Carta apreendida revela “mercado imobiliário” ilegal em presídio de PE: suítes de luxo eram vendidas por até R$ 80 mil

Esquema contava com celulares, garotas de programa, festas, drogas e até Playstation — tudo sob o comando de um detento transferido para presídio federal
Uma carta escrita por Lyferson Barbosa da Silva, um dos presos mais influentes do Presídio de Igarassu, no Grande Recife, revelou o esquema milionário de venda de celas de luxo — chamadas de “imóveis” — dentro da unidade prisional. O conteúdo, obtido com exclusividade pela Polícia Federal, mostra que os espaços sob domínio do detento chegavam a ser negociados por até R$ 80 mil.
A correspondência, endereçada ao irmão de Lyferson, orientava a venda de três celas com “estrutura diferenciada”. Uma delas possuía uma TV de 80 polegadas. Segundo a PF, os presos tinham acesso a delivery, drogas, bebidas, garotas de programa, joias e até jogos eletrônicos, em celas com porcelanato e decoração personalizada. Tudo com a conivência — e participação ativa — de servidores públicos.

Preso de luxo
Conhecido como “Lobo” ou “Mago”, Lyferson é apontado como líder de uma facção criminosa atuante em Pernambuco. Foi transferido em 2023 para a Penitenciária Federal de Campo Grande (MS), após vir à tona seu papel central no esquema de corrupção e controle do tráfico dentro da unidade.
De acordo com a investigação, ele negociava diretamente com o então diretor do presídio, Charles Belarmino Queiroz — chamado por Lyferson de “Charles Bronson”. Também mantinha contato com outros agentes penais, como o chefe de disciplina Eronildo José dos Santos, a quem recorria para autorizar festas e entrada de garotas de programa.
Em troca, transferia dinheiro via Pix e distribuía alimentos e regalias para os policiais penais. Entre os bens de luxo em sua cela, a PF destaca: roupas de grife, relógios, joias avaliadas em R$ 163 mil, celulares iPhone, videogame Playstation 4 Pro e equipamentos de som.

Ataques ordenados da cadeia
A PF também descobriu que Lyferson ordenou ataques contra escolas, hospitais e até a sede do Detran-PE, em 2023. As ações teriam sido motivadas por insatisfação com mudanças na cúpula da Secretaria de Defesa Social. Em mensagens interceptadas, ele ordena que “veículos sejam incendiados” e “pessoas inocentes sejam assassinadas”.
Além disso, foi descoberto um laboratório de drogas funcionando dentro do espaço cultural do presídio. Os entorpecentes eram comercializados entre os presos e enviados para fora da cadeia.

Operação La Catedral
O escândalo é alvo da Operação La Catedral, deflagrada pela Polícia Federal. Na primeira fase, em fevereiro deste ano, foram presos o ex-diretor Charles Belarmino e outros sete agentes penitenciários. Nesta semana, a segunda fase mirou André Albuquerque, ex-secretário executivo da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap), acusado de receber parte dos lucros ilegais do esquema.
Na casa de André, no bairro do Prado, Zona Oeste do Recife, foram apreendidos celulares, arma funcional e uma caminhonete Amarok.
A investigação identificou ainda fraudes em documentos para beneficiar presos com progressões de pena. Segundo o relatório da PF, a prática era frequente e lucrativa.
A Seap afirmou, em nota, que “não compactua com quaisquer atos ilícitos” e colabora com as investigações.
