🎁 “Ganhei um carro, fui demitida e perdi tudo”: jovem acusa empresa de humilhação após sorteio em Santos

Funcionária afirma que Jeep Compass foi retomado de forma irregular após demissão por WhatsApp; veículo tinha histórico de sinistro e causou prejuízo de R$ 10 mil

A contadora Larissa Amaral da Silva, 25, viveu o que descreve como um “pesadelo corporativo”. Após ganhar um Jeep Compass em um sorteio interno da empresa onde trabalhava, em Santos (SP), ela foi demitida e teve o carro retomado — sem aviso prévio e com alegações que, segundo a defesa, não constavam em nenhum comunicado anterior.

“Ganhar esse carro foi um sonho. Perdê-lo assim, de forma humilhante, foi devastador”, disse Larissa ao UOL.

Sorteio, metas abusivas e demissão por WhatsApp

Funcionária da Quadri Contabilidade por nove meses, Larissa conta que foi surpreendida com a demissão por mensagem de WhatsApp, sob justificativa de “baixo desempenho”. Poucos dias depois, o carro foi tomado — mesmo com a transferência já iniciada em cartório.

A empresa alegou que Larissa descumpriu cláusulas do regulamento do sorteio, como não cumprir metas internas e alugar o veículo a terceiros. Ela nega as acusações e afirma que nunca foi avisada oficialmente de qualquer violação.

“Foi um clima de empolgação. Assinamos o regulamento no calor do momento, poucos minutos antes do sorteio. Ninguém teve tempo de analisar”, conta.

As metas exigidas para manter o carro incluíam tarefas consideradas “excessivas e incompatíveis” com o cargo da jovem, como: elaborar e-books, firmar parcerias com cartórios, reduzir prazos de processos e arrecadar brinquedos em ações sociais. “É surreal. Esperavam que uma analista executasse funções de nível gerencial ou institucional”, diz o advogado Paulo Ferreira.

Veículo com defeitos e histórico de sinistro

O Jeep Compass, avaliado em cerca de R$ 100 mil, apresentava defeitos desde o primeiro dia. “Luzes de alerta no painel, bateria fraca, para-brisa trincado… precisei investir cerca de R$ 10 mil para deixá-lo em condições mínimas de uso”, relata Larissa.

Documentos obtidos pela reportagem mostram que o veículo tinha histórico de sinistro grave e havia sido arrematado em leilão. Um laudo técnico classificava o carro como “categoria C – com avarias severas”. A defesa afirma que a empresa não informou esses detalhes no ato da entrega, o que pode configurar “vício oculto”.

Retomada do carro sob coação

De acordo com Larissa, o carro foi recolhido de forma forçada. No dia da retomada, o veículo estava com uma supervisora da empresa — que, segundo a ex-funcionária, foi coagida a entregá-lo. “Disseram a ela que teria problemas se não entregasse. Eu sequer fui comunicada”, afirma.

O CRV digital obtido pelo UOL confirma que a transferência estava em curso e com firma reconhecida desde 9 de janeiro. O vendedor registrado seria um intermediador, e não a empresa diretamente.

O advogado da jovem registrou boletim de ocorrência e acusa a empresa de apropriação indevida. “O carro foi tomado enquanto ainda estava no nome de Larissa, sem qualquer respaldo judicial ou autorização dela”, afirma.

Empresa exigiu retratação para firmar acordo

Segundo a defesa, a Quadri chegou a propor um acordo, mas exigiu que Larissa publicasse uma nota de esclarecimento. “Ela recusou. Consideramos essa exigência mais um ato de constrangimento e tentativa de silenciamento”, diz o advogado.

Sem conseguir resolver o impasse, Larissa decidiu tornar o caso público e deve mover ações nas esferas trabalhista, cível e criminal contra a empresa. “Fui promovida, nunca tive advertência. Depois que ganhei o carro, tudo mudou. Hoje estou desempregada, com dívida e me sentindo enganada”, desabafa.

A Quadri Contabilidade foi procurada, mas não respondeu aos questionamentos sobre a legalidade do sorteio, as condições do carro ou as metas estipuladas. O espaço segue aberto para manifestação.

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