🐟 Pirarucu fora de controle: peixe gigante da Amazônia invade rios de SP e outros 4 estados e ameaça ecossistemas

Considerado um dos maiores peixes de água doce do mundo, o pirarucu já é encontrado fora da Amazônia em ao menos cinco estados brasileiros — e seu avanço preocupa cientistas e autoridades ambientais.

pirarucu (Arapaima gigas), peixe amazônico que pode chegar a 3 metros e pesar até 200 quilos, está se espalhando fora do seu habitat natural e já foi capturado em rios de São Paulo, Bahia, Minas Gerais, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Fora da Amazônia, a espécie é considerada exótica, predadora e potencialmente danosa ao equilíbrio dos ecossistemas aquáticos.

Só no estado de São Paulo, exemplares vêm sendo pescados com frequência no Rio Grande, entre as usinas hidrelétricas de Marimbondo e Água Vermelha. A Secretaria de Meio Ambiente paulista alerta: os peixes não devem ser devolvidos ao rio, e sim destinados a cativeiros autorizados ou instituições de pesquisa.

“Na ausência de predadores naturais, o pirarucu pode causar extinções locais, competir por recursos e comprometer a pesca regional”, alerta a bióloga Lidiane Franceschini, pesquisadora da Unesp.

A presença do peixe em ambientes não amazônicos foi registrada também no Lago de Furnas (MG), nos rios Cuiabá e Paraguai (MT e MS) — ambos da bacia do Prata — e em rios do sudoeste da Bahia, a até 260 km de distância um do outro, o que indica expansão por toda a bacia do São Francisco.

Em muitos casos, a origem da invasão está em pisciculturas com contenção deficiente, que permitiram o escape de indivíduos. Também pesam fatores como o comércio informal de peixes ornamentais de grande porte — prática conhecida como “aquariofilia jumbo”.

⚠️ Risco ambiental e sanitário

Além do impacto na fauna local, os pesquisadores investigam outro problema: a possível disseminação de parasitostrazidos junto com os pirarucus. “Já identificamos parasitas que conseguiram se estabelecer fora da Amazônia. Estamos avaliando os riscos à fauna nativa e à saúde de quem consome o peixe”, afirma o biólogo Igor Paiva Ramos, também da Unesp.

O predador amazônico tem hábitos alimentares onívoros e ocupa o topo da cadeia alimentar, podendo alterar drasticamente o ecossistema ao consumir peixes, invertebrados e outras espécies aquáticas nativas.

Apesar de sua carne saborosa e alto valor comercial, o avanço do pirarucu em rios do Sudeste e Centro-Oeste é classificado como uma invasão biológica difícil de conter. Mesmo com a liberação da pesca esportiva e artesanal durante todo o ano, o controle populacional é visto como insuficiente.

🧬 Um fóssil vivo e uma delicada dualidade

Considerado um “fóssil vivo”, o pirarucu já habitava a Terra na era dos dinossauros, há mais de 100 milhões de anos. Dotado de uma bexiga natatória modificada, ele precisa emergir a cada 10 minutos para respirar, o que facilita sua captura, mas também permite seu monitoramento e manejo sustentável — prática já consolidada na Amazônia.

Projetos como o Gosto da Amazônia e o Coletivo do Pirarucu envolvem povos indígenas, ribeirinhos e pescadores artesanais na proteção e comercialização sustentável da espécie, hoje servida inclusive em eventos diplomáticos. No último dia 25, o peixe foi o prato principal no almoço entre o presidente Lula e o chileno Gabriel Boric.

Em 2022, mais de 2.500 famílias estavam envolvidas em projetos de manejo do pirarucu, com apoio de frigoríficos e políticas públicas locais.

Mesmo com essa importância socioeconômica na Amazônia, fora de seu bioma a presença do pirarucu é alarmante. “Uma vez introduzido, reverter essa situação é praticamente impossível”, diz Lidiane.

Unesp, a UFPR e a Universidade de Valência, com apoio da Fapesp, desenvolvem estudos para compreender os efeitos ecológicos e sanitários da espécie invasora no Sudeste.

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