Estudos revelam novos tratamentos do câncer
O Encontro Anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), realizado em Chicago, nos EUA, tem se firmado como uma referência crucial no campo da medicina oncológica. Este congresso, que terminou nesta terça-feira, dia 04, é palco para a apresentação de resultados de estudos internacionais que prometem revolucionar a compreensão e o tratamento do câncer. Direto de Chicago, onde a conferência tem lugar, os oncologistas Rafael Kaliks e Diogo Bugano, do Hospital Albert Einstein, compartilharam destaques sobre os estudos mais notáveis apresentados nesta edição.
Os holofotes foram direcionados para avanços no tratamento de cânceres de pulmão, melanoma e do trato digestivo, além de novas evidências em favor dos cuidados paliativos por telemedicina. Aqui está uma análise mais aprofundada:
Melanoma em Foco Um dos estudos de destaque, apresentado na Sessão Plenária da ASCO, explorou o tratamento do melanoma localmente avançado. Esta forma grave de câncer de pele, penetrando profundamente nas camadas dérmicas, apresenta risco de metástase.
A pesquisa destacou que dois ciclos de imunoterapia combinando nivolumabe e ipilimumabe antes da cirurgia para remoção do tumor reduzem em 68% o risco de progressão, recorrência ou óbito, em comparação com o tratamento convencional. Atualmente, a prática padrão envolve cirurgia seguida de imunoterapia com nivolumabe por até dois anos, conforme o caso.
“Cabe ressaltar que esses imunoterápicos já estão disponíveis no Brasil, permitindo um tratamento imediato e eficaz”, afirma Kaliks. Apesar da aprovação pela Anvisa, esses medicamentos ainda não estão acessíveis no SUS, sendo restritos à rede privada.
Câncer do Trato Digestivo Durante o congresso, um grupo de oncologistas revelou que pacientes com câncer do intestino e metástase no fígado, tradicionalmente tratados com quimioterapia ou radioterapia localizada, se beneficiam mais com o transplante de fígado do que com a quimioterapia isolada. Segundo Bugano, a viabilidade do transplante hepático para pacientes com câncer tem crescido nos últimos anos. Anteriormente, a principal preocupação residia na necessidade de imunossupressores pós-transplante, que poderiam aumentar o risco de recorrência do câncer.
No entanto, o estudo demonstrou que pacientes previamente submetidos à cirurgia do tumor intestinal e com metástase hepática podem ser considerados para o transplante hepático, desde que tenham sido tratados com quimioterapia sem sucesso.
Comparando-se com o tratamento convencional, cerca de 40% dos transplantados permaneceram livres da doença por até quatro anos. “Embora ainda seja cedo para afirmar que estão curados, esses resultados são promissores”, comenta Bugano. “A diferença na sobrevida desses pacientes é notável, e isso pode impactar a prática médica futura”, acrescenta Kaliks.
Avanços no Tratamento de Pulmão O câncer de pulmão permanece como uma das principais causas de morte globalmente. Um estudo em destaque na ASCO 2024 revelou que uma droga, lançada pela Pfizer em 2020, reduz significativamente a progressão da doença e melhora substancialmente a sobrevida em estágios avançados.
O lorlatinibe, comercializado como Lobrena nos EUA, foi testado em centenas de pacientes com linfoma quinase anaplásico (ALK), uma forma agressiva de câncer de pulmão de células não pequenas. Em um período de cinco anos, 60% dos participantes do estudo tiveram a progressão do tumor interrompida, em comparação com apenas 8% dos pacientes tratados com crizotinibe, o segundo melhor tratamento para tumores agressivos.
“Os resultados deste estudo são excepcionais em termos de uso prolongado do medicamento”, destaca Kaliks.
Terapia-alvo: Personalização do Tratamento O câncer, com sua complexidade e diversidade de subtipos e mutações, demanda tratamentos cada vez mais personalizados. Um enfoque chave da ASCO deste ano foi destacar os avanços na terapia-alvo para diferentes mutações tumorais. Essa abordagem, baseada em drogas específicas que atacam as células cancerosas, minimiza danos às células saudáveis do paciente, enquanto enfraquece o tumor, facilitando sua fragmentação.
“Esta abordagem é extraordinariamente interessante, pois permite uma desintegração eficaz do tumor”, avalia Kaliks.
Cuidados Paliativos: A Era da Telemedicina Um estudo mencionado pelos médicos destacou a eficácia dos cuidados paliativos fornecidos por telemedicina, incluindo chamadas e videoconferências médicas, para pacientes oncológicos.
Comparando marcadores de saúde de pacientes que receberam acompanhamento remoto durante a pandemia de Covid-19 com aqueles que continuaram em cuidados presenciais, a pesquisa não encontrou diferenças significativas na qualidade de vida dos pacientes.
“Este estudo reforça a utilidade do acompanhamento virtual. A telemedicina reduz desafios como deslocamento e desconforto para os pacientes”, indica Kaliks.
Embora o estudo tenha focado em pacientes com câncer de mama, Bugano destaca que seus resultados têm implicações para todos os pacientes com tumores sem perspectiva de cura.