Até os defuntos
💸 Fraude no INSS: PF aponta uso de funerária para lavar dinheiro de aposentados
Investigação revela que entidades simularam mortes em massa e movimentaram milhões com serviços que nunca prestaram
Uma investigação da Polícia Federal revelou que associações suspeitas de fraudes contra aposentados do INSS utilizaram uma funerária para lavar dinheiro de contribuições descontadas ilegalmente. Segundo relatório da PF, a Global Planos Funerários, sediada no Ceará, foi usada para simular a morte de milhares de aposentados e movimentar recursos públicos de forma irregular.

A empresa recebeu R$ 34 milhões da Caap (Caixa de Assistência aos Aposentados e Pensionistas) e R$ 2,3 milhões da Aapen (Associação dos Aposentados e Pensionistas Nacional) — ambas investigadas por aplicar descontos indevidos em benefícios previdenciários. Os dados foram rastreados pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras).
⚰️ Mortes simuladas e lavagem de dinheiro
Com valores tão altos, os pagamentos à funerária dariam para bancar o funeral de 8.713 pessoas entre 2022 e 2024 — o que equivaleria a 19 mortes por dia entre os associados da Caap. No caso da Aapen, a média seria de 3,78 funerais diários. A PF questiona: como tantas “mortes” não impactaram o número de contribuintes ativos das entidades?
Mais grave: nenhuma das associações sequer oferecia plano funerário aos seus membros.
🧾 Transferências suspeitas
A Global pertence a José Lins Neto, ex-presidente da Caap e ligado à Aapen. Parte dos recursos recebidos foi transferida para a Clínica Máxima Saúde Ltda, que tem como sócio o genro da tesoureira da Aapen, Maria Luzimar Rocha Lopes. A clínica recebeu R$ 12 milhões da funerária.
A PF afirma:
“É difícil compreender a prestação de serviços funerários pela Global à Máxima Saúde, bem como o elevado valor das transferências.”
O relatório conclui que a rota — descontos → Global → clínica — foi usada para lavar dinheiro oriundo de filiações fraudulentas.
🧑⚖️ Justiça bloqueia milhões
A Justiça Federal autorizou o bloqueio de até R$ 147,3 milhões da Caap, R$ 147,3 milhões da Global, e R$ 202 milhões da Aapen. A decisão foi embasada em indícios robustos de lavagem de dinheiro e organização criminosa.
A auditoria da CGU (Controladoria-Geral da União) confirmou as irregularidades: dos 210 supostos associados da Aapen entrevistados, nenhum autorizou o desconto. Na Caap, só uma pessoa entre 215 confirmou ter dado autorização.
👥 As lideranças por trás do esquema
As duas entidades foram presididas por Cecília Rodrigues Mota, investigada por enriquecimento ilícito e pagamento de propina. A tesoureira Maria Luzimar teria recebido R$ 700 mil em transações suspeitas. Para a PF, ela não é apenas uma laranja — atuou diretamente no esquema.
🧾 Dados da fraude
Entidade | Associados com desconto | Receita desde 2019 |
---|---|---|
Aapen | 382,4 mil | R$ 81,9 milhões |
Caap | 265,4 mil | R$ 48 milhões |
As autorizações para desconto começaram repentinamente em 2023, e em 2022 nenhuma das entidades tinha filiados autorizando repasses, segundo dados oficiais.
🔚 Encerramento e silêncio
A Global Planos Funerários teve o CNPJ encerrado em 1º de abril de 2025, semanas antes de ser alvo da Operação Sem Desconto, deflagrada em 23 de abril. A reportagem tentou contato com os envolvidos, mas nenhum respondeu aos questionamentos.