Aceno de Trump a Lula inquieta bolsonaristas e abre espaço para diálogo com EUA

O gesto de Donald Trump em direção ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, após seu discurso na ONU, provocou reações distintas no cenário político brasileiro. Enquanto o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) tentou minimizar a aproximação, lideranças do Congresso avaliam que o episódio pode abrir caminho para a redução de sanções impostas pelos Estados Unidos ao Brasil.

Atualmente, além de uma sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros, o governo americano também aplica sanções individuais. Entre elas, o bloqueio de vistos e restrições financeiras baseadas na Lei Magnitsky, que já atingiram o ministro Alexandre de Moraes, do STF, e sua esposa, a advogada Viviane Barci de Moraes.

Eduardo Bolsonaro afirmou que Trump agiu de forma estratégica, ao impor novas punições e, em seguida, se recolocar como mediador. “Trump entra na mesa quando quer, da forma que quer e na posição que quer”, escreveu, defendendo que o Brasil depende de um bom relacionamento com os EUA.

Do lado governista, o tom de Lula na ONU foi elogiado. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), disse que o Brasil precisa defender sua soberania, mas também buscar diálogo para resolver o impasse. Já o líder do PT, Lindbergh Farias (RJ), comemorou a “altivez” de Lula e disse que bolsonaristas estariam “desesperados”.

A deputada Erika Hilton (PSOL-SP) afirmou que Trump “recalculou a rota” após fracassos anteriores, enquanto parlamentares do PL, como Júlia Zanatta e Filipe Barros, ironizaram o encontro.

O episódio reforça a disputa de narrativas: de um lado, Lula busca se firmar como líder respeitado no cenário internacional; do outro, bolsonaristas tentam reduzir o impacto político do aceno de Trump, em meio ao enfraquecimento de Jair Bolsonaro após sua condenação pela tentativa de golpe.

📌 O QUE DIZEM OS ENVOLVIDOS

  • Donald Trump (presidente dos EUA)
    Declarou ter tido “excelente química” com Lula, contou que os dois se abraçaram rapidamente nos corredores da ONU e anunciou um encontro para a próxima semana. Ainda assim, afirmou que “o Brasil vai mal” e que só terá futuro em cooperação com os EUA.
  • Eduardo Bolsonaro (PL-SP, filho do ex-presidente)
    Minimiza o impacto, afirmando que Trump agiu como sempre: aumentou a pressão, aplicou sanções e depois voltou à mesa em posição de força. Para ele, Lula não saiu vitorioso; coube a Trump mostrar “firmeza estratégica”. Eduardo citou como exemplo a sanção imposta à esposa de Alexandre de Moraes, na véspera do discurso, chamando-a de “recado claro e direto”.
  • Hugo Motta (Republicanos-PB, presidente da Câmara)
    Elogiou o discurso de Lula na ONU e defendeu que o Brasil mantenha o diálogo com os EUA para superar tarifas e sanções. Disse confiar que a diplomacia pode resolver o impasse sem abrir mão da soberania nacional.
  • Lindbergh Farias (PT-RJ, líder do PT na Câmara)
    Celebrando o aceno de Trump, afirmou que Lula é respeitado no exterior por sua “altivez”, comparando a atual relação com a que o petista manteve com George W. Bush. Disse ainda que os bolsonaristas estariam “desesperados”.
  • Erika Hilton (PSOL-SP)
    Disse que Trump “recalculou a rota” após fracassos em tentativas anteriores de pressionar o Brasil, como o tarifaço, as falas de Elon Musk e os ataques à democracia.
  • Júlia Zanatta (PL-SC)
    Criticou o discurso do petista, dizendo que agora caiu a narrativa de que Trump se recusava a negociar. Para ela, “Trump fez a parte dele”.
  • Filipe Barros (PL-PR)
    Ironizou a possível reunião, afirmando: “Trump quer falar com o Lula. O problema é que, do outro lado, há o Lula”.

📊 CONTEXTO

Os EUA aplicaram recentemente sobretaxa de 50% a produtos brasileiros e sanções individuais a autoridades, incluindo Alexandre de Moraes e sua esposa, com base na Lei Magnitsky, usada contra casos de corrupção e violações de direitos humanos. O aceno de Trump ocorre em meio a esse cenário de tensão e à condenação de Jair Bolsonaro por tentativa de golpe, que fragilizou ainda mais o campo bolsonarista.

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