Leão XIV quer a Igreja nos centros do poder: “Onde a fé é ridicularizada, ali a missão é urgente”
Primeiro papa norte-americano, ex-missionário no Peru, celebra sua 1ª missa e pede que Igreja leve o Evangelho a onde reinam o dinheiro, a tecnologia e o sucesso.

Em sua primeira missa como líder da Igreja Católica, o papa Leão XIV defendeu que a evangelização se concentre não apenas nas periferias sociais, mas também nos centros de poder e influência — onde, segundo ele, a fé é frequentemente descartada como “coisa de fracos”. A cerimônia ocorreu na manhã desta sexta-feira, 9, na Capela Sistina, local onde também foi realizado o conclave que o elegeu.
“Há lugares onde não é fácil testemunhar o Evangelho”, disse o pontífice em sua homilia. “Onde quem acredita é ridicularizado, desprezado ou, no máximo, tolerado com pena. Mas é justamente nesses ambientes que a missão é mais urgente.”
Falando diante do colégio de cardeais que o escolheu, Leão XIV afirmou que a ausência de fé nos centros mais secularizados do mundo — como os EUA, a Europa e a China — contribui para “o esquecimento da misericórdia, a crise da família e a perda do sentido da vida”.
A mensagem foi clara: sob seu pontificado, a Igreja deverá confrontar a cultura da indiferença religiosa nos ambientes moldados por tecnologia, dinheiro, prestígio e poder.

Uma missa histórica
A celebração foi marcada por um clima de proximidade. Cardeais se cumprimentavam com abraços e sorrisos antes da entrada do papa. Leão XIV entrou sorridente, abençoando os presentes durante a procissão e demonstrando emoção ao iniciar a missa com o sinal da cruz.
Foram escolhidas as orações da liturgia “Pro Ecclesia”, voltadas à unidade e à missão da Igreja. O Evangelho do dia relembrou a passagem bíblica em que Jesus confia a Pedro a liderança da Igreja (Mateus 16, 18-19) — uma escolha carregada de simbolismo para um novo pontífice que assume a missão de guiar 1,3 bilhão de católicos.
Diferente dos últimos anos do pontificado de Francisco, marcados por fragilidade física, Leão XIV presidiu toda a missa. O gesto foi recebido com aplausos ao fim da celebração, que teve como ponto alto a execução do hino Oremus pro Pontifice nostro, já com o nome do novo papa.
“Da periferia ao centro”
O novo pontífice tem uma trajetória pouco convencional: nascido nos EUA e com cidadania peruana, Robert Prevost foi missionário na América Latina por mais de duas décadas antes de assumir cargos de peso no Vaticano. Em 2023, foi nomeado prefeito do Dicastério para os Bispos — posto estratégico ocupado sob a confiança de Francisco.
A experiência latino-americana influencia sua visão pastoral. Leão XIV mencionou explicitamente que o modelo de missão nas periferias — típico da Igreja da região — agora deve inspirar uma presença firme nas nações mais ricas e secularizadas do globo.
Ele iniciou sua homilia em inglês, com uma saudação informal aos cardeais, e depois leu a parte principal do discurso em italiano. O gesto indicou a dupla identidade que carrega: um papa do Norte, mas com alma missionária do Sul.
Os próximos passos
No domingo, 11, o papa fará sua primeira aparição pública na Praça São Pedro para rezar o Regina Caeli, às 7h de Brasília. Na segunda-feira, 12, terá sua primeira audiência com a imprensa — repetindo um gesto simbólico feito por seu antecessor logo após ser eleito.
Leão XIV assume o comando da Igreja Católica com o desafio de manter vivo o legado reformador de Francisco e, ao mesmo tempo, de ampliar o diálogo com um mundo que, cada vez mais, se afasta da fé institucional.