“Careca do INSS” repassou dinheiro de fraudes a servidores do órgão, aponta PF

Lobista movimentou mais de R$ 24 milhões em cinco meses e recebia até 27,5% de comissão sobre descontos ilegais aplicados a aposentados. Esquema envolvia ex-diretores e procuradores do INSS.

A Polícia Federal identificou que o lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, de 61 anos — conhecido como “Careca do INSS” — destinou parte dos recursos desviados de aposentados para servidores do próprio Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A investigação indica que Antunes recebia comissões generosas por sua atuação junto a entidades suspeitas de aplicar descontos indevidos diretamente nos contracheques de beneficiários da Previdência.

Segundo documentos obtidos pela TV Globo e pelo portal Metrópoles, Antunes teria movimentado mais de R$ 24,5 milhões em apenas cinco meses, utilizando empresas de fachada e acordos de cooperação técnica para driblar a fiscalização e manter o esquema operando com apoio interno. Em um dos contratos, ele chegou a embolsar 27,5% sobre cada valor descontado de aposentados vinculados ao Cebap (Centro de Estudos dos Benefícios dos Aposentados e Pensionistas).

O lobista é apontado como peça-chave no que a PF chama de “farra do INSS” — um complexo sistema de desvio de dinheiro público por meio de falsas associações, registros fraudulentos de filiações e uso de servidores públicos como facilitadores. Parte dos repasses teria ido para:

  • Thaisa Hoffmann Jonasson, esposa do então procurador-geral do INSS, Virgílio Oliveira Filho;
  • Alexandre Guimarães, ex-diretor de Governança e Planejamento do INSS no governo Bolsonaro;
  • Eric Douglas Fidelis, advogado e filho de André Fidelis, ex-diretor de Benefícios do INSS.

Entre agosto de 2023 e fevereiro de 2024, Antunes movimentou mais de R$ 7 milhões em apenas uma das contas bancárias investigadas. Ele usava uma rede de empresas, muitas criadas após 2022, para camuflar os destinos finais dos valores. Em apenas nove meses, essas empresas movimentaram R$ 49 milhões entre si, dificultando o rastreamento do dinheiro.

A empresa que concentrava os maiores repasses era a Arpar Administração, usada para transferir valores a terceiros. Antunes também figura como procurador de associações presididas por idosos aposentados por invalidez ou sem experiência administrativa — perfil que, segundo a CGU, aponta para o uso de laranjas.

A Ambec (Associação de Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos), por exemplo, enviou R$ 11 milhões para empresas ligadas ao lobista. Desde que Antunes assumiu como procurador da associação, a entidade viu seu faturamento mensal saltar de R$ 1,2 milhão para mais de R$ 20 milhões, com base em descontos diretos nos benefícios de segurados.

Além dos repasses ilícitos, a PF encontrou provas de aquisição de imóveis de luxo por parte de Antunes — incluindo uma mansão de R$ 3 milhões em Brasília. Ele também mantinha uma empresa registrada nas Ilhas Virgens Britânicas e ostentava uma frota com carros como Porsche e BMW.

O esquema só começou a ruir após alertas da CGU e do TCU, que investigavam o aumento explosivo nos descontos não autorizados em aposentadorias desde 2023. Apesar disso, o ministro da Previdência, Carlos Lupi, demorou quase um ano para agir. Ele foi o responsável por indicar o ex-presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, exonerado após a operação da PF.

Antunes nega as acusações. A defesa de servidores citados afirma que não teve acesso aos autos e que não há provas de envolvimento.

A PF e a CGU seguem investigando a participação de empresas, associações e servidores públicos em um esquema que pode ter causado prejuízo bilionário aos cofres públicos e aos aposentados mais vulneráveis do país.

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