Mesmo em crise, Correios mantêm licitação de R$ 380 milhões com agências ligadas a escândalos do PT
Estatal enfrenta rombo bilionário, está na mira do TCU e do MPF, mas segue com megacontrato publicitário. Processo adota modelo que pode favorecer empresas com histórico controverso.
NO PODER 360

Apesar de enfrentar o maior prejuízo de sua história — um rombo de R$ 3,2 bilhões em 2024 —, os Correios decidiram manter a licitação de R$ 380 milhões para contratar agências de publicidade. O processo, que já é alvo de investigação pelo Ministério Público Federal (MPF) e pelo Tribunal de Contas da União (TCU), segue sem alterações, segundo confirmou a estatal ao Poder360 nesta quarta-feira (4.jun.2025).
A licitação permite elevar os gastos com comunicação estratégica de 0,5% para até 2% da receita bruta da empresa. A estatal justifica a mudança com base na Lei das Estatais e afirma que o objetivo é “reposicionar a marca” e reverter os efeitos de “subinvestimentos” herdados da gestão Bolsonaro, que havia paralisado os contratos publicitários desde 2022.
O modelo escolhido — “melhor técnica”, em vez de “técnica e preço” — foi criticado pelo TCU, que aponta risco de direcionamento e desperdício de recursos. A Corte ressalta que, com prioridade no menor custo, o resultado poderia ser mais econômico para os cofres públicos. A empresa defende que a qualidade técnica é essencial no setor de logística e que “não comunicar é perder mercado”.
Dos quatro finalistas da licitação, três já foram associadas a escândalos envolvendo o PT:
- Cálix Comunicação e Publicidade Ltda.
- Filadélfia S.A.
- Puxe Comunicação Ltda.
- Jotacom Comunicação e Publicidade Ltda.
Segundo denúncia apresentada pelo deputado Leonardo Siqueira (Novo-SP) ao TCU, o processo pode apresentar pelo menos quatro irregularidades:
- Gasto desproporcional em meio à crise financeira
- Possível direcionamento às agências selecionadas
- Risco de dano ao erário com má gestão de recursos
- Violação à moralidade administrativa, devido a vínculos com figuras citadas em escândalos de corrupção
Apesar das críticas, os Correios sustentam que a contratação é “fundamental” e será interrompida apenas se houver “orientação formal” dos órgãos de controle.
O caso se soma a uma série de polêmicas recentes envolvendo a estatal, como calotes a fornecedores, gastos milionários com patrocínios e denúncias de aparelhamento. No Congresso, já há apoio suficiente para a instalação de uma CPI dos Correios.