No Pará, estado da COP 30, 91% da população não tem coleta de esgoto, diz levantamento

Em novembro de 2025, Belém sediará a 30ª Conferência das Partes (COP 30), evento climático da Organização das Nações Unidas (ONU). Até lá, a capital paraense enfrenta o desafio de sair da lista das cidades brasileiras com os piores índices de saneamento básico do país. Segundo o Instituto Trata Brasil, 91% da população do Pará não tem acesso à coleta de esgoto.
Os dados divulgados nesta quarta-feira (20), referentes a 2022, revelam que metade das 10 cidades com os piores índices de saneamento básico no Brasil está na região Norte, incluindo Belém e Santarém. Veja a lista completa:
- Juiz de Fora – MG
- Duque de Caxias – RJ
- Macapá – AP
- Belford Roxo – RJ
- Bauru – SP
- Santarém – PA
- Belém – PA
- Porto Velho – RO
- Rio Branco – AC
- São João de Meriti – RJ
“Quando não temos acesso à água tratada, enfrentamos uma série de doenças de veiculação hídrica, como dengue, esquistossomose, leptospirose e diarreia. Isso também se aplica à falta de coleta e tratamento de esgoto”, afirma Luana Pretto, presidente-executiva do Trata Brasil. Segundo o levantamento, 90 milhões de brasileiros não têm acesso à coleta de esgoto.
Para a pesquisadora, é impossível falar de conservação do meio ambiente sem abordar o saneamento básico. “Sem coleta e tratamento de esgoto, toda essa carga poluidora acaba nos nossos rios e mares”, pontua.
Dados do Censo 2022 do IBGE reforçam os números alarmantes:
- Menos de 30% da população da região Norte tem conexão à rede de esgoto.
- No Pará, apenas 19,9% têm acesso a esgotamento sanitário.
- Em Belém, pouco mais de 59% da população tem acesso ao saneamento.
- Em municípios como Barcarena, menos de 35% dos moradores têm águas residuais tratadas adequadamente.
O professor de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal do Pará (UFPA), José Almir, destaca que o investimento em saneamento no Pará tem sido insuficiente. Ele acredita que a realização da COP 30 pode pressionar mudanças no cenário do estado. “Nosso objetivo é transformar o saneamento em prioridade. No passado, Belém já foi uma das cidades com maior atendimento de esgoto sanitário durante o período da borracha, porque foi priorizado. Hoje, o saneamento não recebeu investimentos ao longo do tempo”, frisa o professor.
Região requer investimentos
Para o Trata Brasil, o investimento é o caminho para alcançar a meta de 99% da população com acesso à água potável e 90% com coleta e tratamento de esgoto. Na região Norte, esse investimento precisa ser ainda maior. “Nas regiões Norte e Nordeste, onde os indicadores são muito ruins, o investimento precisa ser muito maior. Estamos falando de transformar a região em um canteiro de obras para atingir a universalização. É difícil pensar que os 20 piores colocados do ranking conseguirão atingir a universalização no prazo estipulado, se não agirem imediatamente”, diz Luana Pretto.
A Companhia de Saneamento do Pará (Cosanpa) informou que atende 52 dos 144 municípios paraenses e, em parceria com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), está investindo em obras de tratamento de água e esgoto sanitário em Belém e na Região Metropolitana.
De acordo com a Cosanpa, as obras na capital incluem a segunda etapa da Estação de Tratamento de Água do Bolonha, que atende os municípios da Região Metropolitana, além da Estação de Tratamento de Esgoto do Una. Na região oeste do Pará, as obras estão em andamento em Santarém, com o novo Sistema de Abastecimento de Água do município, e em Alter do Chão, onde estão sendo construídas Estações de Tratamento de Água e Esgoto, além da perfuração de 13 poços, dos quais 5 já foram entregues.
Índice de saneamento básico
O ranking de saneamento, elaborado em parceria com a GO Associados, analisa a distribuição e coleta de água e esgoto, perdas na distribuição, investimento e melhorias realizadas. Os dados de 2022 são do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), do Ministério das Cidades.
O esgoto continua sendo um grande desafio no país. Em relação ao levantamento realizado no ano passado, com dados de 2021, a coleta cresceu apenas 0,2 pontos percentuais no Brasil, passando de 55,8% para 56%. O tratamento de esgoto também teve um aumento tímido, de 51,2% para 52,2% no mesmo período.
No ranking das cidades com melhor saneamento, nenhuma cidade do Norte aparece na lista.