Livro revela o segredo oculto da Igreja Católica: a vida dos padres gays exposta

Brendo Silva, ex-seminarista e especialista em sexualidade e religião, denuncia em livro a hipocrisia e o silêncio sobre a homossexualidade dentro da Igreja Católica

A Igreja Católica, uma das instituições mais antigas e influentes do mundo, vive uma contradição histórica: enquanto mantém uma postura oficial conservadora contra a comunidade LGBTQIAP+, abriga internamente um expressivo número de padres gays que vivem suas sexualidades em segredo — ou em conflito. Essa realidade é revelada em A Vida Secreta dos Padres Gays — Sexualidade e Poder no Coração da Igreja (Matrix Editora), escrito por Brendo Silva, ex-seminarista e pesquisador do tema.

Brendo Silva parte de suas experiências pessoais para desmontar tabus que por décadas permaneceram nos bastidores do clero. Desde menino, quando era coroinha, percebeu a forte presença de homens gays ao seu redor. No seminário, onde estudou filosofia na Europa, vivenciou diretamente o cotidiano desses homens que, em sua maioria, ocultam relacionamentos e enfrentam repressão.

“Entre os 12 seminaristas da minha turma, pelo menos oito mantinham relações com outros homens. Era algo corriqueiro, mas tabu. Não se fala abertamente, mas todo mundo sabe que existe,” revela o autor.

O duplo padrão da Igreja

Brendo explica que dentro da Igreja há grupos ideológicos variados: dos mais progressistas aos extremamente conservadores. Nos seminários mais liberais, a sexualidade dos homens gays é tolerada, desde que mantida em segredo, para evitar escândalos. Já em ambientes conservadores, prevalece a repressão e até tentativas de “cura gay” — inclusive com outros religiosos homossexuais aplicando esses tratamentos.

“A Igreja é um sistema corporativo onde superiores também levam vidas duplas. A denúncia de má conduta raramente é levada adiante porque o problema é generalizado,” afirma.

Padres gays: pilares ocultos da Igreja Católica

O autor aponta que, além do silêncio, há uma dependência estrutural da Igreja em relação aos padres gays. Eles são fundamentais para a liturgia, a música sacra, as artes e os estudos teológicos. “Sem os gays, a Igreja perderia uma parte essencial da sua identidade estética e espiritual. É impossível imaginar a Igreja Católica sem eles,” escreve Brendo.

Vozes que clamam por humanidade

O livro traz ainda depoimentos inéditos de 16 homens — entre padres, ex-seminaristas e religiosos — que revelam a diversidade das experiências com a homossexualidade dentro do clero: da repressão severa à convivência discreta, até a exposição aberta, quando possível.

Brendo Silva, que abandonou o seminário aos 21 anos, afirma que o livro é um ato de justiça para com sua própria história e um apelo para que a Igreja enfrente sua homofobia institucional.

“A Igreja precisa urgentemente se curar do seu próprio ódio. Ela dita a moral para a sociedade, mas não permite que a sociedade dialogue sobre sua sexualidade. É uma contradição que precisa acabar,” conclui o autor.

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