31 parlamentares de 11 partidos atuaram para barrar controle sobre descontos no INSS

PT liderou emendas; proposta de revalidação anual foi esvaziada e derrubada por deputados e senadores do centrão, da esquerda e do PL

Um levantamento da Folha revela que 31 parlamentares de 11 partidos atuaram desde 2019 para enfraquecer ou derrubar o controle sobre os descontos em benefícios pagos pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) a aposentados e pensionistas.

Essa articulação ocorreu ao longo de três medidas provisórias editadas ainda no governo Jair Bolsonaro (PL) e culminou na revogação da exigência de recadastramento periódico para descontos associativos, hoje apontada pelo governo Lula (PT) como uma das principais brechas que permitiram o crescimento de fraudes bilionárias contra aposentados.

PT foi o partido com mais parlamentares defendendo a flexibilização das regras, mas também participaram do movimento nomes do PL, PSOL, MDB, PSB, PCdoB, Republicanos e outros partidos.
As ações envolveram emendas para acabar com a exigência de revalidação anual dos descontos autorizados por beneficiários a associações, sindicatos e entidades conveniadas com o INSS.


Bolsonaro propôs revalidação anual, mas Congresso derrubou

A ofensiva parlamentar começou em 2019, quando o então presidente Jair Bolsonaro enviou ao Congresso uma medida provisória propondo que os descontos em folha só fossem mantidos mediante revalidação anual pelo segurado — o que aumentaria o controle sobre irregularidades.

O texto encontrou forte resistência no Congresso. Ao menos 26 parlamentares propuseram acabar com essa exigência ou aumentar o intervalo para revalidação de cinco em cinco anos. Eles alegavam que a regra era inviável e violava a liberdade de associação.

Foram autores de emendas nessa linha, entre outros, Paulo Pereira da Silva (Solidariedade-SP), Heitor Schuch (PSB-RS), Zé Neto (PT-BA), Luiz Carlos Motta (PL-SP), Patrus Ananias (PT-MG), Marcon (PT-RS) e Orlando Silva (PCdoB-SP).

Na comissão mista que analisou a MP, entidades como a Cobap (Confederação Brasileira de Aposentados, Pensionistas e Idosos) também se posicionaram contra a regra, dizendo que não teriam capacidade operacional para fazer a revalidação anual.

“O INSS não tem nem o endereço de todos os aposentados. Como vamos chegar nesses associados para pedir refiliação?”, disse à época Warley Martins Gonçalles, presidente da Cobap.


Relator reconheceu risco de fraudes, mas cedeu à pressão

O relator da MP, Paulo Eduardo Martins (então no PSC, hoje no PL-PR), admitiu em parecer que a regra poderia conter fraudes, mas decidiu flexibilizá-la, propondo revalidação a cada dois anos. Após negociações, o texto final esticou esse prazo para três anos, a partir de 31 de dezembro de 2021. Bolsonaro sancionou a medida sem vetos.

Depois, em 2020, outra MP foi usada pelo Congresso para adiar ainda mais a revalidação, agora para 2022 — por emenda do então deputado e hoje ministro da Previdência, Wolney Queiroz (PDT-PE), com apoio de outros parlamentares do PT e do PSB. A justificativa oficial era a pandemia.

Em 2022, uma terceira MP de Bolsonaro foi usada para revogar de vez a revalidação periódica. O relator, Luis Miranda (Republicanos-DF), retirou do texto qualquer obrigação de novo cadastramento. A lei foi sancionada sem vetos por Bolsonaro.


“Foi nesse intervalo que o ladrão entrou na casa”, diz ministro

Hoje à frente do Ministério da Previdência, Wolney Queiroz atribui à derrubada da revalidação o avanço das fraudescom descontos ilegais em benefícios do INSS.

“Isso foi sepultado por essa MP e essa lei em 2022. E é exatamente nesse interregno, entre 2019 e 2022, que o ladrão entra na casa”, disse em audiência no Congresso.

Segundo Queiroz, foi nesse período que 11 novas associações — todas fraudulentas — se credenciaram no sistema do INSS, passando a realizar descontos sem autorização.


Parlamentares dizem que foco não era fraude e alegam falta de informação

Procurados, diversos parlamentares afirmaram que as emendas tinham como objetivo defender entidades legítimas e simplificar o processo para os aposentados. Alguns disseram que à época não se conhecia a dimensão das fraudes.

“Não havia elementos para indicar o uso criminoso desse tipo de autorização”, afirmou a assessoria do senador Rogério Carvalho (PT-SE). “A MP tinha como foco retirar direitos, e não coibir fraudes.”

Paulo Paim (PT-RS) disse que defende fiscalização permanente, mas que a revalidação anual “poderia ser facilmente fraudada”. Heitor Schuch (PSB-RS) reconheceu que a revalidação poderia ajudar a coibir desvios, mas afirmou que o vazamento de dados do INSS anula sua eficácia.


Quem atuou para derrubar o controle

A reportagem identificou 31 parlamentares que, de forma direta ou indireta, atuaram para derrubar ou enfraquecer o mecanismo de revalidação entre 2019 e 2022. Entre eles estão:

  • Paulo Pereira da Silva (Solidariedade-SP)
  • Zé Neto (PT-BA)
  • Heitor Schuch (PSB-RS)
  • Luiz Carlos Motta (PL-SP)
  • Orlando Silva (PCdoB-SP)
  • Patrus Ananias (PT-MG)
  • Bohn Gass (PT-RS)
  • Hildo Rocha (MDB-MA)
  • Paulo Paim (PT-RS)
  • Vilson da Fetaemg (PSB-MG)
  • Jean Paul Prates (PT-RN)
  • Luis Miranda (Republicanos-DF)
  • Wolney Queiroz (PDT-PE)

Além de outros 18 parlamentares de PSOL, PCdoB, MDB, PSDB, Republicanos e PL.


Resumo por partido (à época da emenda):

  • PT: 11
  • PSOL: 5
  • PSB: 3
  • MDB: 2
  • PCdoB: 2
  • PSDB: 2
  • Republicanos: 2
  • PL: 1
  • PDT: 1
  • PSC: 1
  • Solidariedade: 1

🔺 Total de parlamentares envolvidos

  • 31 parlamentares atuaram diretamente para flexibilizar ou extinguir a exigência de revalidação periódica dos descontos.
  • Eles pertenciam a 11 partidos diferentes, da esquerda ao centrão e direita.

🟥 Partido que mais atuou contra o controle: PT

  • 11 parlamentares do PT propuseram o fim ou a flexibilização da revalidação dos descontos.
  • Alguns dos nomes:
    • Zé Neto (BA)
    • Bohn Gass (RS)
    • Patrus Ananias (MG)
    • Marcon (RS)
    • Valmir Assunção (BA)
    • Paulo Paim (RS)
    • Paulo Rocha (PA)
    • Jean Paul Prates (RN)

🟧 Outros partidos com forte atuação

  • PSOL: 5 parlamentares atuaram com propostas mais amplas que incluíam o fim da revalidação.
    • Destaques: Fernanda Melchionna, Sâmia Bomfim, Áurea Carolina, Edmilson Rodrigues, Marcelo Freixo.
  • PSB: 3 parlamentares atuaram contra a revalidação, incluindo:
    • Heitor Schuch (RS) e Vilson da Fetaemg (MG)
  • PCdoB: 2 parlamentares — Daniel Almeida (BA) e Orlando Silva (SP)
  • MDB: 2 parlamentares — Celso Maldaner (SC) e Hildo Rocha (MA)
  • PSDB: 2 parlamentares — Tereza Nelma (AL) e Izalci Lucas (DF)
  • Republicanos: 2 — Capitão Alberto Neto (AM) e Luis Miranda (DF)
  • PDTWolney Queiroz (PE), hoje ministro da Previdência, propôs o adiamento da revalidação para 2023.
  • SolidariedadePaulinho da Força (SP) propôs diretamente o fim da revalidação.
  • PLLuiz Carlos Motta (SP)
  • PSCPaulo Eduardo Martins (PR), relator da MP, que aumentou o intervalo de revalidação para três anos.

📆 Período de atuação legislativa

  • As propostas começaram em 2019, durante o governo Bolsonaro, e seguiram até 2022.
  • Nesse intervalo:
    • A exigência de revalidação anual foi postergada.
    • Em 2022, foi eliminada definitivamente em uma MP que criou o SIM Digital.

🟨 Relatores-chave e suas decisões

  • Paulo Eduardo Martins (PSC/PR): aumentou o intervalo para 3 anos.
  • Capitão Alberto Neto (Republicanos/AM): prorrogou início da revalidação para 2022.
  • Luis Miranda (Republicanos/DF): revogou por completo o mecanismo de controle em 2022.

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