Relatório revela que Polícia Civil sabia de confrontos entre torcidas organizadas antes do clássico

Documento mostra que as forças de segurança de Pernambuco tinham conhecimento prévio dos planos de confronto entre torcedores do Santa Cruz e do Sport. O clima de guerra instaurado na cidade deixou a população com medo de sair de casa no sábado (1º).

Torcedores das duas equipes protagonizaram cenas de extrema violência em diversos bairros do Recife, e um relatório da Delegacia de Polícia de Repressão à Intolerância Esportiva (DPRIE) indica que as autoridades já tinham conhecimento sobre os confrontos planejados. O documento foi elaborado antes da partida e deveria auxiliar a Secretaria de Defesa Social (SDS) a evitar os episódios de violência.

Violência extrema e vítimas hospitalizadas

Pelo menos 12 pessoas deram entrada no Hospital da Restauração (HR) após os confrontos, vítimas de agressões físicas. Até este domingo (2), quatro delas permaneciam internadas. Entre os casos mais graves, um homem foi espancado, teve as roupas arrancadas e foi violentado sexualmente com uma barra de ferro no meio da rua. Imagens que circularam nas redes sociais ao longo do dia expuseram um verdadeiro cenário de guerra na cidade.

Planejamento antecipado e falha na segurança

O relatório da Polícia Civil aponta que torcedores estavam confeccionando armas caseiras e marcando “pistas”, termo usado para designar pontos de encontro para brigas de rua. O documento registra que os envolvidos se preparavam com bombas caseiras e barrotes com pregos, visando causar o maior dano possível a rivais, além de danificar patrimônios públicos e privados.

Em entrevista coletiva após os confrontos, o secretário de Defesa Social, Alessandro Carvalho, negou falhas no policiamento e afirmou que os conflitos poderiam ter ocorrido em qualquer ponto do Grande Recife, dada a grande quantidade de torcedores em deslocamento. Segundo ele, 654 policiais foram mobilizados para a segurança da partida.

Entretanto, a declaração do secretário ignora o conteúdo do relatório da DPRIE, que demonstrava que os confrontos estavam sendo marcados com antecedência pelas redes sociais e eram do conhecimento da corporação. Imagens obtidas pelo g1 mostram o momento em que as torcidas organizadas se encontram, mesmo escoltadas pela Polícia Militar.

Torcida do Santa Cruz informou trajeto com antecedência

A torcida organizada do Santa Cruz divulgou nota afirmando ter tomado todas as medidas necessárias para garantir a segurança de seus integrantes e da sociedade. O grupo também apresentou documento protocolado junto à Polícia Militar informando o trajeto que seguiria, incluindo trechos onde ocorreram os principais conflitos.

O g1 questionou a Secretaria de Defesa Social sobre o trajeto informado pela torcida do Sport e o motivo do encontro entre os grupos, mesmo com escolta policial. Até a última atualização desta reportagem, a SDS não havia respondido.

Prisões e medidas punitivas

A Polícia Civil informou que 32 pessoas envolvidas nos confrontos foram levadas a delegacias da capital e da Região Metropolitana. Antes do jogo, 650 pessoas foram conduzidas ao Batalhão de Choque para revista, resultando na prisão em flagrante de seis torcedores. Outros 14 torcedores foram levados à Central de Plantões da Capital, enquanto três foram detidos no Cabo de Santo Agostinho após confrontos no município.

Como resposta à onda de violência, o governo de Pernambuco determinou que os próximos cinco jogos do Santa Cruz e do Sport, organizados pela Federação Pernambucana de Futebol (FPF) e pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF), ocorram com portões fechados. A medida foi publicada em edição extra do Diário Oficial.

O Ministério Público de Pernambuco também recomendou que os clubes realizem o cadastramento biométrico de seus torcedores. O Sport suspendeu a venda de ingressos para a próxima partida e anunciou que irá recorrer à Justiça contra a punição. A tendência é que o Santa Cruz adote a mesma postura.

A violência no futebol segue como um dos grandes desafios para a segurança pública e para a pacificação das torcidas organizadas em Pernambuco.

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