Bolsonaro no banco dos réus: a trama golpista que chega ao STF

O ex-presidente enfrenta julgamento histórico por tentativa de golpe de Estado, enquanto outros núcleos aguardam sua vez na Justiça

O julgamento que marca uma era

Em 2 de setembro de 2025, o Brasil testemunha um momento sem precedentes em sua história democrática: o ex-presidente Jair Bolsonaro senta no banco dos réus do Supremo Tribunal Federal (STF), acusado de liderar uma tentativa de golpe de Estado para se manter no poder após a derrota eleitoral de 2022.

O julgamento, que acontece na Primeira Turma do STF, representa o desfecho de uma investigação de mais de dois anos que revelou uma complexa trama envolvendo militares de alta patente, autoridades governamentais e até planos de assassinato de adversários políticos.

A cronologia do golpe: dois anos de conspirações

A investigação da Polícia Federal e da Procuradoria-Geral da República mapeou um plano meticuloso que começou muito antes das eleições de 2022. A trama incluiu:

Fase 1: Descrédito das instituições (2021-2022)

  • Julho de 2021: Bolsonaro realiza live atacando as urnas eletrônicas com apoio da ABIN
  • Setembro de 2021: Discursos golpistas no 7 de Setembro, com ameaças ao STF
  • Julho de 2022: Reunião com embaixadores para internacionalizar a narrativa de fraude

Fase 2: Manipulação eleitoral (2022)

  • Julho de 2022: Reunião ministerial para alinhar discurso anti-urnas
  • Outubro de 2022: Uso da PRF para dificultar votação no Nordeste
  • Novembro de 2022: Mobilização de hackers e produção de relatórios falsos

Fase 3: A tentativa de ruptura (2022-2023)

  • Dezembro de 2022: Elaboração do decreto golpista e plano para assassinar Alexandre de Moraes
  • Janeiro de 2023: Os ataques de 8 de Janeiro como última cartada
  • 2023-2025: Fuga de Bolsonaro e continuidade da articulação no exterior

Os núcleos da conspiração

A Procuradoria-Geral da República organizou a denúncia em cinco núcleos distintos, cada um em fase diferente do processo:

Núcleo 1 – O comando central Os oito réus principais, incluindo Bolsonaro, já estão na fase final do julgamento. Este grupo responde por todos os crimes: organização criminosa armada, tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e danos ao patrimônio público.

Núcleos 2 a 5 – Os operadores Os demais 29 réus estão distribuídos em outros núcleos, em diferentes fases processuais, desde a instrução até as alegações finais.

Paralelos com o caso Lula

O julgamento de Bolsonaro ecoa estratégias já vistas na defesa de Lula durante a Lava Jato. Ambos os casos exploram a tese da “lawfare” (perseguição judicial), apelam a aliados no exterior e questionam a imparcialidade dos julgadores.

A ironia é evidente: Cristiano Zanin, que como advogado defendeu Lula contra Sergio Moro, agora, como ministro do STF, participará do julgamento de Bolsonaro, que questiona a atuação de Alexandre de Moraes.

O que está em jogo

Além das consequências jurídicas para os réus, o julgamento pode redefinir os limites da democracia brasileira e estabelecer precedentes importantes sobre:

  • Responsabilização de ex-presidentes por crimes contra a democracia
  • Papel das Forças Armadas em contextos de crise institucional
  • Limites da liberdade de expressão versus incitação à ruptura institucional
  • Proteção das instituições democráticas contra ataques sistemáticos

O futuro político em questão

Embora Bolsonaro já esteja inelegível até 2030 por decisões do TSE, uma eventual condenação criminal pode ampliar essas restrições e afetar não apenas sua carreira política, mas também a de seus aliados próximos.

O ex-presidente, em prisão domiciliar desde agosto de 2025, acompanha o julgamento que pode definir não apenas seu destino pessoal, mas também o rumo da extrema direita brasileira nos próximos anos.


O julgamento está previsto para ocorrer nos dias 2, 3, 9, 10 e 12 de setembro de 2025, com sessões presenciais na Primeira Turma do STF.

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