PCC lucra mais com postos de gasolina do que com drogas: facção movimenta R$ 147 bilhões na economia formal
Crime organizado brasileiro já supera tráfico de cocaína em 10 vezes e se infiltra em 13 setores da economia enquanto governo Lula atrasa lei antimáfia

O império bilionário que nasceu nas prisões
O que começou há 32 anos na Casa de Custódia de Taubaté como uma facção carcerária hoje representa uma das maiores ameaças econômicas do Brasil. O Primeiro Comando da Capital (PCC) não apenas dominou o tráfico de drogas, mas criou um império empresarial que movimenta cifras astronômicas na economia formal brasileira.
Segundo estudo inédito do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, as organizações criminosas no país já faturam R$ 146,8 bilhões anuais com atividades aparentemente legais – quase 10 vezes mais que os R$ 15 bilhões do tráfico de cocaína.
Do cárcere aos postos de combustível
O promotor Lincoln Gakiya, do Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco), revela uma transformação radical: “As empresas que eles administram não são mais de fachada como há uma década. São empresas reais, prestando serviços, às vezes até bons serviços.”
A estratégia começou há 10 anos com a compra de postos de gasolina, concessionárias e imobiliárias. Hoje, a facção está presente em 13 setores da economia formal:
Os 13 tentáculos do crime organizado:
- Postos de combustível e lubrificantes (R$ 61,5 bi)
- Bebidas alcoólicas (R$ 56,9 bi)
- Extração e produção de ouro (R$ 18,2 bi)
- Cigarro e tabaco (R$ 10,3 bi)
- Construção civil
- Casas de câmbio
- Bancos digitais e fintechs
- Fundos de Investimento em Participações
- Transporte público (ônibus)
- Igrejas e organizações religiosas
- Saúde pública (OSs)
- Coleta de lixo e limpeza urbana
- Mineração, apostas online e futebol

A rota asiática: cocaína vale ouro
A internacionalização do PCC atingiu proporções alarmantes. A facção opera em 28 países, incluindo Turquia, Líbano e Japão, aproveitando a valorização extrema da cocaína no mercado asiático.
Os números impressionam:
- Compra na Bolívia: US$ 800-1.000 por quilo
- Venda em Hong Kong: US$ 150.000 por quilo
- Lucro: 15.000% de margem
Crime organizado já é o maior empregador em algumas regiões
Renato Sérgio de Lima, presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, faz um alerta chocante: “No México, o principal empregador é o crime organizado. O Brasil ainda está longe disso, mas em algumas regiões, como a Amazônia, isso já acontece.”
Os prejuízos para a economia legal:
- Evasão fiscal bilionária
- Concorrência desleal com empresários honestos
- Aumento dos custos logísticos por insegurança
- Afastamento de investimentos pelo clima de violência
- Deterioração da qualidade da mão de obra
Crimes cibernéticos: a nova mina de ouro
Além da infiltração na economia formal, o estudo revela que crimes cibernéticos e roubo de celulares já movimentam R$ 186 bilhões anuais – valor ainda maior que toda a economia informal das facções.
A “pax mafiosa” que engana
Um fenômeno preocupante identificado pelos especialistas é a “pax mafiosa” – a redução artificial da violência através do controle territorial absoluto.
“Nem sempre a diminuição da taxa de homicídio pode ser sinalizador de que estamos evoluindo no combate às organizações criminosas,” alerta Gakiya. “A segurança no Brasil todo vai mal.”
Lei antimáfia: urgência ignorada pelo governo
Enquanto o crime se sofistica e se internacionaliza, o Brasil patina na aprovação de uma lei antimáfia. O projeto, que deveria estar pronto em maio e depois junho, permanece engavetado no Ministério da Justiça por “disputas corporativistas entre as polícias.”
O que propõe a lei antimáfia:
- Agência federal de combate ao crime organizado
- Bloqueio preventivo de recursos suspeitos pelos bancos
- Criminalização do domínio territorial exercido pelas facções
- Regime de cárcere duro sem renovação anual obrigatória
- Figura jurídica da “organização criminosa de tipo mafioso”
A ameaça global que nasceu no Brasil
Para Giovanni Melillo, procurador nacional antimáfia da Itália, “o PCC é uma ameaça não só para o Brasil, mas um componente importante da criminalidade organizada transnacional.”
A facção já estabeleceu alianças internacionais perigosas:
- ‘Ndrangheta (máfia calabresa)
- FARC (Colômbia)
- EPP (Paraguai)
- Hezbollah (Líbano)
O preço da inação
Enquanto autoridades brasileiras continuam “despachando policiais vestidos de rambo para abater bandidos pés-de-chinelo em comunidades pobres,” nas palavras do especialista, o crime organizado se globaliza e se sofistica.
Maria Silvia Bastos Marques, executiva com passagens pela CSN, BNDES e Goldman Sachs, resume o impacto: “Um sentimento de violência afasta investimentos. Tudo que afeta o direito de ir e vir do cidadão impacta a qualidade da mão de obra e eleva custos das empresas.”
NÚMEROS QUE CHOCAM
Crime organizado formal: R$ 146,8 bilhões Tráfico de cocaína: R$ 15 bilhões
Crimes cibernéticos: R$ 186 bilhões Países com presença do PCC: 28 Setores econômicos infiltrados: 13 Margem de lucro na Ásia: 15.000%
A economia do crime no Brasil já supera o PIB de países inteiros. É hora de agir antes que seja tarde demais.