PF IDENTIFICA REPASSE DE R$ 4 MILHÕES EM PROPINA A ASSESSOR DO STJ
A Polícia Federal (PF) detectou indícios de que o lobista e empresário Andreson de Oliveira Gonçalves realizou transferências bancárias que totalizam R$ 4 milhões como pagamento de propina a um assessor do Superior Tribunal de Justiça (STJ). O servidor investigado atuou nos gabinetes de duas ministras da Corte e já foi afastado do cargo.
Essa é a primeira prova concreta de repasses financeiros a servidores do STJ no inquérito que apura um esquema de corrupção no tribunal. Andreson está preso desde novembro de 2024, suspeito de envolvimento em crimes relacionados ao STJ e a outros tribunais.
As informações constam em um relatório da PF enviado ao ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF). O documento está sob sigilo, mas o UOL teve acesso a detalhes das investigações.
Transferências suspeitas
Ao analisar a quebra de sigilo bancário dos investigados, a PF identificou que uma das empresas de Andreson, a Florais Transportes, sediada em Cuiabá, realizou 45 transferências bancárias entre maio de 2021 e dezembro de 2023 para a empresa Marvan Logística. Os valores variaram entre R$ 1.000 e R$ 250 mil.
Segundo a investigação, a Marvan Logística pertence à esposa de Márcio Toledo Pinto, servidor do STJ que foi alvo de buscas da PF em novembro e afastado do cargo após o início das investigações.
O relatório da PF destaca que os pagamentos indicam fortes indícios de lavagem de dinheiro, com os repasses sendo utilizados para operacionalizar o pagamento de propinas ao servidor.
Relação com decisões do STJ
Antes de ser afastado, Toledo Pinto atuava na elaboração de minutas de decisões nos gabinetes das ministras Nancy Andrighi e Isabel Gallotti. As investigações indicam que ele alterou documentos e acessou processos nos quais o lobista obteve informações privilegiadas antes das decisões serem oficialmente proferidas.
A PF identificou 13 processos sob suspeita de vazamento: oito no gabinete da ministra Isabel e cinco no da ministra Nancy. O inquérito ainda não aponta nenhum ministro como formalmente investigado.
Além disso, as datas de alguns pagamentos realizados por Andreson à empresa da esposa do assessor coincidem com momentos em que o lobista teve acesso antecipado a minutas de decisões do STJ, o que reforça as suspeitas de corrupção e vazamento de informações sigilosas.
A PF também aponta que a Marvan Logística, aberta em 2021, não possui funcionários registrados, o que sugere que a empresa pode ser de fachada. A atividade declarada seria o transporte rodoviário de cargas.
Outros ministros sob investigação
A investigação também apura possíveis irregularidades em processos nos gabinetes dos ministros Moura Ribeiro e Og Fernandes.
No caso de Og Fernandes, a PF identificou que seu ex-chefe de gabinete, Rodrigo Falcão, comprou joias em dinheiro vivo e discutiu processos da Corte com sua irmã, que é advogada.
Posicionamento do STJ
O STJ afirmou que está conduzindo investigações internas sobre suspeitas de vazamento de informações sigilosas e influência em decisões judiciais. O tribunal confirmou que Márcio Toledo Pinto segue afastado por ordem do STF.
“Foram abertos dois processos administrativos disciplinares e uma sindicância investigativa para apurar as possíveis infrações cometidas por servidores do STJ”, informou a assessoria da Corte. Os procedimentos são sigilosos e seguem em andamento.
As ministras Nancy Andrighi e Isabel Gallotti não se manifestaram até o fechamento desta reportagem.
A defesa de Márcio Toledo Pinto afirmou que não irá se pronunciar. Já a defesa de Andreson de Oliveira Gonçalvesnão respondeu aos questionamentos sobre os pagamentos. Anteriormente, seus advogados alegaram que não há provasde que o lobista tivesse influência em decisões do STJ.
A PF segue analisando documentos apreendidos e quebras de sigilo bancário. O inquérito está na reta final, mas novas frentes de investigação podem ser abertas, caso surjam mais indícios de irregularidades.
