Ex-operador da Al-Qaeda lavou dinheiro para o Comando Vermelho, diz Polícia Civil do RJ
Egípcio chegou a ser procurado pelo FBI e teria ligação com esquema bilionário que envolve influenciadores, empresas de eventos e a mulher do MC Poze do Rodo

Um egípcio com histórico de envolvimento com a Al-Qaeda e que já esteve na lista de procurados do FBI foi apontado pela Polícia Civil do Rio de Janeiro como operador de um esquema de lavagem de dinheiro do Comando Vermelho (CV). Mohamed Ahmed Elsayed Ahmed Ibrahim, segundo as investigações, integrou uma engrenagem que movimentou mais de R$ 250 milhões em nome da maior facção criminosa do Estado.
Ibrahim é um dos alvos de um inquérito que resultou na operação realizada nesta terça-feira (3), com mandados de busca e apreensão cumpridos no Rio de Janeiro e em São Paulo. Embora não tenha sido alvo direto da operação de hoje, seu nome aparece ligado a empresas de eventos suspeitas de lavar dinheiro para o tráfico, inclusive com vínculos com influenciadores digitais e artistas que atuam em bailes funk nas favelas cariocas.
Um dos principais alvos da ofensiva foi a influenciadora Vivi Noronha, esposa do funkeiro MC Poze do Rodo. Segundo a polícia, Vivi teria recebido quase R$ 1 milhão de contas ligadas a “laranjas” do traficante Fhillip da Silva Gregório, o Professor, apontado como o cérebro financeiro do esquema e encontrado morto no domingo (1º).
“Ficou comprovado que o sofisticado esquema de lavagem de dinheiro da facção envolve empresas de eventos, cantores que fazem bailes em comunidades e até a esposa de um desses MCs. Uma das empresas de eventos tem relação direta com Mohamed, o que demonstra o estreito vínculo entre a facção, influenciadores e pessoas que instigam a narcocultura”, afirmou o secretário de Polícia Civil, delegado Felipe Curi.
De procurado pelo FBI a peça-chave no CV
Mohamed Ibrahim foi incluído na lista de procurados pelo FBI em 2019, sob suspeita de atuar como facilitador financeiro da Al-Qaeda, organização terrorista responsável pelos atentados de 11 de setembro de 2001. O nome dele foi retirado da lista após prestar depoimento a agentes americanos em São Paulo.
À época, Ibrahim negou qualquer envolvimento com terrorismo e afirmou que foi perseguido por ter pertencido a um partido político criminalizado no Egito. “Nunca atentei contra a integridade dos EUA ou de qualquer outro país”, declarou à revista Época.
Apesar da negativa, a Polícia Civil do RJ o identifica como “indivíduo com relevante histórico no sistema financeiro informal vinculado ao Comando Vermelho”.
A função de Vivi no esquema
O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificou dois repasses a Vivi: R$ 858 mil para a empresa dela e R$ 40 mil para sua conta pessoal — ambos vindos de laranjas de Professor. A investigação aponta que Vivi funcionava como elo entre o tráfico e o universo digital, ajudando a legitimar e ampliar a presença da facção nas redes sociais.
“Ela representa o elo entre o tráfico e o consumo digital, conferindo aparente legalidade ao dinheiro sujo e ampliando o alcance da narcocultura”, detalhou a Polícia Civil.
Além das buscas, a Justiça determinou o bloqueio de 35 contas bancárias dos investigados.
Poze do Rodo foi preso, mas investigação é paralela
Embora o MC Poze do Rodo tenha sido preso na última quinta-feira (29) por apologia ao crime e suposto envolvimento com o tráfico, a investigação desta terça-feira não tem relação direta com o caso dele. A Justiça já determinou sua soltura, mas, até a última atualização, ele continuava preso.
Quem era o Professor?
Apontado como articulador do esquema, Fhillip da Silva Gregório, o Professor, construiu uma rede de empresas de fachada e laranjas para movimentar recursos do tráfico. O dinheiro era transferido para intermediários em Ponta Porã (MS), base de compra de armas e drogas do CV.
A morte de Professor, considerada inicialmente suicídio após uma briga com a amante, não compromete o andamento do inquérito. “Mesmo com sua morte, permanece clara sua importância na estruturação das empresas de fachada e no fortalecimento da cultura do tráfico”, informou a polícia.
Resumo da operação:
- R$ 250 milhões movimentados em esquema de lavagem;
- Participação de ex-operador da Al-Qaeda, ex-procurado pelo FBI;
- Empresas de eventos, influenciadores e MCs usavam estrutura legal para esconder dinheiro do tráfico;
- Vivi Noronha, esposa de Poze do Rodo, recebeu quase R$ 1 milhão em repasses suspeitos;
- Justiça bloqueou 35 contas bancárias;
- A investigação segue com novos alvos e aprofundamento dos vínculos entre o CV e o universo digital.