“50 crianças”: as acusações de estupro contra o padre Bernardino dos Santos
Investigação do UOL revela suspeitas de abuso sexual infantil cometidos ao longo de quatro décadas por um padre em Minas Gerais

O caso que abalou Minas Gerais
O nome do padre Bernardino Batista dos Santos, 77 anos, estava praticamente esquecido na região metropolitana de Belo Horizonte, onde foi pároco durante décadas. Mas, desde 2021, ele virou alvo de uma investigação que expõe um dos maiores escândalos de abuso sexual infantil no interior do estado.
Segundo a apuração exclusiva do portal UOL, o religioso é acusado de ter abusado sexualmente de cerca de 50 crianças — a maioria meninas entre 3 e 11 anos — entre os anos de 1975 e 2016. Os crimes teriam ocorrido principalmente em igrejas, casas paroquiais, e no sítio particular onde o padre vivia após sua aposentadoria, no município de Tiros.
Vítimas e depoimentos
Sete mulheres que sofreram os abusos ainda crianças decidiram romper o silêncio e denunciar o padre à polícia. As investigações indicam que a prática do padre era sistemática e que ele usava a confiança da comunidade para se aproximar das vítimas.
Uma das vítimas, que prefere manter o anonimato, contou ao UOL que o abuso começou quando ela tinha apenas seis anos. “Ele me chamava para a casa paroquial e dizia que era um segredo nosso. Eu tinha medo de contar, ele ameaçava minha família,” relata.
O padre teria aproveitado-se de sua autoridade para manipular crianças e suas famílias, criando um ambiente de silêncio e medo.
A reabertura do caso e os desafios da Justiça
Em 2016, uma denúncia anônima de uma mãe que suspeitava do abuso do padre contra sua filha de 4 anos motivou a reabertura do inquérito policial, que havia sido arquivado anteriormente por falta de provas.
Com a ajuda de novas testemunhas, a Polícia Civil de Minas Gerais iniciou uma investigação aprofundada, que resultou na prisão preventiva do padre em 2024. Atualmente, Bernardino responde em liberdade, mas sob monitoramento eletrônico.
Devido à prescrição dos crimes mais antigos, muitos casos não poderão ser judicializados, o que frustra familiares e advogados das vítimas. No entanto, o dossiê levantado pelas investigações contribui para desmascarar a rede de silêncio e omissão que envolve a Igreja Católica local.
A resposta da Igreja Católica
Procurada pelo UOL, a Arquidiocese de Belo Horizonte afirmou que “não compactua com qualquer tipo de abuso e que apoia as investigações policiais”. A instituição informou também que está colaborando com as autoridades e que está acompanhando o caso internamente.
Impacto e desdobramentos
O caso do padre Bernardino é mais um entre várias denúncias recentes de abuso sexual dentro da Igreja Católica no Brasil. Especialistas afirmam que episódios como esse expõem a necessidade de políticas rigorosas de prevenção e combate ao abuso dentro das instituições religiosas.
O UOL continuará acompanhando o andamento do processo e os possíveis desdobramentos judiciais e eclesiásticos.
Histórico do padre Bernardino dos Santos
Bernardino Batista dos Santos nasceu em 1947 em uma pequena cidade do interior de Minas Gerais. Ordenado sacerdote em 1972, atuou em diversas paróquias da região metropolitana de Belo Horizonte até sua aposentadoria em 2015. Durante décadas, manteve uma imagem respeitada e próxima da comunidade local, especialmente de famílias com crianças que frequentavam as atividades religiosas.
No entanto, ao longo dos anos, surgiram murmúrios sobre seu comportamento inadequado, mas nunca houve denúncias formais até a década de 2010. A investigação conduzida pela Polícia Civil, reaberta em 2021, revelou que os abusos ocorreram de forma sistemática, em ambientes em que o padre tinha total controle e poder.
Etapas da investigação policial
- 2016: Denúncia anônima provoca a reabertura do inquérito arquivado. Polícia Civil começa coleta de depoimentos e análise de provas.
- 2018: Ouvidas as primeiras vítimas e testemunhas, a polícia identifica padrão de abuso e cria linha do tempo das ocorrências.
- 2021: Nova etapa da investigação, com envolvimento de equipes especializadas em crimes sexuais contra crianças e adolescentes. A polícia obtém laudos psicológicos que confirmam o trauma das vítimas.
- 2023: Pedido de prisão preventiva contra o padre, motivado pelo risco de interferência nas investigações e pela gravidade dos crimes.
- 2024: Prisão preventiva decretada, mas padre responde em liberdade mediante monitoramento eletrônico.
Contexto social e eclesiástico
O caso do padre Bernardino ocorre em um momento em que a Igreja Católica enfrenta pressão crescente por maior transparência e combate a casos de abuso sexual, tanto no Brasil quanto internacionalmente. As denúncias recentes abalaram a confiança de fiéis e exigem uma postura rigorosa das autoridades eclesiásticas.
Especialistas em Direito e Direitos Humanos apontam que a cultura do silêncio, aliada ao prestígio das instituições religiosas, dificulta a denúncia e a apuração desses crimes, perpetuando o sofrimento das vítimas.
Próximos passos e expectativas
- O Ministério Público aguarda conclusão do inquérito para apresentar denúncia formal ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais.
- A Arquidiocese promete acompanhar o processo e implementar medidas internas para prevenção de abusos.
- As vítimas buscam reparação e apoio psicológico, além de políticas públicas eficazes para proteção de crianças.