Em 12 estados, há mais pessoas no Bolsa Família do que com carteira assinada: dependência ainda domina Norte e Nordeste
Dados revelam impacto histórico da informalidade e mostram reversão gradual desde 2023, com aumento do emprego e corte de benefícios.

Doze dos 27 estados brasileiros têm hoje mais beneficiários do Bolsa Família do que trabalhadores com carteira assinada no setor privado. O levantamento, baseado em dados do Caged divulgados em 28 de maio, revela um cenário persistente de dependência social no Norte e Nordeste, as duas regiões que concentram todos os estados nesta condição.
A discrepância é mais acentuada no Maranhão, onde há 1,2 milhão de famílias recebendo o benefício, contra apenas 669 mil empregos formais — quase o dobro de beneficiários para cada trabalhador com carteira assinada.
Na outra ponta, Santa Catarina registra a menor proporção: 11 empregos formais para cada beneficiário do Bolsa Família, refletindo um mercado de trabalho mais robusto.
🔄 Tendência de reversão desde 2023
O cenário atual, embora ainda alarmante, vem mostrando sinais de mudança desde o início do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Entre janeiro de 2023 e agosto de 2024:
- Foram criadas 4 milhões de novas vagas formais no país.
- 1,1 milhão de beneficiários foram excluídos do programa, principalmente em revisões de cadastros suspeitos, como famílias unipessoais inseridas em massa durante o governo anterior.
Com isso, a proporção de beneficiários em relação ao total de empregos com carteira caiu de 49,6% para 42,6% no período.
📉 Como chegamos aqui?
Antes da pandemia, apenas oito estados tinham mais beneficiários do que empregados formais. Com a crise sanitária e a explosão de programas emergenciais, o número saltou para 13 em 2022. Em meio ao processo eleitoral daquele ano, o então presidente Jair Bolsonaro (PL) ampliou o número de beneficiários em 49%, nos três meses que antecederam o pleito.
Além disso, elevou temporariamente o valor do benefício para R$ 600, que acabou tornando-se permanente. Já no atual governo, o programa voltou a se chamar Bolsa Família e passou a pagar uma média de R$ 681.
📊 O que dizem os números
- Janeiro de 2020: 39,6 milhões de empregos formais e 13,2 milhões de beneficiários.
- Janeiro de 2023: para cada 2 trabalhadores com carteira assinada, havia 1 beneficiário do Bolsa Família.
📍 Estados onde o Bolsa Família supera o emprego formal
Fonte: Caged e Ministério do Desenvolvimento Social (mai/2025)
Estado | Beneficiários do Bolsa Família | Empregos com Carteira Assinada | Proporção |
---|---|---|---|
Maranhão | 1.200.000 | 669.000 | 1,8 para 1 |
Piauí | 777.000 | 462.000 | 1,68 para 1 |
Alagoas | 789.000 | 470.000 | 1,68 para 1 |
Sergipe | 599.000 | 369.000 | 1,62 para 1 |
Paraíba | 862.000 | 545.000 | 1,58 para 1 |
Acre | 309.000 | 200.000 | 1,55 para 1 |
Amazonas | 950.000 | 645.000 | 1,47 para 1 |
Bahia | 2.560.000 | 1.840.000 | 1,39 para 1 |
Ceará | 1.920.000 | 1.410.000 | 1,36 para 1 |
Pará | 1.800.000 | 1.340.000 | 1,34 para 1 |
Roraima | 160.000 | 123.000 | 1,30 para 1 |
Amapá | 230.000 | 180.000 | 1,27 para 1 |
🔎 Destaque:
- Maranhão lidera a lista com quase o dobro de beneficiários em relação a empregos formais.
- Bahia e Ceará, estados populosos, somam juntos mais de 4,4 milhões de famílias no programa.
- Todos os 12 estados estão localizados nas regiões Norte e Nordeste, onde a informalidade é historicamente maior.