Entidade investigada por fraude no INSS tem mais associados que Palmeiras, Corinthians e São Paulo somados

ESTADÃO
Você acha que, depois da operação da Polícia Federal, os descontos automáticos no INSS vão acabar? Pois saiba: é só questão de tempo para eles voltarem. E talvez você ainda não conheça o nome por trás do maior volume desses descontos: Contag.
Em três minutos, é provável que você não se lembre mais de como era sua vida antes de ouvir esse nome. A Contag, sigla para Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura, entrou no centro do escândalo das fraudes no INSS não por ser nova ou obscura — muito pelo contrário.
Ela é a maior de todas as entidades que descontam mensalmente valores das aposentadorias de milhões de brasileiros. Segundo a Polícia Federal, antes mesmo da explosão das associações “picaretas”, a Contag respondia por 80% dos descontos autorizados.
Só ela fazia descontos em 1,3 milhão de benefícios. É isso mesmo: 1,3 milhão de pessoas que supostamente autorizaram religiosamente contribuições mensais à entidade rural, com os valores sendo descontados diretamente de suas aposentadorias ou pensões.
Para efeito de comparação, a Contag tem mais “filiados” do que Palmeiras, São Paulo e Corinthians somados. Mais do que a população inteira de Campinas. Mais até do que todos os hondurenhos vivendo nos Estados Unidos.
Como isso é possível em um país em que 90% da população é urbana? A resposta está em uma particularidade da previdência rural, que custa R$ 200 bilhões por ano aos cofres públicos. Ao contrário do regime geral, o rural permite aposentadoria antecipada e sem necessidade de contribuição — basta provar que trabalhou no campo.
E é aí que entra o sindicato.
Em milhares de cidades brasileiras, há mais “aposentados rurais” do que urbanos, e muita gente acredita que precisa estar filiada a sindicatos como a Contag para manter o benefício. Outros são induzidos a autorizar os descontos, muitas vezes sem saber como cancelar. Há também os que, de fato, escolhem contribuir — mas ninguém sabe exatamente quantos são.
Segundo a PF, a Contag arrecadou cerca de R$ 2 bilhões entre 2019 e 2024 só com esses descontos automáticos. Um relatório do Coaf apontou que quase R$ 30 milhões foram repassados pela entidade de forma fracionada a um grupo de contas – indício comum em movimentações suspeitas.
A Contag sempre foi contra mudanças que ameaçassem esse modelo. Lutou contra a reforma da Previdência de 2019, especialmente na parte que pretendia acabar com a comprovação de atividade rural via sindicato. Chamou a proposta de “excludente e machista”.
Mas a realidade que agora se impõe é outra. A entidade que por décadas foi considerada tradicional está no olho do furacão da maior investigação sobre fraudes no INSS já feita no Brasil.
E, se você acha que isso vai mudar o sistema de descontos… Talvez ainda não tenha entendido como as coisas funcionam de verdade.
📌 Destaques do texto:
- Contag no centro do escândalo do INSS
- É a maior entidade em volume de descontos feitos diretamente nas aposentadorias.
- Segundo a PF, respondeu por 80% dos pagamentos antes da proliferação das demais associações.
- Número impressionante de “associados”
- Realizava descontos mensais em 1,3 milhão de benefícios.
- Tem mais filiados do que Palmeiras, São Paulo e Corinthians somados.
- A “população da Contag” é maior do que Campinas e superior à de hondurenhos vivendo nos EUA.
- Aposentadoria rural e fragilidade no controle
- O Brasil é majoritariamente urbano, mas em milhares de municípios, há mais aposentados rurais do que urbanos.
- A previdência rural custa R$ 200 bilhões/ano e não exige contribuição formal – apenas prova de trabalho no campo.
- Muitos acreditam que precisam estar filiados a sindicatos (como a Contag) para manter o benefício.
- Suspeitas levantadas pela PF e pelo Coaf
- A Contag arrecadou R$ 2 bilhões entre 2019 e 2024 em descontos via INSS.
- Quase R$ 30 milhões foram repassados de forma fracionada, o que é considerado um indício de lavagem ou ocultação de origem.
- Resistência política à reforma da previdência
- A Contag se opôs fortemente à reforma de 2019, que pretendia acabar com a comprovação por sindicatos.
- Chamou a proposta de “excludente e machista”.
- Ceticismo com o fim dos descontos automáticos
- O autor alerta que a suspensão dos descontos é temporária e pode ser revertida.
- Critica a ilusão de que o escândalo acabará com o sistema de consignações.