Ex-CEO das Lojas Americanas é preso em Madrid, na Espanha
O ex-CEO das Lojas Americanas, Miguel Gutierrez, foi preso nesta sexta-feira (28) em Madrid, Espanha.
A detenção ocorreu após a deflagração, na quinta-feira, da Operação Disclosure pela Polícia Federal (PF), que investiga fraudes contábeis que totalizam R$ 25 bilhões na empresa. Mandados de prisão foram expedidos contra Gutierrez e Anna Christina Ramos Saicali, uma diretora da empresa que está foragida.
Desde o início do escândalo em janeiro de 2023, Gutierrez reside na Espanha. Seu nome, juntamente com o de Saicali, consta na Difusão Vermelha da Interpol, lista dos mais procurados internacionalmente.
Detalhes sobre o local onde Gutierrez está detido e possíveis procedimentos de extradição ainda não foram divulgados.
Segundo investigações, os resultados financeiros da Americanas foram manipulados para apresentar um aumento fictício de caixa, inflacionando artificialmente o valor das ações na bolsa de valores brasileira, B3.
O Ministério Público Federal apontou que Gutierrez requisitava os balanços financeiros fraudulentos em pen drives para evitar rastreamento.
Miguel Gutierrez, nascido em 1961, é brasileiro com cidadania espanhola. Formado em engenharia mecânica pela UFRJ e em economia pela UERJ, Gutierrez iniciou sua carreira na Americanas em 1993, sob a presidência de Carlos Alberto Sicupira, um dos principais acionistas ao lado de Jorge Paulo Lemann e Marcel Herrmann Telles.
Durante três décadas na empresa, Gutierrez foi reconhecido por sua habilidade em estratégias de redução de custos operacionais, conforme reportagem da Bloomberg.
Ele assumiu a presidência em 2003 e permaneceu até dezembro de 2022, quando renunciou ao cargo. Seu sucessor, Sergio Rial, identificou as irregularidades contábeis e deixou o posto após nove dias.
A fraude contábil, segundo a PF, envolvia maquiagem dos resultados financeiros para inflar artificialmente o valor das ações e garantir bônus milionários aos executivos. As investigações apontaram manipulações em operações como antecipação de pagamentos a fornecedores e falsas verbas de propaganda cooperada.
A operação, iniciada após a empresa reportar inconsistências contábeis em janeiro de 2023, revelou um rombo patrimonial inicialmente estimado em R$ 20 bilhões, posteriormente ajustado para R$ 43 bilhões.
Os crimes investigados incluem manipulação de mercado, uso de informação privilegiada, associação criminosa e lavagem de dinheiro, com penas que podem chegar a 26 anos de prisão.
A força-tarefa contou com procuradores do Ministério Público Federal e representantes da Comissão de Valores Mobiliários, além do suporte da administração atual do Grupo Americanas para o compartilhamento de informações.
“Disclosure”, termo utilizado pela PF, refere-se à divulgação de informações necessárias para a transparência das empresas de capital aberto no mercado de capitais.