Justiça mantém preso hacker acusado de ameaçar Felca e vender alvarás falsos

Jovem de 22 anos confessou à polícia que invadia logins de juízes, falsificava alvarás de soltura por até R$ 15 mil e já faturou mais de R$ 500 mil com golpes virtuais

O Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) decidiu manter a prisão de Cayo Lucas Rodrigues dos Santos, de 22 anos, acusado de ameaçar o humorista e youtuber Felipe Bressanim Pereira, conhecido como Felca, e de atuar em um esquema de invasão de sistemas públicos para comercializar dados e documentos falsos.

A prisão em flagrante dele e do comparsa, Paulo Vinicios Oliveira Barbosa, de 21 anos, foi convertida em preventiva durante audiência de custódia realizada na Central Especializada das Garantias, no Fórum de Olinda. Ambos estão agora no Centro de Observação Criminológica e Triagem Professor Everardo Luna (Cotel), em Abreu e Lima, Grande Recife.

Confissões e esquema criminoso

Em interrogatório obtido pelo Diario de Pernambuco, Cayo Lucas admitiu que cobrava até R$ 15 mil por alvará de soltura falso, utilizando logins e e-mails de magistrados para autenticar documentos. Ele também relatou já ter faturado mais de R$ 500 mil com atividades ilícitas, incluindo ataques a sites governamentais, consultas de dados sigilosos, bloqueio de contas bancárias e até alterações em cadastros da Receita Federal e do Sistema Único de Saúde (SUS).

Para lavar o dinheiro, o hacker utilizava laranjas e criptomoedas, que representavam cerca de 20% das transações. Em depoimento, afirmou ter emitido mais de 50 falsos alvarás e cobrar R$ 3 mil para excluir mandados de prisão do Banco Nacional de Mandados de Prisão (BNMP).


Invasão de sistemas públicos

Cayo Lucas disse conhecer e ter utilizado “praticamente todos” os sistemas restritos de polícias e órgãos públicos. Entre os alvos, citou o Cerebrum, do Ceará, e o Polícia Ágil, de Pernambuco. Ele também afirmou ter atacado a base do Instituto de Identificação Tavares Buril (IITB), responsável por emissão de RGs em Pernambuco, e vendido dados por R$ 50 mil.

Segundo as investigações, ele comprava credenciais e contratava pessoas para criar programas maliciosos disfarçados de jogos e aplicativos. Esses vírus coletavam logins de usuários e enviavam as informações para um robô no Telegram.


Ameaças contra Felca

A investigação teve início após uma especialista em psicologia infantil que participou de um vídeo de Felca receber ameaças de morte e estupro. Dias depois, o próprio youtuber passou a receber mensagens violentas em agosto, após publicar o vídeo-denúncia “Adultização”, que expõe exploração e abuso de crianças e adolescentes na internet.

Nos e-mails enviados de madrugada, o hacker escreveu frases como: “Prepara pra morrer” e “Você vai pagar com a sua vida”. Em outro trecho, citava diretamente a denúncia feita por Felca contra o influenciador Hytalo Santos, investigado por exploração de menores.


Ligações com quadrilha e pornografia infantil

De acordo com a Polícia Civil de São Paulo, Cayo Lucas é suspeito de integrar o grupo Country, organização criminosa que atua no Telegram e no Discord, envolvida com pornografia infantil e exploração de adolescentes. O jovem, no entanto, negou ser integrante e disse ter deixado o grupo após publicações ligadas ao nazismo.

Mesmo assim, as autoridades apontam que ele já teria vendido material de abuso infantil nas redes, além de coordenar “desafios” online que estimulavam a exploração de menores. Esse possível envolvimento seria a motivação para os ataques contra Felca.


Situação atual

Segundo o juiz José de Andrade Saraiva Filho, que presidiu a audiência de custódia, não havia possibilidade de liberdade provisória diante dos indícios de autoria e provas já apresentadas. Por isso, a prisão em flagrante foi homologada e convertida em preventiva.

Enquanto isso, a defesa de Cayo Lucas não foi localizada pela reportagem. A família de Paulo Vinicios nega envolvimento dele nos crimes.

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