A conta da prestidigitação fiscal: R$ 390 bilhões em gastos “invisíveis”
Governo Lula acumula despesas fora da meta fiscal que explicam juros elevados e evidenciam fraqueza do arcabouço

O governo federal adicionou mais R$ 9,5 bilhões à conta de gastos que não entram na meta fiscal ao anunciar um plano de socorro para exportadores afetados pelo tarifaço dos Estados Unidos. É apenas mais uma manobra em uma estratégia que já acumula quase R$ 390 bilhões em despesas “invisíveis” desde o início do mandato de Luiz Inácio Lula da Silva.

A conta que não para de crescer
Cálculos das principais consultorias financeiras do país revelam a dimensão do problema. A XP Investimentos estima que as despesas fora da meta devem alcançar R$ 387,8 bilhões até 2026, enquanto o BTG Pactual projeta R$ 389,7 bilhões.
Para dimensionar esses números: a meta fiscal de 2025 é de déficit zero, com margem de tolerância de apenas 0,25% do PIB – equivalente a R$ 31 bilhões. Ou seja, os gastos fora da meta superam em mais de 12 vezes a margem de manobra oficial.
A estratégia da culpa alheia
O Ministério da Fazenda tem uma explicação pronta: 87% dos gastos seriam herança de Jair Bolsonaro. A equipe econômica aponta principalmente o “calote” nos precatórios como responsável pela cifra astronômica:
- R$ 92,38 bilhões em 2023
- R$ 45,30 bilhões em 2024
- R$ 55,10 bilhões previstos para 2025

A farra da PEC da Transição
Embora parte significativa seja mesmo herança bolsonarista, o governo Lula contribuiu decisivamente para o rombo. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição, aprovada no final de 2022 com apoio explícito do presidente eleito, gerou R$ 145 bilhões em gastos extras.
“Era preciso recompor o Orçamento e retomar políticas destruídas pelo bolsonarismo”, admitem fontes governamentais. Mas parlamentares e integrantes do governo aproveitaram a oportunidade para ampliar gastos muito além do necessário.
O arcabouço fiscal em xeque
A substituição do teto de gastos pelo novo arcabouço fiscal ressuscitou os pisos constitucionais de saúde e educação e criou uma nova política de valorização do salário mínimo. O resultado foi um aumento estrutural nas despesas obrigatórias que tornou impossível cumprir as metas.
Eventos “imprevisíveis” que se repetem
O governo justifica os gastos extras com uma série de eventos extraordinários:
- Enchentes no Rio Grande do Sul
- Queimadas no Norte e Centro-Oeste
- Fraudes no INSS com descontos indevidos
- Tarifaço de Trump contra exportações brasileiras
O ciclo vicioso dos juros altos
A recorrência dessas manobras fiscais tem consequências práticas imediatas. Enquanto o governo insiste em alcançar o déficit zero “no papel”, a dívida pública continua crescendo como proporção do PIB, exigindo juros cada vez maiores para ser financiada.
“O mercado não é bobo. Ele vê que a meta fiscal virou uma ficção contábil”, avalia um economista do setor privado, que pediu anonimato.
Perspectivas sombrias

Com as eleições presidenciais se aproximando em 2026, analistas preveem que a conta dos gastos fora da meta só tende a crescer. “Não é preciso ser profeta para ver que virão mais ‘emergências’ e mais manobras”, ironiza outro especialista.
O resultado é a desmoralização completa do arcabouço fiscal como âncora das expectativas. Enquanto o governo celebra metas cumpridas “no papel”, o País paga juros reais entre os mais altos do mundo – reflexo direto da desconfiança em relação à solidez das contas públicas.

O preço da prestidigitação
A prestidigitação fiscal pode até preservar a meta no curto prazo, mas cobra seu preço na forma de juros elevados, dívida crescente e credibilidade perdida. Uma conta que, no final, sempre é paga pelo contribuinte brasileiro.
*A reportagem tentou contato com o Ministério da Fazenda, mas não houve retorno até a publicação.