encobrimento.

“Três papas protegeram pedófilos. Um quarto seria a sentença de morte moral da Igreja”, afirma Doyle.

O próximo papa herdará não apenas uma crise de fé — mas também a necessidade urgente de limpar uma história de horror que a Igreja, por tanto tempo, tentou esconder.

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