CASO ERIKA HILTON: EMBAIXADA DOS EUA ALTERA GÊNERO EM VISTO E DIZ RECONHECER APENAS “DOIS SEXOS IMUTÁVEIS”

A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) denunciou nesta quarta-feira (16) que teve seu gênero alterado para masculino em um visto diplomático emitido pela Embaixada dos Estados Unidos. Nas redes sociais, a parlamentar classificou o episódio como um “ato de violência institucional” e “transfobia de Estado”.

Segundo Hilton, os documentos apresentados no pedido de visto — incluindo sua certidão de nascimento retificada — a identificam como mulher. O novo visto, no entanto, ignorou esses dados e foi emitido com a marcação de “sexo masculino”. O caso ocorreu mesmo após a deputada já ter obtido anteriormente um visto correto pela mesma embaixada.

A justificativa oficial da Embaixada norte-americana é baseada em uma política do governo dos EUA, estabelecida por meio da Ordem Executiva 14168. Em nota ao Correio Braziliense, a representação diplomática declarou:

“De acordo com a Ordem Executiva 14168, é política dos EUA reconhecer dois sexos — masculino e feminino — considerados imutáveis desde o nascimento.”

Erika Hilton foi convidada como palestrante em eventos na Universidade de Harvard e no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), mas disse que pretende acionar a Organização das Nações Unidas (ONU) contra o que considera uma violação dos direitos civis brasileiros e da sua identidade de gênero.

“É uma situação de desrespeito, de abuso, inclusive de poder, porque viola um documento brasileiro. Uma expressão escancarada e perversa do que é a transfobia de Estado praticada pelo governo americano”, afirmou a deputada.

Hilton também destacou a gravidade diplomática do episódio:

“Se a embaixada dos EUA tem algo a falar sobre mim, que fale baixo. Dentro do prédio deles. Cercado, de todos os lados, pelo nosso Estado Democrático de Direito.”

A parlamentar criticou o que chamou de “obsessão de setores conservadores com pessoas trans” e lembrou que sua documentação está inteiramente regularizada:

“Sou registrada como mulher, inclusive na certidão de nascimento. A embaixada ignora documentos oficiais de uma nação soberana e de uma representante diplomática do povo brasileiro.”

DE ERIKA HILTON A ATRIZ DE EUPHORIA: EUA SÃO ACUSADOS DE TRANSFOBIA EM VISTOS E PASSAPORTES

Casos envolvendo figuras públicas trans que tiveram o gênero alterado para “masculino” em documentos oficiais dos Estados Unidos têm gerado críticas internacionais e se transformado em uma batalha judicial. Nesta semana, a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) denunciou que teve sua identidade de gênero desrespeitada ao receber um visto diplomático dos EUA com o sexo masculino registrado — contrariando documentos oficiais brasileiros.

“É uma situação de violência, desrespeito e abuso de poder. Isso viola um documento brasileiro. É a expressão mais clara e cruel da transfobia de Estado”, declarou a parlamentar nas redes sociais. Erika havia sido convidada a palestrar na Brazil Conference 2025, organizada pela Universidade de Harvard e pelo MIT, mas cancelou sua participação após o episódio.

De acordo com a Embaixada dos Estados Unidos, o país segue a Ordem Executiva 14168, assinada por Donald Trump em seu retorno à presidência, que determina que agências federais reconheçam apenas dois sexos “imutáveis desde o nascimento” em todos os documentos oficiais, como vistos e passaportes. A embaixada alegou ainda que, por política interna, não comenta casos individuais.

CASO INTERNACIONAL: ATRIZ DE EUPHORIA TAMBÉM FOI ALVO

O caso de Erika Hilton não é isolado. Em fevereiro, a atriz trans Hunter Schafer, conhecida por seu papel na série Euphoria, denunciou que teve seu novo passaporte emitido com o gênero masculino. Segundo a artista, seus documentos anteriores sempre indicaram o gênero feminino desde sua adolescência, quando retificou oficialmente seus dados.

“Não entendo o que mudou no processo, mas suspeito que seja uma consequência direta do novo governo dos EUA”, disse a atriz em vídeo publicado nas redes sociais, após precisar solicitar um novo passaporte por conta de um roubo.

BATALHA JUDICIAL NOS EUA

A medida do governo Trump está sendo contestada judicialmente por organizações de direitos civis. A União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU) entrou com uma ação contra o Departamento de Estado, representando sete pessoas transgênero e não binárias. A entidade argumenta que a política é discriminatória e viola direitos constitucionais.

Durante audiência em Boston, a juíza federal Julia Kobick — indicada por Joe Biden — demonstrou preocupação com o impacto da medida:

“Eles estão sendo impedidos de obter um passaporte que reflita sua identidade de gênero e expostos à discriminação em países estrangeiros”, afirmou.

ERIKA LEVARÁ O CASO À ONU

Segundo apuração da CNN, Erika Hilton pretende acionar instâncias internacionais, incluindo a ONU, e tenta agendar reunião com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. Em 2023, a parlamentar já havia obtido visto com o gênero correto, mas o documento venceu antes da viagem marcada para este mês.

“É absurdo que o ódio que Trump nutre contra pessoas trans tenha alcançado uma deputada brasileira em missão oficial. Isso não é só sobre mim, é sobre a violação de um Estado soberano”, afirmou a deputada.

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