ONDA DE PETRÓLEO, ONDA DE VIOLÊNCIA: CIDADES RICAS EM ROYALTIES VIRARAM ALVO DO CRIME

Estudo revela que crescimento econômico impulsionado pela indústria do petróleo provocou urbanização desordenada, desigualdade e explosão da criminalidade em municípios da região Sudeste

A promessa de riqueza veio com os royalties do petróleo — mas, junto com o dinheiro, veio também a violência. Um estudo conduzido pelos economistas Rodrigo Soares (Insper) e Danilo Souza (USP) mostra que municípios que viveram um boom econômico por causa da exploração de petróleo entre 1997 e 2016 enfrentaram um aumento brutal da criminalidade, especialmente no Sudeste do país.

Em Campos dos Goytacazes (RJ), por exemplo, os homicídios mais do que dobraram: saltaram de 122 para 272 por ano — um crescimento de 123%. Em São Francisco de Itabapoana, os assassinatos aumentaram 325%; em Conceição da Barra (ES), 300%.

Os dados revelam um paradoxo: enquanto a renda subia com a exploração de petróleo e a alta do barril no mercado internacional, a segurança pública desmoronava. O Produto Interno Bruto (PIB) das cidades produtoras cresceu cerca de 100% mais que o dos municípios não produtores — mas a urbanização desordenada, a chegada rápida de jovens trabalhadores e a fragilidade na oferta de serviços públicos criaram o terreno ideal para a expansão do crime.

CIDADES MAIS AFETADAS PELO AUMENTO DA VIOLÊNCIA:

  • Campos dos Goytacazes (RJ): homicídios subiram 123%, de 122 para 272 por ano.
  • São Francisco de Itabapoana (RJ): aumento de 325%, de 4 para 17 homicídios anuais.
  • São João da Barra (RJ): salto de 3 para 13 homicídios anuais, alta de 333%.
  • Conceição da Barra (ES): de 5 para 20 homicídios ao ano, alta de 300%.
  • São Mateus (ES): crescimento de 278%, de 18 para 68 homicídios ao ano.
  • Jaguaré (ES): de 6 para 22 homicídios, um salto de 267%.

O PREÇO DA RIQUEZA RÁPIDA

“A gente esperava melhora no longo prazo, mas o que vimos foi o oposto. A explosão econômica foi rápida demais e não veio acompanhada de estrutura”, explica Rodrigo Soares. “Houve um choque de crescimento que os municípios não conseguiram absorver.”

Entre os fatores que explicam a escalada da violência, os pesquisadores apontam:

  • Crescimento populacional acelerado, com cidades incapazes de expandir infraestrutura básica na mesma velocidade;
  • Chegada de jovens do sexo masculino, grupo estatisticamente mais suscetível ao envolvimento com o crime;
  • Maior desigualdade entre trabalhadores formais — que lucraram com o boom — e informais, que ficaram à margem;
  • Expansão do tráfico e outras atividades ilícitas, atraídas pelo aumento da renda local e pela frágil presença do Estado.

UM CICLO QUE NÃO SE COMPLETOU

O estudo analisou o período em que o petróleo chegou a representar até 4% da produção mundial, com o Brasil figurando entre os maiores produtores do planeta. O preço do barril subiu 210% entre 2004 e 2013, impulsionando as receitas municipais. Mas a festa durou pouco: o valor despencou pela metade após 2013, sem que houvesse tempo para consolidar um modelo sustentável de desenvolvimento.

“Foi o pior dos dois mundos: a renda subiu, mas o impacto foi desorganizador, e o ciclo do petróleo não se sustentou”, afirma Soares.

O QUE VEM PELA FRENTE?

Hoje, o Brasil produz cerca de 3,6 milhões de barris por dia — e 80% desse total vem do pré-sal, concentrado na região Sudeste. A expectativa é de que o país atinja um pico de 5,3 milhões de barris até 2030, mas depois inicie uma curva de queda.

Enquanto isso, novas fronteiras começam a surgir. A principal aposta é a Margem Equatorial, que inclui a bacia da Foz do Amazonas. O Ibama autorizou recentemente os últimos testes antes da exploração, e a Petrobras já prepara navios e sondas para iniciar perfurações em julho.

Para João Victor Marques, pesquisador da FGV Energia, há uma tentativa de diversificar geograficamente a produção — e de reduzir o impacto ambiental. “O futuro da exploração precisa vir com menor pegada de carbono e mais responsabilidade. A lição que ficou é clara: riqueza rápida, sem planejamento, pode custar caro.”

🚨 ONDA DE PETRÓLEO, ONDA DE VIOLÊNCIA

🌍 Cidades ricas em royalties viraram alvo do crime

🔍 Estudo revela que riqueza gerada pelo petróleo impulsionou desigualdade, urbanização desordenada e explosão da criminalidade no Sudeste


🛢️ Boom econômico + caos urbano = mais homicídios

📈 Cidades que se beneficiaram da exploração de petróleo nos anos 2000 viram o PIB disparar, mas também entraram no mapa da violência.

👥 População aumentou rápido demais, os serviços públicos não acompanharam, e o crime organizado aproveitou o vácuo.


🔴 CIDADES COM OS MAIORES SALTOS NA VIOLÊNCIA

📍 Campos dos Goytacazes (RJ)
➡️ Homicídios: +123% (de 122 para 272 por ano)
👨‍👩‍👧 População: +24%

📍 São Francisco de Itabapoana (RJ)
➡️ Homicídios: +325% (de 4 para 17)
👨‍👩‍👧 População: +13%

📍 São João da Barra (RJ)
➡️ Homicídios: +333% (de 3 para 13)
👨‍👩‍👧 População: +22%

📍 Conceição da Barra (ES)
➡️ Homicídios: +300% (de 5 para 20)
👨‍👩‍👧 População: +19%

📍 São Mateus (ES)
➡️ Homicídios: +278% (de 18 para 68)
👨‍👩‍👧 População: +49%

📍 Jaguaré (ES)
➡️ Homicídios: +267% (de 6 para 22)
👨‍👩‍👧 População: +64%


⚠️ O PREÇO DA RIQUEZA RÁPIDA

💬 “Foi o pior dos dois mundos. A renda subiu, mas houve desorganização. E o ciclo do petróleo desabou logo depois”— Rodrigo Soares, pesquisador do Insper

🧩 Causas apontadas pelos pesquisadores:

  • 💥 Urbanização desordenada
  • 🧍 Chegada de jovens homens sem apoio social
  • 💰 Alta da renda atraiu o tráfico
  • ⚖️ Aumento da desigualdade entre trabalhadores formais e informais
  • 🚨 Falta de estrutura de segurança e serviços

📉 CICLO DO PETRÓLEO: SUBIU RÁPIDO, CAIU RÁPIDO

🛢️ De 2004 a 2013:
📊 Preço do barril +210% (até US$ 97)
📉 Depois de 2013: despencou para US$ 43

🌐 Em 2020, o Brasil já produzia 4% do petróleo mundial, sendo o 8º maior produtor global.


🔮 E O FUTURO?

🔎 A Petrobras mira novas fronteiras:
🌊 Margem Equatorial (Foz do Amazonas) — início da exploração previsto para julho

📍 Também no radar: Bacia do Pelotas (RS)

🗣️ “Agora o foco é crescer com menor pegada de carbono e mais responsabilidade ambiental” — João Victor Marques, FGV Energia

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