Corregedoria indicia 17 PMs presos por suspeita de envolvimento no assassinato do delator do PCC
A Corregedoria da Polícia Militar indiciou, nesta quinta-feira (30), os 17 policiais militares presos sob suspeita de participação no assassinato de Vinícius Gritzbach, delator do Primeiro Comando da Capital (PCC). O crime ocorreu em novembro do ano passado, na área de desembarque do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. O inquérito deve ser concluído nos próximos dias e encaminhado à Justiça Militar. As provas também serão compartilhadas com o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que conduz a investigação sobre o homicídio.
Indiciamentos e acusações
Entre os indiciados, 13 PMs faziam a escolta particular de Gritzbach, enquanto um tenente era responsável por organizar as escalas de trabalho dos policiais para que pudessem prestar serviço ao delator. Esses 14 agentes foram enquadrados por organização criminosa. Já os três suspeitos de participação direta no assassinato responderão, além desse crime, por associação para a prática de atos violentos, conforme previsto no Código Penal Militar.
O SP2 teve acesso aos depoimentos de três dos principais suspeitos: o cabo Denis Martins e o soldado Ruan Silva Rodrigues, apontados como os executores, além do tenente Fernando Genauro da Silva, que teria dirigido o carro usado pelos atiradores. Os três negaram envolvimento no crime.
Nova revelação e conexões com criptomoedas
Um detalhe trazido pelo tenente Genauro chamou a atenção dos investigadores. Ele afirmou que, por investir amadoramente em criptomoedas, foi procurado, no ano passado, pelo tenente Garcia, um dos envolvidos na escolta de Gritzbach, para uma reunião com policiais civis. O objetivo seria discutir formas de ajudar um conhecido a acessar cerca de R$ 50 milhões em criptomoedas. Esse indivíduo foi identificado como Danilo Lima Silva, que atuava como uma espécie de secretário do delator.
Imagens reforçam participação de policial no crime
No inquérito conduzido pelo DHPP, foram incluídas imagens de reconhecimento facial que reforçam a suspeita de participação do soldado Ruan no crime. Uma comparação entre uma foto tirada na delegacia após sua prisão e registros de câmeras de segurança do ônibus usado pelos suspeitos na fuga destaca semelhanças em características físicas, como nariz, olhos, orelhas e entradas na testa.
Até agora, 27 pessoas foram presas sob suspeita de envolvimento na morte de Gritzbach. Além dos 17 PMs, a lista inclui cinco policiais civis, um advogado, dois empresários e dois indivíduos ligados a Kauê, apontado como o “olheiro” que alertou os assassinos sobre a chegada do delator ao aeroporto.
Investigação e desdobramentos
A investigação que levou à prisão dos policiais começou em março do ano passado, após uma denúncia anônima sobre o vazamento de informações sigilosas da polícia para criminosos ligados ao PCC. Essas informações estratégicas eram repassadas por PMs da ativa e da reserva, permitindo que a facção se antecipasse a ações policiais e evitasse prejuízos financeiros.
Em outubro, uma nova denúncia revelou imagens de policiais militares escoltando Gritzbach durante uma audiência no Fórum da Barra Funda, na capital paulista. O caso resultou na abertura de um inquérito militar. Pouco tempo depois, em 8 de novembro, o delator foi morto a tiros ao desembarcar no aeroporto, carregando uma mala com mais de R$ 1 milhão em joias e objetos de valor.
No dia seguinte ao crime, quatro PMs que faziam a escolta particular de Gritzbach foram identificados e afastados, e seus celulares foram apreendidos. A análise desse material revelou a existência de uma rede de proteção ao PCC dentro da polícia militar.
Técnicas de investigação e prisão dos suspeitos
Os policiais foram identificados e presos por meio de diversas ferramentas de inteligência, como quebra de sigilo telefônico, rastreamento de sinal de celular, uso de estações rádio-base e reconhecimento facial. O secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, destacou que a tecnologia permitiu confirmar a presença do cabo Denis Martins, suspeito de ser um dos atiradores, na cena do crime.
Além disso, a identificação de Martins foi reforçada por uma tatuagem no braço, comparada a imagens obtidas no dia da execução. O material genético do suspeito será analisado para confirmar sua ligação com o crime.
Mandantes do crime ainda não foram identificados
A diretora do DHPP, delegada Ivalda Aleixo, afirmou que o assassinato foi encomendado por integrantes do PCC. No entanto, ainda não há uma identificação precisa dos mandantes. Segundo a delegada, há duas linhas de investigação em andamento, e a hipótese de que o crime tenha sido ordenado por policiais não é considerada prioritária.
Como foi a execução de Gritzbach?
Imagens de câmeras de segurança registraram o momento do assassinato no Terminal 2 do aeroporto. Dois atiradores encapuzados saíram de um carro e dispararam contra o delator, que tentou fugir, mas tropeçou e caiu, sendo atingido por mais disparos. No total, Gritzbach levou dez tiros.
Os criminosos fugiram imediatamente após a execução. As investigações continuam para esclarecer todos os detalhes do crime e identificar os responsáveis pela ordem de execução do delator.