Ministro de Lula se reúne com entidade suspeita em escândalo do INSS e omite da agenda

Contag foi alvo da PF por descontos ilegais em aposentadorias; reunião com Paulo Teixeira não foi divulgada por ministério nem por redes oficiais

O ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira (PT), reuniu-se na quarta-feira (7/5) com dirigentes da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), entidade investigada pela Polícia Federal por envolvimento no esquema bilionário de descontos ilegais sobre aposentadorias do INSS.

A reunião, porém, foi omitida da agenda oficial do ministro e não foi mencionada em suas redes sociais — nem nas do próprio ministério. A única divulgação partiu da própria Contag.

A confederação, historicamente ligada ao MST, foi uma das principais beneficiadas pelo mecanismo de descontos automáticos sobre benefícios de aposentados e pensionistas. Apesar de alvo de mandado de busca e apreensão na Operação Sem Desconto, deflagrada em abril, a entidade foi poupada do bloqueio de bens solicitado pela Advocacia-Geral da União.

O escândalo dos descontos no INSS foi revelado pelo Metrópoles em dezembro de 2023 e culminou na queda do então presidente do INSS e do ministro da Previdência, Carlos Lupi. A série de reportagens motivou inquéritos da Polícia Federal e investigações da Controladoria-Geral da União (CGU). Somente em 2024, as entidades arrecadaram cerca de R$ 2 bilhões, segundo dados oficiais.

Reivindicações e silêncio oficial

Durante o encontro, a direção da Contag entregou a pauta de reivindicações do movimento Grito da Terra Brasil 2025. O documento defende a transição agroecológica, a inclusão produtiva de agricultores familiares e a ampliação da reforma agrária.

Participaram também do encontro as secretárias-executivas Kelli Mafort (Secretaria-Geral da Presidência) e Fernanda Machiaveli (MDA), além de Edegar Preto (Conab) e César Aldrighi (Incra). Apesar da presença de figuras-chave do governo Lula, nenhum canal oficial do Executivo federal mencionou a reunião.

Resposta do ministério

Procurado, o MDA justificou que a Contag tem “62 anos de história” e contribuiu com políticas públicas do setor. Disse ainda que mantém diálogo com várias entidades e defende a presunção de inocência.

“Os desvios no INSS começaram no governo anterior e foram descobertos pela PF e pela CGU graças ao atual governo”, afirmou o ministério, em nota.

Devolução de valores

O INSS anunciou que entre 26 de maio e 6 de junho vai devolver R$ 292 milhões cobrados indevidamente de aposentados e pensionistas — fruto direto das investigações desencadeadas pelas reportagens sobre o caso.

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