Operação Sharpe: prisões na Favela do Moinho expõem ligações entre crime organizado e lideranças comunitárias
Alessandra Moja, que recebeu presidente Lula em julho, é presa acusada de comandar esquema de extorsão e tráfico de drogas

Uma operação policial realizada na manhã desta segunda-feira (8) prendeu sete pessoas ligadas ao tráfico de drogas na Favela do Moinho, no centro de São Paulo. O principal alvo foi Alessandra Moja Cunha, que se apresentava como líder comunitária da região e é irmã do traficante Leonardo Moja, conhecido como “Leo do Moinho”.
A prisão de Alessandra chamou atenção porque ela havia recebido o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em uma visita oficial à favela no dia 26 de julho deste ano, quando foi anunciado um programa habitacional para realocar as famílias do local.

O que foi a Operação Sharpe
A Operação Sharpe foi realizada pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP) em conjunto com as polícias Militar e Civil. Foram cumpridos 10 mandados de prisão preventiva e 21 de busca e apreensão na Favela do Moinho.
Esta operação é um desdobramento da Operação Salus et Dignitas, realizada em agosto de 2024, que investigou o “ecossistema criminoso” do Primeiro Comando da Capital (PCC) na região da Cracolândia.

Quem foi preso
Além de Alessandra Moja, foram detidas outras seis pessoas:
- José Carlos Silva (“Carlinhos”) – assumiu o comando do tráfico após a prisão de Leo do Moinho
- Yasmin Moja Flores – filha de Alessandra
- Jorge de Santana – dono de bar usado para armazenar drogas e armas
- Leandra Maria de Lima – cunhada de Leo do Moinho
- Paulo Rogério Dias – responsável pela distribuição de drogas
- Cláudio dos Santos Celestino (“Xocolate”) – armazenava drogas e armas
As acusações contra Alessandra
Segundo o Ministério Público, Alessandra tinha múltiplos papéis na organização criminosa:
1. Administração do esquema: Era responsável por gerenciar os prédios construídos pelo irmão na favela, que serviam para moradia de traficantes e armazenamento de drogas.
2. Extorsão de moradores: Cobrava valores de até R$ 100 mil das famílias que aceitavam o acordo do governo para deixar a favela e se mudar para habitações da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano).
3. Lavagem de dinheiro: Administrava o ferro-velho Moinho, usado para “lavar” dinheiro do tráfico de drogas.
4. Proteção contra a polícia: Organizava manifestações públicas para “blindar” a comunidade das intervenções policiais.

A visita de Lula à favela
Em 26 de julho de 2025, o presidente Lula visitou a Favela do Moinho para anunciar um programa habitacional que oferece crédito de R$ 250 mil para as famílias comprarem novas casas. Durante o evento, Alessandra subiu ao palco e cumprimentou o presidente.
O programa foi resultado de negociações entre o governo federal e estadual para a desocupação da área, onde será construído um parque. As conversas foram coordenadas pelo ministro Márcio Macêdo, da Secretaria-Geral da Presidência.
Conexões com outras operações
As investigações revelaram ligações da Favela do Moinho com outros esquemas criminosos do PCC:
- Operação Carbono Oculto: investigou a máfia do combustível
- Operação Fim de Linha: apurou esquemas no transporte público
- Operação Mafiusi: maior operação contra o tráfico transatlântico
Personagens como Admar de Carvalho Martins (UPBus), Ygor Daniel Zago (“Hulk”) e William Barile Agati (“Concierge do PCC”) aparecem conectados ao esquema da favela.
O controle do PCC na região

Segundo as investigações, Leo do Moinho era o responsável pelo tráfico de drogas na Favela do Moinho e controlava a “disciplina” na comunidade. Mesmo preso, continuava enviando ordens de dentro da prisão.
O PCC utilizava a favela como base para:
- Distribuir drogas na Cracolândia
- Cobrar aluguéis dos moradores
- Operar ferros-velhos para lavagem de dinheiro
- Coordenar roubos de cobre e outros metais
Histórico criminal de Alessandra
Alessandra já havia sido condenada anteriormente. Em 2015, foi sentenciada a oito anos de prisão por participar de um homicídio ocorrido em 2005 na própria favela. Ela e a irmã mataram a facadas uma mulher que dormia na casa do ex-namorado da irmã.
Repercussão política
A prisão de Alessandra gerou repercussão política. O secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, publicou um vídeo nas redes sociais ironizando a visita do governo federal à “ONG de fachada” representada pela mulher.
O governo federal, por meio da Secretaria de Comunicação, defendeu que “a interlocução com representantes comunitários é prática essencial de qualquer governo” e que a segurança de Lula foi conduzida “de forma rigorosa”.
Próximos passos
As investigações continuam para apurar as ramificações do esquema criminoso. O governo estadual mantém o projeto de construção do parque na área, condicionado à conclusão do processo de realocação das famílias.
A Operação Sharpe representa mais um capítulo no combate ao crime organizado no centro de São Paulo, mostrando como o PCC infiltrou organizações sociais para proteger suas atividades criminosas.
A reportagem busca contato com as defesas dos presos. O espaço permanece aberto para manifestações.
“Líder comunitária que preparou visita de Lula extorquia moradores”
Alessandra Moja, presidente da Associação da Comunidade do Moinho, integrava organização criminosa do irmão Leo do Moinho e comandava extorsões de até R$ 100 mil de famílias que aceitavam deixar a favela.
DESTAQUES:
- R$ 100 mil: valor cobrado de famílias para aceitar realocação
- Histórico criminal: condenada por homicídio em 2015 (8 anos de prisão)
- Ameaças a moradores: “Eu vou atrás de você e vou te achar”
- Monitoramento: PCC fotografava casas de quem aceitava mudança
- Êxodo noturno: moradores fugiam na calada da noite por medo
- ONG de fachada: usada para negociar com autoridades
- Ferro-velho: prestava contas regularmente ao irmão preso