Alcolumbre dá aval a sessão que pode destravar CPI do INSS e expõe tentativa do governo de adiar investigação
Movimento da oposição pressiona o Planalto, que tentava ganhar tempo para evitar desgaste com escândalo de descontos ilegais sobre aposentadorias

BRASÍLIA — O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), confirmou a realização da próxima sessão do Congresso Nacional entre os dias 27 e 28 de maio, o que pode destravar a instalação da CPI do INSS — comissão que promete investigar um esquema bilionário de cobranças indevidas contra aposentados e pensionistas.
A informação foi divulgada nesta quarta-feira (22) pelo senador Rogério Marinho (PL-RN), secretário-geral do PL. Segundo ele, a oposição vai aproveitar a sessão para ler o requerimento de criação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), protocolado na semana passada com 41 assinaturas no Senado e 236 na Câmara.
“São crimes contra idosos indefesos. Queremos conclamar esta Casa ao espírito de nação”, disse Marinho após reunião com Alcolumbre.
Embora Alcolumbre não tenha comentado publicamente sobre o conteúdo da CPI, sua disposição em manter a sessão enfraquece uma estratégia do governo Lula, que nos bastidores articulava para adiar a leitura do requerimento e, assim, ganhar tempo para reorganizar sua base e tentar neutralizar os danos políticos.
A tática lembra o início de 2023, quando o Planalto tentou postergar a CPI dos atos golpistas de 8 de janeiro. Até agora, não houve nenhuma sessão conjunta do Congresso este ano — o que travava o avanço da nova CPI.
Esquema pode ter atingido mais de 4 milhões de aposentados
A CPI do INSS mira um esquema revelado pela “Operação Sem Desconto”, da Polícia Federal, que aponta que entre 2019 e 2024, mais de 4,2 milhões de aposentados e pensionistas sofreram descontos ilegais promovidos por entidades conveniadas ao INSS — muitas delas sem autorização dos beneficiários.
O rombo estimado ultrapassa R$ 6 bilhões. As investigações levaram à exoneração do ex-presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e à prisão de diversos operadores do esquema, incluindo o lobista conhecido como “Careca do INSS”.
Como resposta, o Ministério da Previdência lançou um sistema para que os beneficiários consultem e contestem os débitos, e bloqueou R$ 2,5 bilhões em contas de 12 entidades suspeitas. CGU e TCU também abriram apurações paralelas.
Governo tenta jogar escândalo para Bolsonaro
A narrativa oficial do Planalto é que a maior parte dos convênios sob suspeita foi firmada entre 2019 e 2022, durante o governo Bolsonaro. Relatórios da Controladoria-Geral da União (CGU) confirmam que já havia alertas antes da posse de Lula, mas o governo atual é cobrado por não ter revogado os contratos em seu primeiro ano.
Aliados reconhecem que o passivo político é difícil de reverter, especialmente diante do impacto direto sobre aposentados — uma das bases eleitorais mais sensíveis no país.