Rio Capibaribe afunda em esgoto e piora de qualidade assusta especialistas, diz estudo

Com mais esgoto do que pode suportar, trecho do rio no Recife é classificado como “ruim” pela Fundação SOS Mata Atlântica. Situação pode se tornar crítica nos próximos anos.

A situação do Rio Capibaribe, um dos principais cursos d’água de Pernambuco e que corta o Recife, está se agravando. De acordo com o mais recente relatório Observando os Rios, da Fundação SOS Mata Atlântica, o trecho do rio na capital pernambucana teve queda na qualidade da água e passou de “regular” para “ruim”, entrando na lista das 20 piores amostras do levantamento feito em 145 pontos de 112 rios da Mata Atlântica.

O motivo principal, segundo os pesquisadores, é o despejo de esgoto sem tratamento em volume superior à capacidade de diluição do rio. “Se medidas eficazes não forem adotadas, a tendência é de piora nos próximos anos”, alerta o relatório. O estudo foi divulgado às vésperas do Dia Mundial da Água e chama atenção para o risco de colapso ambiental.

Das 145 amostras coletadas em 14 estados, nenhuma teve qualidade considerada “ótima”. Apenas 11 (7,6%) apresentaram nível “bom”. A maioria — 75,2% — foi classificada como “regular”, enquanto 13,8% estavam em situação “ruim” e 3,4% em condição “péssima”. O Capibaribe no Recife se enquadra nesse grupo intermediário em situação crítica.

Água contaminada, saúde em risco

O trecho mais poluído do Capibaribe está nas proximidades do Jardim do Baobá, na Zona Norte do Recife, onde há dez anos pesquisadores da UPE realizam coletas mensais. Já na nascente do rio, em Limoeiro, a qualidade da água ainda é considerada regular.

Além do Capibaribe, o estudo também avaliou trechos do Rio Beberibe (em Olinda) e do Rio Jaboatão (em Jaboatão dos Guararapes), ambos com qualidade regular. O Rio São Francisco foi analisado em trecho já fora de Pernambuco, no município de Penedo (AL), com qualidade também regular.

Segundo o professor Clemente Coelho Júnior, do Instituto de Ciências Biológicas da UPE, o problema no Recife está diretamente ligado à baixa cobertura de saneamento básico. “Menos da metade da população tem acesso à rede de esgoto. O restante vai direto para os rios, muitas vezes por ligações clandestinas. É esgoto in natura sendo despejado no Capibaribe diariamente”, explica.

Mesmo assim, o rio ainda mostra sinais de vida graças à vegetação de mangue e ao movimento das marés. “Se não fosse esse mecanismo natural, provavelmente já estaríamos classificados como ‘péssimo’”, completa o professor.

Capibaribe tem solução — mas exige ação

Especialistas da SOS Mata Atlântica lembram que casos de sucesso na recuperação de rios já aconteceram — e não apenas na Europa. O Rio Tâmisa, na Inglaterra, já foi mais poluído que o Capibaribe, mas hoje é usado para pesca e transporte. No Brasil, o Rio Jundiaí (SP) também se tornou exemplo de revitalização.

“O que falta é vontade política e envolvimento da sociedade. Há soluções tecnológicas acessíveis, mas precisamos de pressão popular e políticas públicas eficazes”, afirma Cesar Pegoraro, biólogo e mobilizador da SOS Mata Atlântica. Ele também critica a baixa aplicação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, que obriga fabricantes a implementar logística reversa para produtos como pneus e eletrônicos — obrigação que, na prática, é ignorada por muitas empresas.

Saneamento emperrado e privatização no centro do debate

O estudo reacende o debate sobre a privatização da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa). O governo estadual discute um modelo de concessão parcial, que deixaria a produção e tratamento de água com a estatal, mas transferiria a distribuição para a iniciativa privada em boa parte do estado.

Enquanto isso, o déficit é enorme: segundo a própria Compesa, seriam necessários R$ 18,3 bilhões apenas para cobrir a rede de esgoto em Pernambuco. Para atingir as metas do Marco Legal do Saneamento até 2033 — 90% da população com rede de esgoto e 99% com água potável — o estado precisaria de R$ 35 bilhões.

“O marco legal facilitou o processo de privatização, mas os investimentos prometidos ainda não chegaram”, afirma Gustavo Veronesi, coordenador do Observando os Rios. Ele destaca que soluções tradicionais, como grandes estações de tratamento, não atendem a comunidades isoladas e que é preciso apostar em modelos descentralizados, como já é feito na Alemanha.

📉 Degradação em curso

  • Rio Capibaribe, que atravessa o Recife, apresentou piora na qualidade da água e agora está classificado como “ruim”, segundo o relatório Observando os Rios da SOS Mata Atlântica.
  • O trecho mais poluído fica no Recife; em Limoeiro, próximo à nascente, a qualidade ainda é considerada “regular”.
  • principal causa é o excesso de esgoto doméstico e industrial sem tratamento despejado diretamente no rio.

🚨 Alerta para o risco de colapso ambiental

  • Especialistas afirmam que o Capibaribe está se distanciando da classificação “regular” e se aproximando do status “péssimo”.
  • baixa cobertura de saneamento básico no Recife (apenas 49,5% da população tem acesso à rede de esgoto) é apontada como o fator mais crítico.

🌊 Outros rios de Pernambuco também estão em risco

  • Rios Beberibe (Olinda) e Jaboatão (Jaboatão dos Guararapes) mantiveram qualidade “regular”.
  • O trecho analisado do Rio São Francisco, já fora do território de PE (em Penedo-AL), também foi classificado como “regular”.

🧪 Metodologia

  • O estudo avalia 145 pontos em 112 rios da Mata Atlântica com base em 16 parâmetros definidos pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).

🏞️ Sinais de resistência

  • Manguezais e o movimento das marés ainda ajudam a “oxigenar” o Capibaribe, mantendo alguma vida aquática.
  • Capivaras, aves e até jacarés ainda são vistos, mas sua presença é cada vez mais rara.

✅ SOLUÇÕES APONTADAS PARA SALVAR O RIO CAPIBARIBE

  1. Universalização do Saneamento Básico
    • Ampliar drasticamente a coleta e tratamento de esgoto, especialmente em áreas de periferia do Recife e entorno.
    • Investimento público estimado em R$ 35 bilhões para alcançar metas do Marco Legal do Saneamento até 2033.
  2. Descentralização das estações de tratamento
    • Criar estações menores em bairros e comunidades, como acontece na Alemanha, para facilitar o controle e operação local do tratamento de esgoto.
  3. Revitalização ambiental
    • Restaurar a mata ciliar nas margens do rio com parques lineares e reflorestamento urbano.
    • Proteger nascentes e áreas de preservação ambiental nas zonas rurais e urbanas.
  4. Educação e mobilização social
    • Envolver comunidades e ONGs locais em ações de monitoramento, denúncia e educação ambiental.
    • Aumentar a participação da sociedade civil nos comitês de bacias hidrográficas.
  5. Fiscalização de agrotóxicos e resíduos industriais
    • Reforçar a vigilância contra o despejo irregular de produtos químicos e tóxicos.
  6. Implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos
    • Exigir que empresas cumpram a logística reversa e retirem do meio ambiente embalagens e materiais descartáveis que colocam no mercado.
  7. Transparência e controle público sobre concessões
    • Fiscalizar propostas de privatização da Compesa, garantindo que parcerias tragam melhorias reais e tarifas acessíveis.

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