O Shopping da Justiça: Como Sentenças Eram Vendidas no STJ

O relatório parcial da Polícia Federal enviado ao STF descreve um esquema estruturado de manipulação e venda de decisões judiciais envolvendo gabinetes do Superior Tribunal de Justiça (STJ). A PF fala em contratos milionários de fachada, uso de código (“a obra está pronta”, “faltam os retoques do patrão”, “orçamento”) e intermediários para direcionar resultados. Não há ministros investigados, segundo a própria PF. O STJ não se manifestou por causa do sigilo.
O que a PF diz ter encontrado
- Esquema em 3 núcleos:
- Servidores ligados a gabinetes, com suspeita de vazamento de minutas e informações sensíveis;
- Advogados e lobistas, que prospectariam clientes e “garantiriam” decisões;
- Empresários interessados em resultados favoráveis.
- “Mercado paralelo de influência”: contratos de advocacia/consultoria seriam usados como fachada para acertar decisões previamente combinadas, substituindo a atuação jurídico-técnica regular.
- Linguagem cifrada:
- “A obra está pronta” = minuta de decisão finalizada;
- “Faltam os retoques do patrão” = assinatura pendente do magistrado;
- “Orçamento” = valores do acerto.
- Sincronia suspeita: diálogos e movimentações processuais teriam ocorrido a poucas horas de distância, no mesmo dia, sugerindo acesso prévio às minutas.
- Movimentações atípicas de dinheiro e bens de alto valor: na casa de Rodrigo Falcão, a PF apreendeu três caixas de Rolex; um cupom indicava R$ 106 mil pagos em espécie.
Quem já foi alvo
- Em novembro de 2024, Daimler Alberto de Campos, Márcio José Toledo Pinto e Rodrigo Falcão de Oliveira Andrade foram alvos de busca e afastados do STJ.
- O lobista Andresson (ou Anderson) de Oliveira é citado como principal operador e está em prisão domiciliar.
O que ainda falta
- A PF pediu mais prazo ao STF para aprofundar ramificações, seguir trilhas financeiras e manter medidas cautelares contra servidores afastados, a fim de evitar reativação do esquema.
- Ministros do STJ não são investigados, segundo o relatório.
- O STJ informou que não comentará por estar sob sigilo.
- Defesa de investigados nega irregularidades; uma sindicância interna do STJ teria afastado indícios contra Daimler Campos, segundo sua defesa.
Por que importa
- Se confirmadas, as práticas configurariam corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa, com impacto direto na confiança do sistema de Justiça.
- A presença de contratos milionários e intermediários sugere capilaridade e profissionalização do “negócio”.
Próximos passos
- Decisão do STF sobre o pedido de mais prazo e sobre a manutenção das cautelares.
- Possível ampliação dos alvos após análise de dados bancários, mensagens e documentos apreendidos.
PF APONTA “MERCADO” DE SENTENÇAS NO STJ: RELATÓRIO VÊ REDE COM LOBISTAS, SERVIDORES E EMPRESÁRIOS — MINISTROS NÃO SÃO ALVOS
Brasília – A Polícia Federal acaba de entregar ao Supremo uma bomba: existe um esquema estruturado de venda de sentenças no Superior Tribunal de Justiça (STJ), a segunda maior corte do país. E não estamos falando de um caso isolado – é uma verdadeira organização criminosa operando dentro do tribunal.
O relatório entregue ao STF nesta sexta-feira é devastador. Revela um “mercado paralelo de influência” onde contratos milionários eram assinados não para defender clientes com competência jurídica, mas para comprar decisões judiciais prontas.
Como Funcionava o Esquema

Imagine um shopping center, mas em vez de lojas vendendo produtos, você tem gente vendendo sentenças judiciais. Era mais ou menos assim que funcionava o esquema descoberto pela PF.
O PASSO A PASSO:
- Alguém tem um processo importante no STJ
- Procura o “lobista” Andresson de Oliveira (principal operador)
- Negocia o preço da sentença favorável
- Andresson aciona a rede de servidores infiltrados no STJ
- A decisão é fabricada, assinada e publicada
- Dinheiro circula, relógios Rolex aparecem
A Linguagem Secreta do Crime

Para não serem pegos, os criminosos criaram um verdadeiro código secreto. Veja o que significava cada expressão:
- “A obra está pronta” = A minuta da decisão judicial está finalizada
- “Faltam os retoques do patrão” = Precisa da assinatura do magistrado
- “Orçamento” = Valor que precisa ser pago pela sentença
- Laranjas e empresas de fachada = Para esconder o dinheiro sujo
A PF analisou mensagens e descobriu algo chocante: em questão de poucas horas após as conversas, as decisões já eram publicadas. Ou seja, as informações circulavam entre os criminosos antes de serem oficiais.
Os Três Núcleos do Crime

A organização funcionava como uma empresa, dividida em três departamentos:
NÚCLEO 1 – OS ADVOGADOS COMPRADORES: Advogados que, em vez de trabalhar pelos clientes, simplesmente pagavam para ter sentenças favoráveis.
NÚCLEO 2 – OS OPERADORES: Lobistas como Andresson de Oliveira, que faziam a ponte entre quem pagava e quem entregava a sentença.
NÚCLEO 3 – OS SERVIDORES DO STJ: Funcionários infiltrados dentro do próprio tribunal, com acesso privilegiado aos processos e às decisões.
O Luxo Incompatível
Rodrigo Falcão, um dos servidores afastados, tinha em casa três relógios Rolex. Um deles custou R$ 106 mil – pagos em dinheiro vivo, segundo o cupom fiscal encontrado pela PF.
Para você ter ideia: um servidor público do STJ ganha entre R$ 10 mil e R$ 20 mil por mês. Como alguém com esse salário tem três Rolex na gaveta?
Quem Foi Pego

Em novembro de 2024, a PF foi às ruas e afastou três servidores do STJ:
- Daimler Alberto de Campos
- Márcio José Toledo Pinto
- Rodrigo Falcão de Oliveira Andrade
O lobista Andresson de Oliveira, apontado como cérebro da operação, está em prisão domiciliar.
IMPORTANTE: A investigação não aponta envolvimento de ministros do STJ. Os criminosos eram servidores e pessoas de fora que se infiltraram no sistema.
O Que Acontece Agora?

A PF pediu mais tempo para investigar. O relatório é preliminar – ou seja, tem mais coisa vindo por aí. A polícia quer:
✓ Identificar todas as ramificações do esquema
✓ Descobrir quantas sentenças foram vendidas
✓ Rastrear todo o dinheiro envolvido
✓ Manter os afastamentos para evitar reativação do esquema
A Defesa
A defesa de Daimler Alberto de Campos afirma que o nome do cliente foi “usado de forma criminosa” e que a sindicância interna do STJ não encontrou indícios contra ele. Os outros investigados não responderam ou não foram localizados.
O STJ Não Falou
O Superior Tribunal de Justiça se recusou a comentar o caso, alegando que a investigação está sob sigilo no STF.
Por Que Isso É Grave?
Porque destrói a confiança na Justiça. Se sentenças podem ser compradas, então:
- Quem tem dinheiro sempre ganha
- Quem é honesto sempre perde
- A lei vale para uns e não para outros
- O STJ vira um balcão de negócios
E o pior: quantos processos já foram decididos assim sem ninguém saber?