Carlos Lupi cai após escândalo bilionário no INSS: “Não fui omisso”
Ex-ministro da Previdência pediu demissão após pressão sobre fraude que atingiu milhões de aposentados.

O ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, pediu demissão nesta sexta-feira (2.mai), dias após vir à tona um escândalo bilionário de fraudes contra aposentados e pensionistas no INSS. O caso, investigado pela Polícia Federal e pela Controladoria-Geral da União (CGU), envolve prejuízo estimado de R$ 6,3 bilhões.
Lupi estava à frente da pasta desde janeiro de 2023. Em publicação na rede X (antigo Twitter), afirmou que seu nome não aparece nas investigações e que sempre apoiou os órgãos de controle. “Espero que as investigações sigam seu curso natural, identifiquem os responsáveis e punam, com rigor, aqueles que usaram suas funções para prejudicar o povo trabalhador”, escreveu.
Em nota, Lupi agradeceu aos mais de 20 mil servidores do INSS e do ministério. “Homens e mulheres que sustentam, com dedicação, o maior programa social das Américas”, afirmou.
O que levou à queda de Lupi
A crise se agravou após a revelação de que o ministro foi alertado em junho de 2023 sobre a explosão de denúncias envolvendo descontos indevidos nos benefícios de aposentados. Segundo atas do Conselho Nacional da Previdência Social, Lupi adiou qualquer providência imediata sob justificativa de que era necessário um levantamento mais preciso.
À imprensa, o ex-ministro confirmou que recebeu o aviso, mas alegou que o alto volume de beneficiários — cerca de 6 milhões — dificultava a resposta rápida. A primeira medida concreta só veio dez meses depois, em março de 2024.
Mesmo com a pressão, Lupi negou omissão:
“Não fui omisso em nada. Se tem instituições que fraudaram e roubaram aposentados, então nós temos o dever de defendê-los.”
O esquema: fraudes, falsificações e descontos ilegais
A operação da PF batizada de Sem Desconto revelou que associações de classe estavam realizando descontos diretamente na folha de pagamento de aposentados — supostamente para serviços como convênios com academias ou assessoria jurídica — sem consentimento dos beneficiários.
Segundo a CGU, assinaturas eram falsificadas e os dados dos aposentados usados sem autorização. As primeiras investigações começaram em 2023 e, com indícios de crime, a CGU acionou a PF no início de 2024.
Na operação, foram cumpridos seis mandados de prisão e 211 buscas e apreensões, além do bloqueio de mais de R$ 1 bilhão em bens.
Saída em meio a racha político
A demissão de Lupi acontece num momento delicado para o governo. O PDT, partido presidido por ele, comanda também o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional, ocupado por Waldez Góes. A permanência da legenda na base do governo Lula pode ser reavaliada.
Antes de comandar a Previdência, Lupi já havia sido ministro do Trabalho entre 2007 e 2011, nas gestões Lula e Dilma Rousseff. Com sua saída, o Palácio do Planalto corre para conter danos e evitar novos desgastes num escândalo que atingiu em cheio a confiança em um dos pilares do sistema de proteção social brasileiro.