Presidente da Contag comprou casa da própria entidade por valor mínimo; hoje é investigado pela PF
Imóvel foi vendido sem concorrência efetiva; sindicalista lucrou quase R$ 500 mil na revenda
A Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) vendeu um imóvel próprio, em 2012, para o então presidente da entidade, Alberto Broch, por R$ 515 mil — valor mínimo estabelecido em edital interno. O negócio, hoje sob questionamentos éticos, reapareceu no centro das atenções após Broch se tornar alvo da Polícia Federal na investigação sobre fraudes nos descontos associativos sobre aposentadorias do INSS.
Atualizado pela inflação, o valor pago pelo imóvel seria hoje de R$ 1,08 milhão. Em maio de 2023, Broch vendeu a mesma casa, localizada na Asa Sul, área nobre de Brasília, por R$ 1,55 milhão (o equivalente a R$ 1,69 milhãocorrigidos). O lucro, quase meio milhão de reais, levanta dúvidas sobre a lisura da transação — principalmente porque o sindicalista foi o único a apresentar proposta na concorrência pública realizada pela própria entidade que presidia.
Segundo documentos obtidos pela reportagem, o edital do leilão foi assinado pelo próprio Broch e previa a venda com base em uma média de avaliações feitas por quatro imobiliárias — sendo descartada a menor. O valor mínimo foi definido em dezembro de 2011, e o leilão ocorreu dias depois, sem a participação de outros interessados.
A comissão de venda foi presidida por Aristides Veras dos Santos, então secretário de Finanças da Contag e futuro presidente da entidade. Ele deixou o comando da confederação no início de maio deste ano, em meio ao avanço das investigações sobre as fraudes no INSS.
Investigação da PF e suspeitas de fraude
A Contag aparece na mira da Operação Sem Descontos, da Polícia Federal, que apura um esquema bilionário de descontos indevidos em benefícios previdenciários. A entidade é a campeã de filiações via INSS: mais de 1,3 milhão de beneficiários têm parcelas descontadas mensalmente em nome da confederação.
Apesar de ser investigada, a Contag ficou fora da ação judicial movida pela Advocacia-Geral da União (AGU), que pede o bloqueio de R$ 2,56 bilhões contra outras 12 entidades. Segundo a AGU, a confederação não foi incluída na cautelar por não haver indícios claros de pagamento de propina ou de ser uma entidade “de fachada”, critérios usados para definir os alvos da ação baseada na Lei Anticorrupção.
Ainda assim, a entidade já teve a sua sede em Brasília bloqueada pela Justiça, no ano passado, em razão de irregularidades semelhantes relacionadas a descontos indevidos.
O que diz a Contag
Procurada, a Contag defendeu a lisura do processo e afirmou que a venda foi precedida de concorrência pública com editais publicados em jornais de grande circulação e no Diário Oficial da União. Disse ainda que o preço do imóvel foi definido com base em laudos de quatro imobiliárias e que a menor avaliação foi descartada, com base em critérios técnicos.
A entidade também reforçou que o edital exigia pagamento de 50% do valor na proposta e o restante na assinatura da escritura.