Omar Aziz promete que CPI do INSS não será “guerra política” contra Lula

Presidente da comissão quer focar na “estrutura de corrupção” que prejudicou aposentados em diferentes governos, mas oposição já planeja desgastar o Planalto

O senador Omar Aziz (PSD-AM) assumiu a presidência da CPI do INSS com uma promessa: a investigação não será palco de “perseguições políticas” nem mirará governos específicos. O parlamentar, aliado do presidente Lula, garante que o foco será a “estrutura de corrupção” que subtraiu dinheiro de pensionistas ao longo de diferentes gestões.

A declaração funciona como um aceno ao Palácio do Planalto em momento delicado. Isso porque bolsonaristas apostam todas as fichas na comparação desta CPI com a da Covid, presidida pelo próprio Aziz em 2021, que foi devastadora para o governo Bolsonaro.

Bolsonaristas querem repetir fórmula da CPI da Covid

Aliados de Jair Bolsonaro no Congresso acreditam que a comissão dos descontos indevidos do INSS tem potencial explosivo para desgastar Lula, repetindo o roteiro que funcionou contra Bolsonaro na pandemia.

Aziz, porém, rejeita a comparação: “Era diferente. Era uma investigação que naquele momento estava dentro de um governo específico. Agora, não. Passa por vários governos”, explicou ao blog.

O senador descarta que a CPI possa agravar a já combalida aprovação de Lula: “Não é contra o governo Michel Temer, Dilma Rousseff, Lula e Bolsonaro. É contra pessoas que estavam dentro do governo. Não creio que um presidente da República tenha sentado para fazer acertos com qualquer sindicato de pensionistas”.

Oposição vê “precipício” para governistas

Nos bastidores, senadores bolsonaristas que participaram da CPI da Covid discordam da avaliação de Aziz. Argumentam que, se a comissão da pandemia foi impulsionada pela comoção social, o caso do INSS atinge uma população idosa e vulnerável com impacto econômico direto.

“Esse assunto não é confortável pra ninguém da base do governo. Como você ficará contra aposentados? Na hora que começarem a aparecer as evidências elas saltarão aos olhos. Nesse tema o governo terá dificuldade em encontrar governista disposto a pular do precipício junto com o Lula”, alfineta um senador reservadamente.

Disputa pela relatoria esquenta

O bolsonarismo aposta na escolha de um relator do PL para turbinar o desgaste. A definição cabe à Câmara dos Deputados, já que o Senado ficou com a presidência.

Alas do partido defendem Nikolas Ferreira (MG), que explorou o escândalo nas redes sociais e desafiou a comunicação do governo com o alcance de suas publicações. Outros preferem a Coronel Fernanda (MT), autora do requerimento da comissão.

Aziz promete conversar sobre o assunto nesta semana com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que retornou de Portugal após participar do Fórum de Lisboa. “Qualquer relator tem que ter o equilíbrio necessário, se aprofundar bastante e tentar não levar para o lado político”, disse.

Integrantes da base aliada ouvidos reservadamente acreditam que a relatoria não ficará com o PL de Bolsonaro.

Oposição quer convocar ex-presidentes do INSS

A oposição já planeja convocar os ex-presidentes do INSS dos últimos quatro governos, incluindo Alessandro Stefanutto, investigado pela Polícia Federal, sem poupar quem não é citado formalmente nas apurações, como Carlos Lupi – ministro da Previdência que pediu demissão após forte pressão do Planalto.

O episódio levou à saída do PDT da base de Lula na Câmara, mostrando como o escândalo já cobra seu preço político.

Tensão com o Congresso

A escolha da relatoria ocorrerá dias após a crise entre governo e Congresso na batalha do aumento do IOF. Embora o ministro Alexandre de Moraes tenha instaurado uma conciliação entre Executivo e Legislativo sobre o tema, a costura de Motta no âmbito da CPI dará o tom do estado da relação com o Planalto.

A Câmara, que hoje representa a maior pedra no sapato da articulação política de Lula, entregou 249 das 293 assinaturas do requerimento da comissão – 44 dos 81 senadores completam a lista.


A CPI do INSS promete ser um dos principais focos de tensão política em 2025, testando a habilidade do governo Lula em controlar danos enquanto a oposição busca repetir o sucesso da estratégia que desgastou Bolsonaro na pandemia.

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