🕵️♂️ “Abin Paralela”: PF revela esquema de espionagem ilegal sob Bolsonaro com dossiês, perseguições e interferência nas eleições
Relatório aponta que Carlos Bolsonaro e Ramagem comandavam estrutura clandestina com software espião usado para rastrear ministros do STF, políticos e jornalistas

A Polícia Federal (PF) revelou nesta terça-feira (18) o conteúdo do relatório final da investigação sobre o funcionamento de uma estrutura clandestina de espionagem dentro da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), retirou o sigilo da maior parte do processo após identificar vazamentos seletivos à imprensa.
Segundo a PF, a chamada “Abin Paralela” funcionava como um núcleo de inteligência ilegal voltado para a espionagem de adversários políticos, a produção de dossiês, a proteção de aliados da família Bolsonaro e até a tentativa de interferência nas eleições de 2022.
🧠 Como funcionava o esquema?
O grupo utilizava o sistema israelense First Mile, que permite rastrear em tempo real a localização de qualquer celular conectado a redes 2G, 3G ou 4G — tudo sem autorização judicial.
De acordo com o relatório, entre 2019 e 2021, a ferramenta foi usada mais de 60 mil vezes para fins políticos. A estrutura era descrita como uma “Abin paralela”, montada à margem da legalidade com o aval da alta cúpula do governo Bolsonaro.
🔍 Núcleos de atuação
A PF dividiu a organização em quatro núcleos principais:
- Núcleo Político
- Liderado por Carlos Bolsonaro e por duas assessoras: Luciana Almeida (ligada a Carlos) e Priscilla Pereira e Silva (assessora de Ramagem).
- Atuavam como ponte entre o Planalto, a Abin e a família Bolsonaro, solicitando relatórios e espionagens específicas.
- Núcleo de Alta Gestão
- Comandado por Alexandre Ramagem, ex-diretor da Abin e atual deputado federal.
- Tinha como função comandar a operação e disfarçar as atividades ilegais com aparência de legalidade.
- Núcleo “Portaria 157”
- Responsável por tentar associar adversários ao crime organizado, como o PCC.
- Usou o First Mile para monitorar figuras como Rodrigo Maia, Joice Hasselmann e o advogado Roberto Bertholdo.
- Núcleo Técnico (“Tratamento Log”)
- Encabeçado por agentes operacionais que executavam as espionagens e operavam o sistema.
📋 Alvos do monitoramento ilegal
Entre os monitorados pela estrutura da Abin estão:
- O ministro Alexandre de Moraes (STF)
- O ministro Luís Roberto Barroso (STF)
- O ex-deputado Jean Wyllys e familiares
- O deputado Rodrigo Maia
- A jornalista Mônica Bergamo
- A ONG Instituto Sou da Paz
- O movimento Sleeping Giants Brasil
- Membros do Ministério Público, do TSE e da Receita Federal
🧾 Manipulação de provas e dossiês
Segundo a PF, os núcleos produziam relatórios falsos para atrapalhar investigações contra os filhos de Bolsonaro, como o senador Flávio Bolsonaro e Renan Bolsonaro.
Em diversos momentos, o grupo também vazava informações à imprensa ou criava narrativas contra adversáriospolíticos, incluindo ministros do STF, jornalistas e ONGs.
🧨 Interferência nas eleições
A estrutura ilegal também teria sido utilizada para influir no processo eleitoral de 2022, com a criação de documentos sigilosos usados para atacar o sistema eleitoral brasileiro, segundo o relatório.
💰 R$ 5,7 milhões em recursos desviados
A PF identificou que a contratação do First Mile e toda a estrutura ilegal movimentaram pelo menos R$ 5,7 milhões em recursos públicos, sem o devido controle ou finalidade institucional legítima.
👥 Indiciamentos
A Polícia Federal indiciou 26 pessoas, entre elas:
- Carlos Bolsonaro, vereador no Rio de Janeiro
- Alexandre Ramagem, ex-diretor da Abin e deputado federal
- Vários servidores da Abin e policiais federais cedidos à agência
A Procuradoria-Geral da República (PGR) terá agora 15 dias para se manifestar sobre os indiciamentos.
📣 Conclusão da PF:
“A estrutura paralela de inteligência criada na Abin desviou-se completamente dos princípios republicanos, constituindo uma organização criminosa voltada à vigilância ilegal, desinformação e perseguição política, com impacto direto no processo democrático.”
O documento completo da PF
Com base no relatório final da Polícia Federal sobre a chamada “Abin Paralela”, que teve o sigilo retirado por decisão do ministro Alexandre de Moraes, seguem os principais destaques da investigação, organizados em tópicos claros e objetivos para uso jornalístico:
🔍 Destaques do Relatório Final sobre a “Abin Paralela”
📌 Resumo da Operação
- A investigação da PF aponta o uso ilegal do software de espionagem First Mile pela Abin para monitorar ilegalmente cidadãos sem autorização judicial entre 2019 e 2021, durante o governo de Jair Bolsonaro.
- O sistema permitia rastrear a localização de pessoas por antenas de telefonia, burlando a necessidade de autorização judicial.
🕵️♂️ Estrutura da Organização Criminosa (ORCRIM)
A PF identificou quatro núcleos de atuação clandestina dentro da Abin:
- Núcleo Político:
- Composto por Carlos Bolsonaro, sua assessora Luciana Almeida e a assessora de Ramagem, Priscilla Pereira e Silva.
- Atuavam como interlocutores diretos com a estrutura da Abin para obter informações.
- Núcleo de Alta Gestão:
- Liderado por Alexandre Ramagem, ex-diretor da Abin, e servidores de confiança.
- Teriam dado aparência de legalidade às operações ilegais e comandado diretamente os monitoramentos.
- Núcleo da Portaria 157:
- Responsável por tentar vincular adversários políticos ao PCC, como os ex-deputados Rodrigo Maia e Joice Hasselmann.
- Utilizou a ferramenta para produzir provas falsas.
- Núcleo de Execução Técnica (Tratamento Log):
- Responsável por operar o sistema First Mile e inserir os números a serem espionados.
🧠 Modus Operandi
- Foram realizadas mais de 60 mil consultas ilegais usando o First Mile.
- A contratação da ferramenta foi omitida e dissimulada nos documentos oficiais para evitar pareceres jurídicos contrários.
- O objetivo era produzir dossiês, proteger aliados políticos e atacar opositores.
- A estrutura era descrita como uma verdadeira “Abin paralela” e funcionava de forma clandestina e autônoma.
🧾 Monitoramentos ilegais identificados
A PF detalhou ações de espionagem contra:
- O ministro Alexandre de Moraes (STF)
- O ex-deputado Jean Wyllys e sua família
- O deputado Rodrigo Maia
- A jornalista Mônica Bergamo
- A ONG Instituto Sou da Paz
- O movimento Sleeping Giants Brasil
- Integrantes do TSE e do Ministério Público
- Até membros da Receita Federal, em tentativa de interferência institucional
⚠️ Objetivos Políticos e Eleitorais
- A estrutura atuava para beneficiar os filhos de Bolsonaro em investigações criminais, incluindo Flávio e Renan Bolsonaro.
- Produziu relatórios favoráveis à defesa dos investigados e vazava documentos sigilosos.
- Segundo o relatório, houve ação direta para influenciar as eleições de 2022 e atacar o sistema eleitoral.
💰 Recursos públicos desviados
- A operação movimentou cerca de R$ 5,7 milhões com a contratação do sistema First Mile.
- Recursos humanos, tecnológicos e financeiros da Abin foram desviados para fins políticos e pessoais.
👥 Indiciamentos
Foram indiciados:
- Carlos Bolsonaro, vereador no RJ
- Alexandre Ramagem, deputado federal e ex-diretor da Abin
- Diversos servidores da Abin e policiais federais cedidos à agência
🧩 Conclusão da PF
“A estrutura paralela de inteligência criada na Abin desviou-se completamente dos princípios republicanos, constituindo uma organização criminosa voltada à vigilância ilegal, desinformação e perseguição política, com impacto direto no processo democrático.”
🧨 Abin Paralela: PF aponta que aliados de Bolsonaro criaram dossiê contra governo Lula em 2024
Grupo ligado ao “gabinete do ódio” seguiu operando mesmo após saída de Bolsonaro do poder, diz investigação
Mesmo após o fim do governo Jair Bolsonaro (PL), integrantes do chamado “gabinete do ódio” continuaram produzindo dossiês políticos, informações distorcidas e desinformação direcionada contra o governo do presidente Lula (PT). É o que revela o relatório final da Polícia Federal no inquérito da Abin Paralela, que teve o sigilo retirado nesta semana por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF.
A PF identificou ações de espionagem digital e manipulação de informações ainda em 2024, com o objetivo de atacar membros do atual governo, como o ex-ministro da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta, e nomes ligados ao Instituto Lula.
🔎 Espionagem via WhatsApp e dossiês manipulados
Os agentes da PF encontraram conversas entre dois indiciados:
- Richards Pozzer, influenciador bolsonarista;
- Daniel Lemos, assessor do deputado federal Pedro Jr (PL-TO).
Nas mensagens, Pozzer relata ter infiltrado um grupo de WhatsApp chamado “Caçadores de Fake News”, formado por apoiadores de Lula e administrado, entre outros, por Paulo Okamotto, do Instituto Lula.
Ele colheu informações de participantes do grupo e montou um dossiê alegando, sem provas, que empresas ligadas a essas pessoas receberam verba da cota parlamentar de um deputado do PT e da campanha de Lula. O material foi enviado a Daniel Lemos com sugestão de que uma das administradoras fosse convocada para depor na Câmara.
“Mais uma prova do gabinete do ódio”, escreveu Pozzer, ao compartilhar um print em que Paulo Pimenta aparece sendo adicionado ao grupo.
🧾 PF: “É a mesma estrutura da CPI da Covid”
A PF afirmou no relatório que o episódio demonstra a continuidade do “modus operandi” de produção e disseminação de desinformação, com uso do mesmo modelo de ataques já documentado durante a CPI da Covid:
“A sistemática utilizada na construção dos dossiês é a mesma identificada durante a CPI da COVID e direcionada contra seus integrantes”, diz o relatório.
🧩 Conexões com a Abin Paralela
Pozzer teria atuado em ligação direta com a estrutura de inteligência ilegal da Abin, operando como “produtor e disseminador de fake news”, com apoio de assessores ligados ao Palácio do Planalto e ao Congresso, segundo a PF.
Entre os materiais reunidos, há também um dossiê de 2024 sobre a atuação digital da Central Única dos Trabalhadores (CUT), tradicionalmente próxima ao PT.
⚖️ Indiciamentos e crimes atribuídos
A Polícia Federal indiciou Richards Pozzer pelos crimes de:
- Organização criminosa;
- Tentativa de golpe de Estado;
- Obstrução de Justiça;
- Tentativa de impedir o funcionamento dos Poderes.
Já Daniel Lemos foi indiciado por:
- Organização criminosa;
- Peculato;
- Embaraço à investigação.
🤐 Silêncio dos acusados
Em depoimento à PF, ambos os indiciados permaneceram em silêncio. A defesa de Pozzer alegou anteriormente que ele apenas realizava “pesquisas em fontes abertas” e que não tinha ligação com autoridades públicas.
A defesa de Lemos afirmou que ainda não teve acesso ao relatório final.