🏚️ Prédios-caixão: bombas-relógio habitacionais que assombram o Grande Recife há quase 50 anos
Desde 1977, 18 desabamentos deixaram 54 mortos na RMR. Mesmo proibidos desde 2000, mais de 250 mil pessoas ainda vivem em edifícios com risco estrutural. Especialista alerta: “Nasceram para cair”.

O desabamento do Edifício Kátia Melo, nesta terça-feira (6), no bairro de Piedade, reacende uma tragédia anunciada que se repete há décadas em Pernambuco: a instabilidade estrutural dos chamados prédios-caixão, construções populares feitas com alvenaria resistente que seguem colapsando na Região Metropolitana do Recife (RMR). O prédio, interditado pela Defesa Civil apenas dois dias antes do colapso, caiu sem deixar vítimas — mas não sem alerta.
De 1977 a 2023, 18 prédios do tipo desabaram, deixando 54 mortos. Só no ano passado, duas tragédias com vítimas fatais marcaram a cronologia macabra: o Edifício Leme, em Olinda, com seis mortos, e o Bloco 7 do Conjunto Beira-Mar, em Paulista, onde 14 pessoas morreram após um colapso parcial.
🚨 O que são os prédios-caixão?
Também conhecidos tecnicamente como edifícios de alvenaria resistente, os prédios-caixão foram erguidos em larga escala nos anos 1970 como solução barata para enfrentar o déficit habitacional das periferias urbanas. Diferente dos prédios convencionais, que usam vigas e pilares, eles têm as paredes como principal elemento estrutural.
Essa escolha técnica, no entanto, revelou-se catastrófica com o tempo. Em 2000, a construção desse tipo de edificação foi proibida em Pernambuco, mas o problema persiste.
Segundo levantamento do Instituto de Tecnologia de Pernambuco (Itep), atualizado em 2024, cerca de 254 mil pessoas ainda vivem nesses prédios na RMR, o que representa 8,5% da população local.
🧱 “Nasceram para cair”
O engenheiro civil Luiz Fernando Bernhoeft, do Crea-PE, afirma que o erro estrutural de origem compromete toda a segurança dessas edificações. “Quando você usa o mesmo tijolo cerâmico, feito só para vedação, como base estrutural, mesmo com cálculo técnico, está subestimando o impacto da degradação com o tempo”, explica.
“Esses prédios nasceram para cair com pouco tempo. Não pensaram em durabilidade, só em botar em pé”, completa o engenheiro.
Bernhoeft aponta que há soluções técnicas viáveis para reforçar as estruturas existentes, mas elas são caras e complexas, muitas vezes inviáveis para moradores de baixa renda. A consequência, segundo ele, é previsível: “Infelizmente, não vai parar. É um problema crônico”.
⚠️ Um alerta que não pode mais ser ignorado
Mesmo com alertas, interdições e tragédias recorrentes, os prédios-caixão seguem de pé em diversas áreas urbanas da RMR. Para especialistas, é preciso adotar políticas públicas de requalificação, reforço estrutural ou remoção segura, antes que mais nomes sejam acrescentados à lista de vítimas.