🇧🇷 MANGAS VÃO VIRAR LAMA? PRODUTORES ENFRENTAM CRISE COM TARIFAS DOS EUA E FRUTA SEM SAÍDA

“Tô dando de graça e ninguém quer.” O desabafo da produtora Hidherica Torres, em Casa Nova (BA), expõe o drama de centenas de agricultores no Vale do São Francisco após o tarifaço de 50% anunciado pelos Estados Unidos contra o Brasil.
Com a medida, que entra em vigor em 6 de agosto, exportar mangas para o mercado americano — principal destino na colheita entre agosto e outubro — se tornou inviável. Os contêineres que sairiam dos portos de Salvador (BA) e Pecém (CE) agora estão parados, e os frutos, maduros nos galhos, correm risco de apodrecer.
“Se não vender logo, o trator vai passar por cima. Vai virar lama”, lamenta Hidherica.
Apesar de rumores de isenção para algumas frutas, o decreto assinado por Donald Trump não incluiu a manga entre os produtos livres da tarifa. Com isso, o que seria exportado começa a lotar o mercado interno, derrubando os preços a níveis insustentáveis — produtores relatam ofertas de R$ 0,80 por quilo, contra os R$ 6 do início do ano.
“Desse jeito, nem paga a despesa”, diz José Nilton Gonçalves, de Lagoa Grande (PE).
A crise afeta desde grandes exportadores até pequenos agricultores familiares. Sem poder competir com o excesso de oferta, empresas estão cancelando pedidos até para Europa e Canadá. O resultado: frutas encalhadas e lavouras cheias sem previsão de escoamento.
O setor esperava exportar 36 mil toneladas de manga aos EUA em 2025, gerando cerca de R$ 255 milhões. Agora, teme prejuízos em cadeia e pede ação urgente do governo.
“A manga é símbolo do Nordeste. Cadê o plano do governo?”, cobra o presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Petrolina, Jailson Lira.
Enquanto isso, os produtores correm contra o tempo, doando frutas para limpar os pés e salvar a próxima safra — quando, talvez, o mundo volte a querer o sabor do sertão.