Após prisão de policiais penais, Justiça interdita Presídio de Igarassu por 60 dias

A Justiça determinou a interdição parcial do Presídio de Igarassu, na Região Metropolitana do Recife, impedindo o ingresso de novos detentos por um período inicial de 60 dias. A decisão ocorre na mesma semana em que a Polícia Federal prendeu oito policiais penais suspeitos de envolvimento em um esquema de corrupção dentro da unidade prisional.

A medida foi assinada pela juíza Orleide Rosélia Nascimento, da 1ª Vara Regional de Execuções Penais, e tem parecer favorável do promotor Rinaldo Jorge da Silva. Além da interdição, a magistrada determinou a transferência de presos provisórios – que ainda não foram condenados – para cadeias públicas das cidades onde os crimes foram cometidos, com prazo de 30 dias para a relocação.

Superlotação e denúncias de violações

Com 5,6 mil detentos em um espaço projetado para apenas 1,2 mil, o Presídio de Igarassu é considerado o mais superlotado de Pernambuco e um dos piores do país. O Ministério Público Federal (MPF) já havia apontado, em vistoria realizada em 2024, um cenário de violações de direitos humanos dentro da unidade.

A Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização (Seap) havia prometido transferir 1.250 presos para unidades em Itaquitinga e para o Presídio Policial Penal Leonardo de Moura Lago, no Complexo do Curado, entre novembro de 2024 e março de 2025. No entanto, o plano ainda não foi cumprido.

— As denúncias de violações a direitos humanos e fundamentais na unidade prisional persistiram e continuam chegando à Justiça, além de ganharem repercussão na imprensa — destacou a juíza na decisão.

Corrupção e festa dentro do presídio

A decisão da Justiça também determina que todas as denúncias sobre o presídio sejam encaminhadas à Polícia Federal, que investiga um esquema criminoso dentro da unidade.

Na última terça-feira (25), a Operação La Catedral resultou na prisão preventiva de oito policiais penais, incluindo o ex-diretor Charles Belarmino de Queiroz, exonerado no ano passado. Segundo a investigação, os servidores recebiam propinas para liberar entrada de visitantes em horários proibidos, além de facilitar o ingresso de bebidas, drogas e garotas de programa. Em troca, recebiam joias, dinheiro e celulares.

Um dos principais articuladores do esquema seria Lyferson Barbosa da Silva, condenado por envolvimento no assassinato do médico Artur Eugênio de Azevedo, em 2014. Ele organizava festas dentro do presídio e continuava comandando uma facção criminosa de dentro da unidade, utilizando celulares. Após a operação, foi transferido para a Penitenciária Federal de Campo Grande (MS).

Os investigados podem responder por tráfico de drogas, associação para o tráfico, corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Além do processo criminal, os policiais penais também podem ser demitidos, já que a Corregedoria da Secretaria de Defesa Social (SDS) abrirá um processo administrativo disciplinar para apurar as infrações.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *