1 EM CADA 8 BRASILEIROS COM FACULDADE É ANALFABETO FUNCIONAL, REVELA PESQUISA CHOCANTE
Estudo aponta que 29% da população entre 15 e 64 anos não domina habilidades básicas de leitura, escrita e matemática — mesmo com diploma na mão.

Um em cada oito brasileiros com ensino superior completo não consegue interpretar um texto simples ou lidar com informações básicas do cotidiano, como preços, endereços ou mensagens curtas. É o que revela o mais recente levantamento do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), coordenado pela Ação Educativa e pela consultoria Conhecimento Social, com apoio de instituições como Fundação Itaú, Unesco e Unicef.
O estudo, realizado entre dezembro e fevereiro com 2.554 pessoas de 15 a 64 anos, mostra um retrato preocupante da educação no Brasil: 29% da população nessa faixa etária é considerada analfabeta funcional — ou seja, não domina habilidades essenciais para compreender textos simples e resolver problemas práticos envolvendo números.
Entre os que concluíram o ensino superior, 9% foram classificados como analfabetos funcionais. Outros 15% dos que completaram o ensino médio também caíram no nível mais baixo da escala. No total, a maioria dos brasileiros se concentra no nível elementar de alfabetismo (36%), enquanto 35% alcançam um nível mais consolidado.

Trabalho, escola e fracasso da EJA
Mesmo entre os trabalhadores empregados, a situação é alarmante: 27% são analfabetos funcionais, e apenas 40% possuem alfabetismo consolidado. Para especialistas, a estagnação está diretamente ligada ao colapso da Educação de Jovens e Adultos (EJA), que registrou em 2024 o menor número de matrículas da história, segundo o Censo Escolar.
“Se houver uma política pública robusta para ampliar o acesso e a permanência de jovens e adultos na escola, certamente haverá impacto positivo no nível de alfabetismo do país”, afirma Roberto Catelli, coordenador da área de educação da Ação Educativa.
Desde 2017, os investimentos na EJA despencaram. Em 2021, ainda durante a pandemia, o governo Bolsonaro destinou apenas R$ 6 milhões à modalidade — o menor valor neste século. O cenário só começou a mudar em 2024, com o relançamento de programas como o Brasil Alfabetizado e o Projovem, e um aporte de R$ 120 milhões via o novo Pacto EJA, lançado pelo Ministério da Educação.
Desigualdade e fracasso escolar
Entre os jovens de 15 a 29 anos, o índice de analfabetismo funcional aumentou de 14% para 16%, o que acende um alerta ainda mais grave: mesmo com acesso à escola, muitos estudantes não aprendem o básico. Para Rosalina Soares, da Fundação Roberto Marinho, os dados refletem um problema de qualidade, não apenas de acesso.
“A maioria dos alunos termina o ensino médio sem atingir o nível adequado em Língua Portuguesa e Matemática. Isso compromete o exercício da cidadania, o ingresso no mercado de trabalho e a vida em sociedade”, alerta.
No mundo digital, a exclusão também é alarmante
A pesquisa também avaliou o letramento digital dos brasileiros e revelou que 95% dos analfabetos funcionais têm desempenho muito limitado em tarefas online. Mesmo entre os mais alfabetizados, 40% apresentaram resultados medianos ou baixos.
As tarefas incluíram ações básicas como comprar um par de tênis em uma rede social, responder mensagens em aplicativo e preencher um formulário online. Os resultados escancaram que a exclusão digital vai além do acesso à internet — está ligada à capacidade de compreender e interagir com o ambiente virtual.
“Estamos matando a esperança dos jovens”, diz Fundação Itaú
Para Eduardo Saron, presidente da Fundação Itaú, o retrato revelado pelo Inaf representa mais do que uma falha educacional — é uma tragédia social. “Estamos falhando na missão mais básica da escola: garantir que os jovens leiam, compreendam e possam transformar suas vidas. Estamos matando algo precioso: a esperança e a dignidade dos nossos jovens.”
A pesquisa traz um alerta claro: o diploma, por si só, não garante habilidades fundamentais. E o Brasil ainda tem um longo caminho para garantir que aprender de verdade seja um direito para todos.
1 em cada 8 brasileiros com ensino superior completo é analfabeto funcional, segundo o Inaf.
29% da população de 15 a 64 anos não domina habilidades básicas de leitura, escrita e matemática.
Entre os jovens de 15 a 29 anos, o analfabetismo funcional aumentou de 14% para 16%.
27% dos trabalhadores empregados são analfabetos funcionais; só 40% têm alfabetismo consolidado.
95% dos analfabetos funcionais têm dificuldades graves no ambiente digital; até entre os mais alfabetizados, 40% se saíram mal em tarefas online.
Queda nas matrículas da EJA (Educação de Jovens e Adultos) é apontada como causa da estagnação; 2024 teve o menor número de alunos da história.
O governo federal lançou o Pacto EJA com R$ 120 milhões e resgatou programas como Brasil Alfabetizado e Projovem.
Para especialistas, a escola está falhando em sua missão mais básica: ensinar os jovens a ler, compreender e pensar criticamente.
Mesmo com mais acesso à escola, qualidade da aprendizagem não acompanha a expansão, segundo dados do Saeb.