ESCÂNDALO: Organizações Acusadas de Roubar R$ 4 Bilhões de Aposentados Podem Virar “Guardiãs” dos Idosos no Governo Lula
Contag e Sindnapi, investigadas por fraudes milionárias contra aposentados, disputam vagas no conselho que deveria proteger os idosos

Brasília – Em uma reviravolta que parece saída de um roteiro de ficção, duas entidades acusadas de desviar bilhões de reais das aposentadorias estão na disputa para integrar justamente o Conselho Nacional de Direitos da Pessoa Idosa (CNDPI). É como colocar a raposa para cuidar do galinheiro.
O Paradoxo Revelado
A Secretaria Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa concluiu o processo de seleção para renovar a composição do CNDPI no biênio 2025-2027. Entre as 36 entidades habilitadas a disputar as 18 vagas estão duas organizações no centro de um dos maiores escândalos de fraude contra aposentados da história recente:
- Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag): Acusada de desviar R$ 2 bilhões entre 2019 e 2024
- Sindicato Nacional dos Aposentados da Força Sindical (Sindnapi): Investigado por arrecadar mais de R$ 300 milhões no mesmo período
Como Funcionava o Esquema
Segundo a Polícia Federal, o modus operandi era simples e cruel: as entidades apresentavam listas falsas ao INSS contendo nomes de pessoas que nunca autorizaram os descontos associativos. O dinheiro era simplesmente subtraído das já minguadas aposentadorias, muitas vezes sem que as vítimas soubessem.
Uma auditoria governamental encontrou “indicativo de descontos de mensalidade sem a autorização dos titulares dos benefícios” – um eufemismo para o que, na prática, configurava roubo sistemático.

A Conexão Familiar
O caso ganha contornos ainda mais delicados quando se revela que José Ferreira da Silva, o “Frei Chico”, irmão mais velho do presidente Lula, é vice-presidente do Sindnapi desde 2023. A proximidade familiar com o Palácio do Planalto levanta questões sobre possíveis conflitos de interesse.

A Defesa do Indefensável
Ana Lúcia da Silva, coordenadora do CNDPI, tenta justificar a participação das entidades investigadas alegando que “todos têm direito ao contraditório”. Embora tecnicamente correta do ponto de vista jurídico, a argumentação soa estranha quando se trata de escolher quem irá fiscalizar políticas públicas e promover campanhas contra violação de direitosdos idosos.

Os Números do Escândalo
- R$ 4 bilhões: Valor total estimado dos desvios
- 5 anos: Período da fraude (2019-2024)
- Milhões de idosos: Potenciais vítimas afetadas
- 36 entidades: Disputando 18 vagas no conselho
- 11 organizações: Sob investigação da PF
O Que Está em Jogo
O CNDPI não é um órgão decorativo. Compete a ele:
- Propor diretrizes da Política Nacional da Pessoa Idosa
- Fiscalizar políticas públicas voltadas aos idosos
- Promover campanhas educativas
- Indicar medidas contra violação de direitos
Permitir que organizações acusadas de fraudar justamente os idosos integrem esse conselho seria como nomear piratas para comandar a guarda costeira.

CPI no Horizonte
O Congresso Nacional já aprovou a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o escândalo. A pressão política cresce, mas as eleições do conselho estão marcadas para 5 de dezembro.
A Pergunta que Não Quer Calar
Como explicar para um aposentado que teve sua pensão reduzida ilegalmente que as mesmas organizações suspeitas de roubá-lo podem agora ser escolhidas para “defendê-lo”?
O governo Lula enfrenta um teste de coerência: manterá as portas abertas para quem é acusado de prejudicar exatamente aqueles que deveria proteger?
A reportagem tentou contato com a Contag e o Sindnapi, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.