Crise no IBGE se agrava após lançamento de mapa-múndi invertido sob comando de Pochmann

Servidores acusam presidente do instituto de promover desvio institucional com uso político da imagem do Brasil; direção permanece em silêncio diante da crise

RIO — A publicação de um novo mapa-múndi oficial com o Brasil no centro e o hemisfério sul no topo reacendeu a crise institucional dentro do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Servidores e técnicos criticaram duramente a gestão do presidente Marcio Pochmann, acusando-o de desvirtuar a função técnica do órgão e promover uma “encenação simbólica” com fins ideológicos.

O lançamento, feito sem consulta às áreas técnicas, foi classificado como “um gesto sem respaldo técnico reconhecido pelas convenções cartográficas internacionais” e “uma violação à missão institucional do IBGE”, segundo manifesto divulgado por servidores da unidade Chile, a maior do instituto, que abriga mais de 700 funcionários.

“A grandeza internacional não se conquista colocando o Brasil no centro do papel, mas com dados confiáveis, instituições fortes e compromisso com a verdade”, afirma o texto assinado pelo núcleo sindical. O grupo também denuncia a violação de princípios constitucionais como impessoalidade, moralidade e finalidade administrativa.

Em nota anterior, o sindicato nacional (Assibge-SN) reconheceu que o mapa não tem erro técnico, mas criticou o lançamento como expressão de uma agenda pessoal do presidente. “Não houve participação das equipes especializadas, tampouco um processo institucional transparente”, afirmou.

A direção do IBGE não respondeu aos questionamentos da reportagem.

O novo mapa-múndi dá destaque ao Brasil, países do BRICS, Mercosul, lusófonos e com bioma amazônico, e marca as cidades de Rio de Janeiro, Belém e o estado do Ceará. Segundo Pochmann, o objetivo é “estimular a reflexão sobre o protagonismo do Brasil no novo cenário geopolítico global”.

Esta não é a primeira polêmica sob sua gestão. Em janeiro, o anuário Brasil em Números 2024 foi lançado com um prefácio elogioso da governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, o que também gerou protestos por uso indevido do espaço técnico para promoção política.

“O IBGE não pertence a governos, mas ao Estado brasileiro. Precisa estar no centro da honestidade técnica, não da vaidade ideológica”, conclui o manifesto.

O mapa está à venda no site oficial do instituto.

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