Moradores de Rua Dobram no Brasil Após R$ 1 Bilhão “Desperdiçado”
PRINCIPAL: Plano Federal Fracassa e População em Situação de Rua Explode de 160 mil para 345 mil
Observatório da UFMG revela que “Ruas Visíveis” não conseguiu frear crescimento da miséria urbana
Em dezembro de 2023, o governo federal apresentou ao país o Plano “Ruas Visíveis” como se fosse a solução definitiva para um dos problemas mais vergonhosos do Brasil: as centenas de milhares de pessoas que dormem nas calçadas das grandes cidades. Com pompa e circunstância, anunciaram R$ 1 bilhão em investimentos e a mobilização de 11 ministérios.
O resultado? Um fracasso estrondoso. Em pouco mais de um ano, o número de moradores de rua não apenas não diminuiu – mais que dobrou, saltando de 160 mil para impressionantes 345 mil pessoas, segundo dados do Observatório Brasileiro de Políticas com a População em Situação de Rua (UFMG).

O PARADOXO DO BILHÃO: Mais Dinheiro, Mais Miséria
A Promessa Dourada que Virou Pesadelo
O “Ruas Visíveis” foi vendido como “um marco no enfrentamento da miséria urbana”. A proposta era ambiciosa: articular 11 ministérios em torno de sete eixos estratégicos, incluindo assistência social, segurança alimentar, habitação, saúde, trabalho e renda.
Na teoria, tudo perfeito: ampliação de serviços de acolhimento, criação de cozinhas solidárias, fortalecimento do atendimento de saúde, construção de unidades habitacionais e realização de um censo nacional. A iniciativa envolveria até representantes do Judiciário, Legislativo, movimentos sociais e sociedade civil.
Na prática, uma catástrofe: enquanto o governo celebrava reuniões e assinava protocolos, 185 mil brasileiros a maispassaram a dormir ao relento em apenas 15 meses.
Os Números que Envergonham o País
Dezembro 2023: 160 mil moradores de rua Agosto 2025: 345 mil moradores de rua Crescimento: +115% em 20 meses
O que esses números significam? Que a cada dia que passou desde o anúncio do plano, aproximadamente 300 brasileiros a mais se juntaram às fileiras dos sem-teto. Uma pequena cidade inteira de miseráveis a cada mês.
GEOGRAFIA DA VERGONHA: Onde a Miséria se Concentra
Sudeste: O Epicentro da Crise
A distribuição geográfica da população em situação de rua revela um Brasil profundamente desigual. Mais de 60% dessas pessoas estão concentradas na região Sudeste, enquanto a Região Norte representa menos de 5% do total.
O ranking da miséria:
- São Paulo – 146.940 pessoas (42,6% do total nacional)
- Rio de Janeiro – 31.693 pessoas (9,2%)
- Minas Gerais – 31.410 pessoas (9,1%)
- Bahia – 15.045 pessoas (4,4%)
- Paraná – 13.854 pessoas (4,0%)
São Paulo sozinho concentra quase metade de todos os moradores de rua do país. A capital paulista abriga cerca de 100 mil pessoas nas ruas – mais que o triplo do registrado há uma década.
O Contraste Regional Brutal
Enquanto o Sudeste coleciona quase 210 mil moradores de rua, toda a Região Norte soma menos de 17 mil pessoas nessa situação. É como se existissem dois Brasis completamente diferentes: um onde a miséria urbana explodiu e outro onde ainda é um problema controlável.
PERFIL DA TRAGÉDIA: Quem São os Invisíveis do Brasil
Homens, Negros e Abandonados
O levantamento da UFMG revela o perfil dramático dessa população:
Por gênero:
- 85% são homens (aproximadamente 293 mil)
- 15% são mulheres (cerca de 52 mil)
Por raça:
- 70% se declaram negros (241 mil pessoas)
- 30% se declaram brancos ou outros (104 mil pessoas)
Por idade:
- Quase 10 mil crianças com menos de 17 anos
- 32 mil idosos com mais de 60 anos
- 303 mil adultos entre 18 e 59 anos
A Tragédia das Crianças Abandonadas
Talvez o dado mais chocante seja a presença de quase 10 mil menores de idade vivendo nas ruas. São crianças e adolescentes que deveriam estar na escola, brincando, sonhando com o futuro. Em vez disso, dormem em calçadas, praças e viadutos.
Para cada criança em situação de rua, o Estado brasileiro falhou.
O Drama dos Idosos Esquecidos
Outros 32 mil brasileiros com mais de 60 anos – pessoas que trabalharam a vida inteira, construíram o país – agora dormem ao relento. São os aposentados de baixa renda expulsos de suas casas, os idosos abandonados pela família, os que não conseguem pagar aluguel com um salário mínimo.

ANATOMIA DO FRACASSO: Por Que o Plano Não Funcionou
As Causas Raiz que o Governo Ignorou
Pesquisadores da UFMG e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) identificaram os verdadeiros fatores por trás da explosão de moradores de rua:
1. Crise Econômica e Inflação Descontrolada
- Perda massiva de empregos formais
- Destruição da renda das famílias mais vulneráveis
- Impossibilidade de arcar com custos básicos de moradia
2. Déficit Habitacional Crônico
- Insuficiência brutal de moradias populares
- Especulação imobiliária desenfreada
- Gentrificação expulsando pobres dos centros urbanos
3. Desmonte e Demora na Execução de Políticas Sociais
- Programas sociais que não chegam a quem precisa
- Burocracia que impede acesso aos serviços
- Falta de articulação entre diferentes níveis de governo
4. Herança da Pandemia
- Agravamento da miséria durante e após a COVID-19
- Explosão do desemprego informal
- Destruição de redes de apoio familiar e comunitário
O Problema não é Falta de Dinheiro
R$ 1 bilhão deveria ser suficiente para causar impacto significativo. O problema é que dinheiro sem estratégia efetivavira apenas desperdício. Enquanto o governo gastava recursos em estruturas burocráticas e reuniões intermináveis, a miséria real crescia exponencialmente nas ruas.
A REALIDADE CRUA: Onde e Como Vivem
Sem Abrigo, Sem Dignidade
Segundo o levantamento, a maioria dos moradores de rua não está em abrigos. Eles dormem em:
- Calçadas das grandes avenidas
- Praças e espaços públicos
- Viadutos e pontes
- Ocupações improvisadas em terrenos abandonados
- Estações de metrô e trem
A cada noite, 345 mil brasileiros se deitam no chão frio das cidades, usando papelão como colchão e jornais como cobertor. É uma realidade que envergonha qualquer sociedade que se pretenda civilizada.
São Paulo: A Capital da Miséria
A capital paulista se tornou o símbolo mais brutal do fracasso das políticas públicas. Com 100 mil pessoas dormindo nas ruas, São Paulo concentra mais moradores de rua que países inteiros.
Para ter dimensão: a população em situação de rua de São Paulo é maior que a população total de 95% dos municípios brasileiros. É como se uma cidade inteira vivesse ao relento no coração da maior metrópole do país.
O FUTURO SOMBRIO: Para Onde Caminhamos
Tendência de Agravamento
Todos os indicadores apontam para piora do cenário nos próximos meses:
- Inflação continua corroendo renda das famílias
- Desemprego permanece em níveis elevados
- Déficit habitacional aumenta a cada ano
- Investimento em moradia popular não acompanha a demanda
Custo Social e Econômico
Manter 345 mil pessoas nas ruas custa muito mais caro para a sociedade do que investir em soluções efetivas:
- Custos de saúde com atendimentos emergenciais
- Custos de segurança com policiamento ostensivo
- Custos sociais com criminalidade e violência urbana
- Custos humanos incalculáveis em dignidade perdida
CONCLUSÃO: Um Retrato do Brasil que Não Queremos Ver
O fracasso do Plano “Ruas Visíveis” não é apenas uma questão de gestão pública ineficiente. É o retrato de um país que gasta bilhões em propaganda mas não consegue resolver problemas básicos de seus cidadãos.
345 mil brasileiros dormindo nas ruas não é uma estatística – são 345 mil histórias de vida interrompidas, sonhos destroçados, dignidade pisoteada.
Enquanto governantes celebram anúncios e se preocupam com narrativas políticas, a cada noite, uma pequena cidade de brasileiros se deita no chão frio das nossas metrópoles.
Esta é a realidade que os números escancaram: o Brasil de 2025 é um país onde mais de um terço de milhão de pessoas não tem nem sequer um teto para se abrigar. E isso aconteceu justamente no período em que o governo federal prometeu resolver o problema.
Os números não mentem. As promessas, sim.