Investigação revela 35 mil queixas sobre empréstimos no INSS; rombo pode ser bilionário
Nova frente de apuração mira fraudes em consignados — mais de R$ 89 bilhões foram movimentados apenas em 2023

A investigação sobre fraudes envolvendo o INSS ganhou um novo e explosivo capítulo: uma força-tarefa com atuação da Polícia Federal, Ministério Público e Tribunal de Contas da União (TCU) agora mira suspeitas de irregularidades na concessão de empréstimos consignados a aposentados e pensionistas.
Segundo auditoria do TCU obtida com exclusividade pelo blog, apenas em 2023 foram registradas mais de 35 mil reclamações de beneficiários que tiveram crédito consignado liberado sem qualquer solicitação. Muitos sequer sabiam da existência do contrato até perceberem os descontos em seus benefícios.
O foco da nova apuração são empréstimos realizados com fraude de dados ou sem consentimento dos segurados, por meio de correspondentes bancários e sistemas vinculados ao INSS e à Dataprev — empresa pública responsável pelo processamento desses dados.
O volume envolvido impressiona: R$ 89,5 bilhões em empréstimos consignados foram liberados em 2023, valor 15 vezes superior ao escândalo das associações de fachada, que já identificou R$ 6 bilhões em descontos indevidos.
Em tese, o uso de biometria deveria ter bloqueado esse tipo de golpe. Na prática, as fraudes persistem — muitas vezes com uso indevido de dados, renegociações automáticas e contratos firmados por telefone ou aplicativos, sem clareza para o aposentado.
Vítimas relatam dívidas que consomem toda a aposentadoria
A pensionista Maria da Glória, de Porto Alegre, conta que nunca solicitou a maioria dos empréstimos em seu nome. Hoje, tem quatro consignados ativos, além de outros 41 que já conseguiu encerrar judicialmente ou com apoio da família. Apenas três contratos foram firmados com autorização.
“A gente vai no banco e eles dizem que foi renegociação. Eu nunca autorizei isso”, afirma. O prejuízo estimado pela família supera R$ 160 mil em mais de uma década.
Outra vítima, uma aposentada de Goiânia que prefere não se identificar, relata que foi induzida por atendentes de uma financeira a aceitar um empréstimo que não desejava. Em dois meses, as condições do contrato foram modificadas: as parcelas saltaram de R$ 403 para mais de R$ 1.300 por mês, comprometendo quase toda sua renda. “Estou doente. Não consigo dormir”, lamenta.
Especialistas: renegociações são disfarçadas de novos empréstimos
Advogados especializados em direito previdenciário confirmam que renegociações não autorizadas são frequentes. Em muitos casos, aparecem vários contratos ativos no extrato do INSS, quando apenas um foi, de fato, contratado pelo segurado.
Os demais são renegociações camufladas como novos empréstimos, feitas para estender o prazo ou modificar valores sem o consentimento do beneficiário.
Apurações envolvem INSS, bancos e a Dataprev
O novo eixo da investigação, ainda em sigilo, pode atingir integrantes de correspondentes bancários, servidores públicos e operadores financeiros. A suspeita é de que haja falhas estruturais ou conivência dentro do sistema de concessão de crédito via INSS.
A Dataprev também entrou no radar da investigação, já que é a responsável pela gestão dos dados dos beneficiários e pelas integrações com instituições financeiras.
🕒 Linha do Tempo das Fraudes em Empréstimos Consignados no INSS
2013–2023
🔸 Período de maior incidência de fraudes recorrentes
- Vítimas como Maria da Glória, de Porto Alegre, acumulam dezenas de empréstimos feitos sem consentimento.
- Ela estima prejuízo de R$ 160 mil em 10 anos.
- Apenas 3 empréstimos foram solicitados de fato; os demais foram renegociações indevidas.
2023
🔹 Explosão de denúncias
- Mais de 35 mil reclamações de empréstimos indevidos registradas.
- Volume total de empréstimos consignados atinge R$ 89,5 bilhões, segundo o TCU.
- Indícios de que uso de biometria não foi suficiente para frear as fraudes.
2024–2025
🔍 Avanço das investigações
- Nova frente apura envolvimento da Dataprev e falhas estruturais no sistema.
- A força-tarefa amplia foco para além de associações fraudulentas e entra nos bancos e correspondentes.
- Especialistas denunciam prática comum de renegociações sem autorização do segurado.
- Casos como o de uma aposentada em Goiânia revelam alterações contratuais ilegais (parcela subiu de R$ 403 para R$ 1.300 em dois meses).
🔎 Principais Destaques da Reportagem
- 💸 Fraude massiva: R$ 6 bilhões sob suspeita nas associações; R$ 90 bilhões movimentados no consignado em 2023.
- ⚠️ Sistema falho: Biometria não impediu operações indevidas; Dataprev agora é alvo da apuração.
- 👵 Vítimas recorrentes: Idosos com dezenas de empréstimos e renegociações não autorizadas.
- 📉 Controle ineficaz: Reclamações crescentes, com prejuízos financeiros e psicológicos para aposentados.
- 📚 Auditoria do TCU: Documento exclusivo indica falhas graves no controle e liberação dos valores.