Gestão João Campos repassa R$ 20 milhões a empresa ligada a empresário proibido de firmar contratos públicos
Empresa foi beneficiada mesmo após decisão judicial que impede contratações por envolvimento em escândalo de corrupção nas chuvas de 2017

A Prefeitura do Recife, sob a gestão de João Campos (PSB), firmou ao menos R$ 20 milhões em contratos com a empresa MN Plásticos & TNT Ltda, ligada a um empresário investigado por corrupção e proibido de contratar com o poder público. A informação consta em documentos obtidos junto ao Ministério Público Federal (MPF) e ao Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco (TCE-PE).
O empresário em questão é Antônio Júnior, preso em 2017 pela Operação Torrentes, da Polícia Federal, que apurou desvios milionários durante a gestão do PSB em ações de emergência nas chuvas daquele ano. Desde então, ele cumpre medidas cautelares que o impedem de manter negócios com o setor público — direta ou indiretamente.

Para burlar a decisão, segundo o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MPF, Antônio Júnior teria usado o nome do sobrinho, Antônio Neto, para abrir uma nova empresa e continuar vencendo licitações. A MN Plásticos foi criada seis meses após a imposição judicial, em junho de 2018, e hoje é a principal fornecedora de lonas plásticas para contenção de encostas no Recife.
Do montante negociado com a gestão de João Campos, R$ 18,7 milhões foram fechados por meio de dois contratos com a Secretaria de Infraestrutura em 2021 e 2023. Este ano, a MN venceu mais uma licitação com a Secretaria de Ordem Pública e Segurança Cidadã, e está em vias de assinar novo contrato avaliado em R$ 7,5 milhões.
Segundo o MPF, a empresa é uma fachada. “Antônio Júnior aplicou dinheiro na empresa do sobrinho e o orientou a ampliar o rol de atividades no CNPJ, como forma de continuar participando das mesmas licitações que disputava pela AM Júnior”, afirma documento de dezembro de 2024. A estratégia repetiria o padrão já identificado na Operação Torrentes, com uso de laranjas e empresas de fachada, como a T & R Confecções e a Megabag Bolsas Ltda.
De acordo com o TCE-PE, a MN Plásticos já recebeu R$ 48 milhões em recursos públicos, sendo R$ 20 milhões pagos pela Prefeitura do Recife — seu principal cliente.

SEDE DA EMPRESA SEGUNDO PORTAL METRÓPOLES
Tentativa de acordo e silêncio dos envolvidos
Para tentar impedir a continuidade do esquema, o MPF propôs uma transação penal com pagamento de R$ 160 mil por parte de tio e sobrinho. A audiência foi marcada para 30 de junho de 2025, na Justiça Federal.
A Prefeitura do Recife confirmou, em nota, que a empresa venceu novo pregão neste ano, e disse que, “durante as fases de validação e atesto, a concorrente encontrava-se apta administrativamente a participar do certame”.
Antônio Júnior e Antônio Neto não responderam aos pedidos de posicionamento até a última atualização da reportagem.
🛑 ESQUEMA CAMUFLADO
Empresa de fachada foi criada para burlar decisão judicial que proibia empresário investigado de contratar com o poder público.
📉 CONTRATOS MILIONÁRIOS SOB SUSPEITA
Gestão João Campos firmou R$ 20 milhões em contratos com empresa ligada a investigado por corrupção nas enchentes de 2017.
👥 TIRO E QUEDA: DO TIO PARA O SOBRINHO
Antônio Júnior, alvo da Operação Torrentes, repassou recursos e orientações à empresa do sobrinho para continuar vencendo licitações.
⚖️ DRIBLE À JUSTIÇA
Empresa foi aberta seis meses após ordem judicial que vetava o empresário de participar de licitações — tentativa clara de maquiar o controle societário.
📂 ALERTA DO MINISTÉRIO PÚBLICO
Segundo o MPF, houve reincidência no uso de “laranjas” e empresas de fachada, como já ocorrido em esquemas anteriores desvendados pela PF.
📊 PREFEITURA NO CENTRO DA POLÊMICA
Maior cliente da empresa suspeita é o próprio município do Recife, que respondeu por R$ 20 milhões do total faturado de R$ 48 milhões.
🔍 GAECO: “MODUS OPERANDI REPETIDO”
Grupo do MPF aponta semelhanças com fraudes anteriores: familiares no papel, investigado no comando real.
🗓️ AUDIÊNCIA MARCADA
MPF quer acordo judicial com pagamento de R$ 160 mil por violação de cautelares. Audiência foi marcada para 30 de junho.