Ex-prefeito volta à mira da Justiça em esquema milionário na pandemia

MPF quer que TRF5 julgue inquérito da Operação Desumano, que apura fraudes com dinheiro da saúde em contratos firmados durante a gestão de Geraldo Julio no Recife

O Ministério Público Federal (MPF) solicitou o envio ao Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF5) do inquérito que investiga supostas fraudes em contratos milionários firmados por prefeituras de Pernambuco durante a pandemia de Covid-19. Entre os alvos está o ex-prefeito do Recife Geraldo Julio (PSB), acusado de participação em um esquema que teria desviado recursos do SUS por meio da contratação suspeita de uma Organização Social de Saúde (OSS).

O pedido de remessa ao TRF5 se baseia em decisão recente do Supremo Tribunal Federal (STF), que reafirmou o direito ao foro por prerrogativa de função mesmo após o fim do mandato, desde que os crimes tenham sido cometidos durante o exercício do cargo e em razão dele. Para o MPF, a manutenção do caso na segunda instância é essencial para evitar fragmentação da investigação e garantir a eficácia da coleta de provas.

Contratos sob suspeita

As investigações são conduzidas no âmbito da Operação Desumano, deflagrada em 2020, e revelam indícios de fraudes e direcionamento na escolha da OSS contratada pelas prefeituras do Recife e de Jaboatão dos Guararapes. A entidade teria atuado sem capacidade técnica, operacional ou financeira para gerenciar os serviços, e parte dos contratos foi subcontratada para empresas de fachada controladas por um mesmo grupo.

A apuração teve início após o repasse de relatórios pela Controladoria-Geral da União (CGU) ao MPF. De acordo com os documentos, a OSS favorecida apresentava balanços frágeis, patrimônio irrisório e poucos funcionários. Mesmo assim, abocanhou recursos vultosos em plena crise sanitária.

Avanço das investigações

Em 2023, o MPF chegou a apresentar denúncia contra 11 pessoas — incluindo ex-secretários municipais, servidores e representantes da OSS. A Justiça, no entanto, rejeitou a denúncia inicialmente, alegando necessidade de aprofundar as apurações.

Desde então, o MPF reforçou a investigação com novas diligências, oitivas, quebra de sigilos bancários e fiscais, além de análise de auditorias e perícias técnicas que estavam pendentes no processo.

Para a procuradora da República Silvia Regina Pontes Lopes, a competência do TRF5 se justifica pela conexão direta dos fatos com o exercício de mandatos políticos e pela necessidade de julgamento conjunto.

O que diz o processo

A manifestação do MPF foi anexada ao processo nº 0815781-81.2020.4.05.8300, que segue em tramitação. A decisão sobre o novo foro caberá ao Judiciário.

📌 O que foi a Operação Desumano – Resumo em Tópicos

🕵️‍♂️ Objetivo da operação

  • Investigar supostas fraudes em contratos de combate à Covid-19 celebrados pelas prefeituras do Recife e de Jaboatão dos Guararapes.
  • Esquema envolvia o repasse de R$ 57 milhões a uma Organização Social de Saúde (OSS) com indícios de fraude, direcionamento de contratos e subcontratações irregulares.

💰 Contratos investigados

  • Recife: contrato de R$ 34 milhões para gestão do hospital de campanha da Imbiribeira.
  • Jaboatão: contrato de R$ 23,7 milhões para unidade similar; município alega ter pago apenas R$ 4,8 milhões.
  • Contratos firmados sem licitação, sob alegação de urgência na pandemia.

🧾 Suspeitas sobre a OSS (Instituto Humanize)

  • Patrimônio social de apenas R$ 18 mil e cerca de 11 funcionários.
  • Presidente do instituto seria um “laranja” com salário de R$ 2 mil, ligado ao empresário preso.
  • Subcontratações feitas com até 12 empresas supostamente fantasmas, controladas por um mesmo grupo.

🚓 Ações da Polícia Federal

  • 21 mandados de busca e apreensão: 16 no Recife, 3 em Jaboatão, 1 em Olinda e 1 em Paulista.
  • Prisão temporária do empresário Paulo Magnus, suspeito de liderar o esquema.
  • Apreensão de carros de luxo e documentos em endereços ligados aos investigados.
  • Buscas realizadas nas secretarias de saúde e residências de secretários municipais.

⚖️ Crimes investigados

  • Peculatoorganização criminosafalsidade ideológica e dispensa indevida de licitação.
  • Possível envolvimento de agentes públicos e pagamentos indevidos.

🔗 Conexão com outras operações

  • Indícios de ligação com o mesmo grupo investigado na Operação Assepsia, no Rio Grande do Norte.
  • Suspeita de ação coordenada de uma organização criminosa interestadual para fraudar contratos de OSS.

🤝 Órgãos envolvidos

  • Polícia Federal (PF)
  • Controladoria-Geral da União (CGU)
  • Ministério Público Federal (MPF)
  • Gaeco/MPPE – Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado

🗣️ Defesas

  • As prefeituras negaram irregularidades e disseram que os contratos foram fiscalizados por órgãos de controle.
  • Instituto Humanize repudiou as acusações e afirmou que todas as prestações de contas foram entregues e estão disponíveis em seu site.

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