Distribuidora investigada por ligação com PCC mantém contratos milionários com governo federal

Rede Sol Fuel soma R$ 424 milhões em acordos públicos e abastece desde a Presidência até Forças Armadas

Uma empresa de distribuição de combustíveis investigada por suposta ligação com o Primeiro Comando da Capital (PCC) mantém contratos milionários ativos com órgãos do governo federal, incluindo a Presidência da República e diversos ministérios.

A Rede Sol Fuel Distribuidora, com sede em Ribeirão Preto (SP), é alvo da Operação Carbono Oculto, deflagrada pelo Ministério Público de São Paulo em parceria com a Polícia Federal e Receita Federal. Mesmo sob investigação, a empresa possui pelo menos 26 contratos ativos que somam R$ 424 milhões com prefeituras, empresas estatais e forças de segurança em todo o país.

Contratos estratégicos com o poder público

Entre os acordos mais relevantes firmados pela distribuidora estão:

  • Presidência da República: R$ 3,1 milhões para abastecimento de veículos oficiais e residências presidenciais
  • Comando da Aeronáutica: R$ 154 milhões para fornecimento de querosene de aviação
  • Polícia Militar do Rio de Janeiro: R$ 148 milhões para gasolina comum
  • Ministério da Fazenda: R$ 1,31 milhão para combustíveis diversos
  • Ministério da Saúde: R$ 330 mil para óleo diesel

A empresa também mantém contratos com o Superior Tribunal de Justiça (STJ), comandos do Exército e da Marinha, além de governos estaduais de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

Investigação aponta ligações criminosas

Segundo as investigações, o proprietário da Rede Sol, Valdemar de Bortoli Júnior, possui “sólidos vínculos com diversas entidades e indivíduos envolvidos nas fraudes e lavagem de capitais”. O Ministério Público aponta que a distribuidora teria sido adquirida pelo fundo Mabruk II por R$ 30 milhões — valor contestado pela empresa.

O fundo Mabruk II é investigado como um dos principais instrumentos financeiros utilizados pelo PCC para lavar dinheiro através do setor de combustíveis, segundo a Operação Carbono Oculto.

Empresa nega envolvimento criminal

Em nota oficial divulgada na quarta-feira (4), a Rede Sol negou categoricamente qualquer ligação com o crime organizado ou com o fundo Mabruk II. A empresa afirmou que:

  • Realizou em novembro de 2023 uma emissão regular de nota comercial no valor de R$ 30 milhões, sem vinculação com fundos investigados
  • Nunca emitiu debêntures no valor mencionado de R$ 190 milhões
  • Mantém há 26 anos uma trajetória de cumprimento legal e pagamento de impostos
  • Suas demonstrações financeiras são auditadas pela Grant Thornton

A distribuidora também esclareceu que sua base operacional em Jardinópolis (SP) é um condomínio compartilhado por cerca de 15 empresas do setor, todas com autorização da Agência Nacional do Petróleo (ANP).

Expansão nacional dos contratos

Levantamento realizado com base no Portal Nacional de Contratações Públicas revela que a Rede Sol expandiu significativamente sua presença no setor público. Recentemente, a empresa firmou contratos de R$ 12,6 milhões com a Prefeitura de Codó, no Maranhão, distribuídos entre:

  • Secretaria de Educação: R$ 3,4 milhões
  • Secretaria de Saúde: R$ 3,4 milhões
  • Secretaria de Infraestrutura: R$ 3,4 milhões
  • Secretaria de Desenvolvimento Social: R$ 1,7 milhão
  • Sistema Autônomo de Água e Esgoto: R$ 600 mil

Órgãos defendem legalidade das contratações

Procurados pela reportagem, os órgãos contratantes afirmaram que a Rede Sol venceu processos licitatórios regulares, seguindo a legislação vigente. O Comando da Aeronáutica informou que utilizou o critério de menor preço em pregão eletrônico, enquanto a Polícia Militar do Rio destacou que o processo seguiu “trâmites legais”.

A Procuradoria-Geral do Estado de São Paulo informou que “caso comprovado o envolvimento da empresa com organizações criminosas, serão tomadas as medidas cabíveis com base nos princípios da moralidade, legalidade e interesse público”.

Impacto financeiro e operacional

Os contratos públicos representam entre 15% e 20% do faturamento total da Rede Sol, segundo informações da própria empresa. A distribuidora opera em território nacional através de filiais estratégicas em diversos estados e emprega aproximadamente 200 colaboradores diretos.

As investigações da Operação Carbono Oculto continuam em andamento, com foco na suposta rede de lavagem de dinheiro que utilizaria empresas do setor de combustíveis para movimentar recursos ilícitos do PCC.


A reportagem permanece acompanhando os desdobramentos do caso e o espaço segue aberto para manifestações de todos os envolvidos.

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