📰 Morre Seu Vital, guardião de uma bodega que virou patrimônio cultural do Recife

Faleceu na noite desta quarta-feira (30), aos 84 anos, o comerciante Vital José de Barros, o inesquecível Seu Vital, dono da tradicional Venda de Seu Vital, no bairro do Poço da Panela, Zona Norte do Recife. O espaço, famoso pelos forrós e pelo ambiente boêmio, é reconhecido oficialmente como Patrimônio Cultural e Imaterial da cidade desde 2024.
A data de sua morte carrega um peso simbólico: Seu Vital completaria 85 anos nesta quinta-feira (1º), mesma data de nascimento de sua esposa, Dona Severina Firmino de Barros, com quem dividia a vida — e a festa de aniversário. Foi dessa celebração conjunta que nasceram os primeiros “forrozinhos” da bodega, hoje parte da alma do bairro.
Internado desde 24 de abril no Hospital Hapvida, na Ilha do Leite, ele enfrentava problemas respiratórios e faleceu após uma parada cardíaca.
⚰️ Velório e sepultamento
O velório acontece às 13h desta quinta-feira (1º) no Cemitério Morada da Paz, em Paulista, na Região Metropolitana do Recife. O enterro está marcado para as 15h.
🪕 A bodega que virou símbolo da cultura popular
Fundada na década de 1950, a Venda de Seu Vital ocupa um casarão preservado e se transformou, ao longo das décadas, em ponto de encontro de moradores, artistas, músicos e boêmios. A tradição do forró pé de serra, puxado por bandas locais e pelo próprio entusiasmo de Seu Vital, virou marca registrada.
Em outubro de 2024, a Câmara Municipal do Recife aprovou — por projeto da vereadora Cida Pedrosa (PCdoB) — o título de Patrimônio Cultural Imaterial para a bodega. A iniciativa foi sancionada pelo prefeito João Campos (PSB).
“A Venda de Seu Vital é um espaço onde se vive o cotidiano do Recife profundo. É um lugar de memória afetiva, resistência e criação artística”, destacou a vereadora ao justificar a proposta.
🎥 Homenagens e legado
A importância cultural do local foi registrada no documentário “Regente Joaquim e o Forró da Índia”, dirigido pelo jornalista e fotógrafo Rodrigo Lobo. O filme mostra a conexão entre a música, o espaço e a figura de Seu Vital, que era descrito como discreto, mas encantado com o movimento cultural que florescia na sua mercearia.
Sua neta, Jamylle Barros, relembra no filme que o forró era o grande lazer do avô:
“Ele não gostava muito de sair de casa. A alegria dele era ver o povo se reunindo ali, escutar a sanfona, sentir o calor da festa. Era o momento de felicidade dele”.
Em uma fala registrada no documentário, Seu Vital explica, com simplicidade e orgulho, o espírito da bodega:
“Sempre gostei de forró, né? E essa rapaziada… é Chiló, Gerrá e os outros. Começamos fazendo um forrozinho aqui e todo ano a gente se diverte. […] Não tem esse negócio de mudar pra longe, não. É agarrado mesmo!”
Seu Vital parte, mas deixa como herança uma bodega viva na memória do Recife — onde o forró não cessa e a cultura resiste.