Primeira-dama vira “cantora” no palco com Wesley Safadão e TCE manda a conta para o marido prefeito

Viviane Facundes usou São João público para se promover como futura deputada, diz Tribunal de Contas de Pernambuco

Uma cena que misturou sertanejo, política e dinheiro público virou escândalo em Pernambuco: Viviane Facundes, primeira-dama e secretária de Obras de Gravatá, transformou o palco do São João municipal em palanque pessoal ao cantar com Wesley Safadão, João Gomes e outros artistas – tudo pago com verba pública. Agora, o Tribunal de Contas do Estado (TCE-PE) manda a conta para o marido dela, o prefeito Joselito Gomes (Avante).

alerta de responsabilização emitido pelo TCE é devastador: a reiterada presença da secretária nos shows “poderá vir a ser interpretada como ato de promoção pessoal financiado com recursos públicos”. Traduzindo: os contribuintes de Gravatá bancaram a campanha antecipada de Viviane para deputada estadual em 2026.

A “CARREIRA ARTÍSTICA” FINANCIADA PELO POVO

Viviane não teve pudor algum. Durante o São João de Gravatá, ela subiu ao palco e cantou com praticamente todos os grandes nomes contratados pela prefeitura: Wesley Safadão, João Gomes, Cristina Amaral, Waldonys e Benil. Entre uma música e outra, fazia questão de posar para fotos que imediatamente viravam propaganda política nas redes sociais.

“Obrigada, Wesley Safadão, pelo convite para cantar para essa multidão linda”, escreveu a secretária em uma publicação que viralizou – mas pelo motivo errado. O “convite” de Wesley, na verdade, foi pago pelo dinheiro públicoque contratou o cantor para o evento municipal.

A cena grotesca não passou despercebida. O vereador suplente Ricardo Loureiro Malta Filho (PSB) acionou o TCE pedindo uma medida cautelar para impedir que a primeira-dama continuasse usando os palcos públicos como trampolim político. Embora o pedido tenha chegado tarde demais – os shows já haviam acontecido -, o estrago político estava feito.

O RECADO DO TCE: “DINHEIRO PÚBLICO NÃO É PALANQUE”

conselheiro Dirceu Rodolfo de Melo Júnior não poupou palavras ao alertar o prefeito sobre a “potencial violação ao princípio da impessoalidade administrativa”. Em outras palavras: Joselito deixou a esposa usar a máquina públicapara se promover politicamente, violando regras básicas da administração pública.

O TCE agora pode determinar a abertura de uma auditoria para investigar não apenas os custos dos shows, mas também como os recursos públicos foram usados para impulsionar a carreira política de Viviane. A primeira-dama pode ter ganhado alguns minutos de fama no palco, mas custou caro para os cofres públicos e para a reputação do marido.

NEPOTISMO E AGORA “SHOWBUSINESS” PÚBLICO

Esta não é a primeira polêmica envolvendo Viviane Facundes. Em 2024, ela já havia sido alvo de uma liminar que determinou seu afastamento do cargo de secretária de Obras por suspeita de nepotismo e ausência de qualificação técnica.

Na época, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) questionou não apenas o parentesco com o prefeito, mas também se ela tinha competência técnica para comandar a pasta de Obras. A liminar foi posteriormente derrubada pelo desembargador Evanildo Coelho de Araújo Filho, que defendeu a qualificação da primeira-dama.

Mas agora o problema é outro: não se trata mais de qualificação técnica, e sim de uso da máquina pública para promoção pessoal. Cantar com Wesley Safadão em evento municipal definitivamente não está nas atribuições de uma secretária de Obras.

A ESTRATÉGIA ELEITOREIRA DESCOBERTA

Viviane Facundes não esconde suas ambições políticas. Cotada para disputar uma vaga de deputada estadual em 2026, ela viu no São João de Gravatá uma oportunidade de ouro para ganhar visibilidade junto ao eleitorado pernambucano.

A estratégia era simples e eficaz: aparecer ao lado de artistas famosos em eventos que atraem milhares de pessoas, posar para fotos que viralizam nas redes sociais e construir uma imagem de proximidade com o povo e com celebridades. Tudo isso sem gastar um centavo do próprio bolso – afinal, quem pagou a conta foram os contribuintes de Gravatá.

O CUSTO DA PROMOÇÃO PESSOAL

Quanto custou transformar Viviane em “cantora”? Embora a prefeitura não tenha divulgado os valores exatos dos contratos com os artistas, eventos desse porte envolvem centenas de milhares de reais. Wesley Safadão e João Gomes, por exemplo, cobram cachês que podem ultrapassar R$ 500 mil por show.

O problema não está no gasto com entretenimento público – o São João é uma tradição legítima e move a economia local. A questão é o uso político dos eventos para beneficiar uma pessoa específica que, coincidentemente, é esposa do prefeito e pré-candidata a cargo eletivo.

A DEFESA QUE NÃO VEIO

A Prefeitura de Gravatá foi procurada para comentar o alerta do TCE, mas optou pelo silêncio até a publicação desta reportagem. O silêncio, porém, fala por si só: como explicar que a secretária de Obras precisa cantar com artistas contratados pela própria prefeitura?

Algumas perguntas que ficam no ar:

  • Por que Wesley Safadão “convidou” justamente a esposa do prefeito para cantar?
  • Os contratos com os artistas previam a participação da primeira-dama?
  • Quanto tempo de palco Viviane teve em cada show?
  • Os custos de produção incluíram estrutura para as apresentações dela?

O HISTÓRICO PROBLEMÁTICO

Gravatá tem um histórico preocupante quando o assunto é uso indevido de recursos públicos. O próprio prefeito Joselito Gomes já foi multado por nepotismo em outras ocasiões, tendo nomeado duas sobrinhas para cargos comissionados na prefeitura.

Pernambuco como um todo enfrenta esse problema: segundo levantamentos, o estado tem mais de 50 maridos e esposas de prefeitos ocupando cargos de secretários municipais, evidenciando um padrão sistemático de nepotismo nas administrações locais.

O QUE VEM POR AÍ

O alerta do TCE é apenas o começo. A depender dos desdobramentos, Viviane Facundes e o marido podem enfrentar:

🔸 AUDITORIA DETALHADA: Investigação completa sobre os custos dos eventos

🔸 RESSARCIMENTO: Devolução aos cofres públicos de valores gastos indevidamente

🔸 PROCESSO ADMINISTRATIVO: Possível afastamento da secretária do cargo

🔸 IMPACTO ELEITORAL: Desgaste para a pré-candidatura dela em 2026

A LIÇÃO DO SÃO JOÃO

O caso de Gravatá serve de alerta para prefeitos e primeiras-damas de todo o país: dinheiro público não é palanque político. Usar eventos municipais para promoção pessoal pode sair muito caro – tanto financeiramente quanto politicamente.

Viviane Facundes queria virar cantora por algumas noites, mas pode acabar virando ex-secretária em definitivo. E o marido prefeito, que deveria zelar pelo bom uso dos recursos públicos, agora tem que explicar por que deixou a esposa transformar o São João municipal em campanha antecipada para 2026.

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